
O presidente executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, deixou em 2017 a empresa de viagens Expedia, onde em 12 anos havia quintuplicado a receita, para assumir a empresa, até então, comandada por Travis Kalanick, cujo nome se tornou sinônimo de manobras agressivas no campo dos negócios. “O conselho do meu pai foi: ‘Se uma companhia que é sinônimo de um verbo lhe oferecer um emprego, aceite’”, lembra Khosrowshahi, em um jantar com a reportagem do The New York Times.
Khosrowshahi, nos últimos anos, superou a fase conturbada de Kalanick e finalmente a empresa começou a caminhar para a lucratividade. Então veio a pandemia, e ele teve de demitir 25% da força de trabalho. Quem iria querer entrar em um carro com um estranho, ainda que tivesse para onde ir?
Khosrowshahi explicou que “não tinha tempo para se sentir deprimido ou para se lamentar”. Enquanto tentava freneticamente imaginar se a companhia, que já estava perdendo bilhões, conseguiria sobreviver ao perder, em alguns lugares, 85% dos negócios de corridas, ele teve um rápido vislumbre: o Uber Eats, braço do negócio em que havia investido dinheiro nos dois anos anteriores, apesar de muitos investidores não terem gostado.
“Quando entrei na empresa, o Uber Eats era um negócio de US$ 2,5 bilhões. Já vamos superar os US$ 50 bilhões agora. Em termos de volume, o delivery se tornará maior do que a parte de corridas, principalmente porque vamos para o mercado, para a farmácia e para todo tipo de comércio local. É um negócio maior.”
Dara Khosrowshahi
Guerra pela Uber
No livro de 2019 A Guerra pela Uber (Editora Intrínseca), o repórter do The New York Times Mike Isaac escreve que, para muitos, ainda há uma longa e persistente preocupação se o Uber sob a gestão de Dara Khosrowshahi irá inovar e se a companhia ainda sonha grande.
Khosrowshahi afirma que seu sonho principal hoje é “apertar um botão e mandar entregar um piano na sua casa em uma hora e meia”. “Continuaremos com o nosso trabalho de entregas. Em todo lugar onde você quiser ir, o que você quiser, de qualquer maneira que você queira, nós estaremos lá”, disse.
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Sob nova direção
Segundo reportagem do Estadão, no começo, Kalanick prejudicou o seu sucessor, segundo pessoas de dentro do Uber, mas Khosrowshahi foi tirando-o dos negócios aos poucos. A equipe de Kalanick não facilitou as coisas para “o cara da matemática”, como alguns o chamam, e comenta-se que o chefe não gostava muito do lema de Travis, que era: “Maior! Mais rápido!”.
“Não sei o que Travis estava fazendo. Honestamente, não gastei muito tempo tentando imaginar o que era. Comigo, ele se mostrou, em geral, prestativo. Depois saiu. Ele se separou da companhia, e acho que foi uma coisa boa a se fazer”.
Dara Khosrowshahi
O laço com o cofundador do Uber, porém, não foi totalmente rompido. “Trabalhamos com ele no Uber Eats e é muito bom”, afirma Khosrowshahi. Kalanick tem uma nova startup, a CloudKitchens, que aluga espaço comercial e o transforma em cozinhas compartilhadas para negócios de delivery.
Andrew Macdonald, vice-presidente sênior de mobilidade do Uber, que trabalhou para ambos, elogiou Khosrowshahi por ter mudado “os valores da nossa cultura e fazer a coisa certa”.
Foco em boas remunerações
Durante a pandemia, Khosrowshahi percebeu que todos os outros negócios do Uber – patinetes, bicicletas elétricas, carros autônomos, carros voadores – eram uma distração da missão principal da empresa. “Receber toda e qualquer coisa que quiser em sua casa se tornará algo maior do que jamais poderíamos imaginar”.
Há algumas semanas, Khosrowshahi foi por dois dias de bicicleta fazer entregas para a Uber Eats em São Francisco. “No começo, estava nervoso,” afirmou, acrescentando que às vezes era divertido e em outras era difícil. “Quase me atropelaram quando fui fazer entregas perto do estádio de beisebol. O jogo dos Giants estava começando, e o trânsito estava uma loucura. Estou convencido de que alguém sabia que eu torço para os Mets”.
Porém, o novo foco contrasta com uma visão antiga: mais ou menos na época do IPO da Uber, em 2019, Khosrowshahi sugeriu que a companhia poderia ser a Amazon dos transportes. Será que o sonho se apagou?
Khosrowshahi hesitou e falou que a Proposta 22, um projeto de lei na Califórnia que permite que as empresas mantenham os motoristas como empregados independentes, nunca poderia ter sido aprovada “no mais democrata dos Estados democratas” sem o apoio de muitos motoristas. Ele disse que, há cerca de um ano, decidiu focar não apenas na independência dos motoristas, mas também em boas remunerações.
Com informações do Estadão