
Jair Bolsonaro usou a ‘Lei da Oferta e Procura’ para justificar a alta no preço dos alimentos nesta quarta-feira (16). Em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que não irá interferir nos preços que têm afetado diretamente o orçamento das famílias mais pobres do país e que irá esperar a próxima safra para que a situação seja normalizada.
Apresentando-se a Bolsonaro, um visitante disse ser da “capital do ovo”, Bastos (SP), o município que tem a maior produção de ovos do país.
“Aumentou o preço do ovo também, né?”, perguntou o presidente, sorrindo. “Mas, pô, é lei da oferta e da procura. É igual o arroz, a partir do final de dezembro começa uma colheita grande de arroz, daí normaliza o preço. Eu não posso é começar a interferir no mercado. Se interferir, o material some da prateleira, daí fica pior”, disse, aos risos.
De acordo com o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a alta dos preços têm se concentrado em itens básicos da alimentação, como arroz, feijão, carne, ovos, leite e farinha de trigo. A pesquisa também apontou que a inflação acumulada no primeiro semestre do ano é de 1,15% em domicílios com renda familiar de até R$ 1.650,50, enquanto entre as famílias com rendimento acima de R$ 16.509,66, o custo de vida ficou estável no mesmo período, com leve variação de 0,03%.
No acumulado em 12 meses, o Ipea identificou a aceleração inflacionária para todos os segmentos, com exceção da classe de renda mais alta. Nesse período, a inflação dos grupos mais pobres registrou variação positiva de 3,2%, atingindo uma taxa mais de duas vezes superior à apontada pelas famílias de maior poder aquisitivo, que ficou em 1,5%.
Mais da metade da variação total da inflação dos mais pobres em agosto (53%), veio dos alimentos e bebidas. Boa parte da alta de preços deste ano se deve a alimentos de grande consumo para as famílias, como arroz (19,2%), feijão (35,9%), leite (23%) e ovos (7,1%).
“E a Argentina?”
Para defender sua gestão, o presidente ainda atacou a vizinha Argentina, governada pelo Alberto Fernandez.
“Não vou fazer crítica à Argentina aqui, mas dá uma olhadinha como é que tá indo lá. Quem tem um amigo lá, manda enviar imagem pra você o que tá acontecendo. A opção errada na política, muitas vezes, o que pode acontecer”, insinuou.
Bolsonaro e o ‘Patriotismo’
Na semana passada, Bolsonaro já havia descartado qualquer possibilidade de “tabelar” preços por conta da alta do preço do arroz. Ele afirmou, no entanto, que procurou representantes do setor, assim como donos de mercado, para pedir que estes reduzissem os preços de produtos essenciais por “patriotismo”. Ele disse esperar que o lucro desses itens nos estabelecimentos seja “próximo de zero”.
Na live da última quinta-feira (10), o ex-capitão do Exército também repetiu que não interferiria no mercado. “Tem mais ou menos 10 anos que os rizicultores tem prejuízo no arroz. Eu posso pegar, dar canetada assim e tabelar? Está tabelado o preço do arroz: 10 centavos o quilo, pode? Não pode? Porque mexe no mercado e fica pior. Eu não vou interferir no mercado o que tem que valer é a lei da oferta e da procura”.
“Culpa é do auxílio”
Na mesma linha de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou na terça (15) que o culpado pela alta no preço do arroz é o consumo. Segundo ele, a inflação dos alimentos e da construção tem relação direta com a suposta melhoria na condição de vida proporcionada pelo auxílio emergencial, pago pelo governo a trabalhadores impactados pela pandemia do coronavírus.
“Os mais pobres estão comprando, estão indo no supermercado, estão comprando material de construção. Então, na verdade, isso é um sinal de que eles estão melhorando a condição de vida. O preço do arroz está subindo porque eles estão comprando mais – está todo mundo comprando mais”, disse o ministro, durante uma videoconferência da Telecomunicações do Brasil.