
Um protesto indígena de mobilização nacional contra o governo de Guillermo Lasso começou, na madrugada de segunda-feira (13), lidetado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie).
As primeiras mobilizações foram confirmadas, como o bloqueio da rodovia que liga as províncias de Pastaza e Napo, localizadas na região amazônica do Equador, pela comunidade indígena Kichwa.
Apesar das ameaças de repressão do governo equatoriano, segundo a Conaie e outras organizações indígenas, é esperado que demais setores se unam à mobilização nacional, que serão “territoriais e pacíficas”.
Segundo o líder da organização, Leonidas Iza, é exigido do governo Lasso a “redução dos preços dos combustíveis, produtos agrícolas com preços justos, mais emprego e respeito aos direitos trabalhistas”.
Leonidas Iza foi preso durante a madrugada de terça-feira (14), acusado de supostamente paralisar o serviço de transporte do país durante os protestos contra o governo. A detenção deu mais fôlego às manifestações, que ingressaram no seu terceiro dia consecutivo em ao menos 11 das 24 províncias do país. Nesta quarta-feira (15), a Justiça do Equador ordenou a libertação provisória do líder indígena.
“Continuamos com a luta, não vamos tirar o direito de ninguém, esperamos apenas que nossos direitos que estão sendo violados também sejam ouvidos”, disse Iza. “Muita força, não vamos ficar desmoralizados”, completou em uma transmissão por Facebook após ser liberado.
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Iza lidera as manifestações contra o governo do presidente conservador Guillermo Lasso, convocadas por tempo indeterminado, nas quais os indígenas exigem a redução do preço dos combustíveis e a renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais com os bancos. Há três dias, bloqueiam estradas com pneus em chamas, toras e barricadas de terra e pedras — atos que o presidente chamou de “vandalismo”.
Com exceção de alguns incidentes isolados, os protestos de segunda haviam transcorrido com alguns bloqueios que não afetaram muito o funcionamento dos serviços essenciais do país, onde cerca de 25% dos 17,3 milhões de habitantes são indígenas. A prisão, contudo, intensificou os protestos na terça-feira, com viaturas policiais incendiadas, jornalistas agredidos e o uso de gás lacrimogêneo contra grupos que demandavam a libertação de Iza.
Em Quito, os manifestantes queimaram um veículo de patrulha, enquanto na região da Amazônia, forçaram a paralisação das atividades nos poços da empresa chinesa PetroOriental, que calcula perdas de 1,4 mil barris por dia. Na madrugada desta quarta, as manifestações prosseguiam nos arredores da capital, cujo acesso estava bloqueado por uma longa fila de caminhões e alguns pneus em chamas.
Conaie
Fundada ainda na década de 1980, a Conaie é a maior organização indígena do país, e uma das mais antigas e importantes do continente. Um dos marcos da luta da organização foi a insurreição indígena de 1990, contra o então presidente Rodrigo Borja Cevallos, quando se estima que mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações lideradas pela Conaie.
Sua força ficou ainda mais evidente ao longo da década e no início dos anos 2000, quando o país sofreu o retrocesso econômico mais severo da América Latina e a Conaie teve um protagonismo social importante, ajudando a derrubar diversos presidentes, como Abdalá Bucaram, em 1997; Jamil Mahuad em 2000; e Lucio Gutierrez, em 2005.
O grupo que reúne 14 povos originários liderou também, em 2019, mais de uma semana de manifestações violentas contra o governo que deixaram 11 mortos. Desta vez, propõe que os preços dos combustíveis sejam reduzidos para US$ 1,50 para o galão de 3,78 litros de diesel e US$ 2,10 para a gasolina de 85 octanos. Os indígenas também protestam contra a falta de emprego e a entrega de concessões de mineração em seus territórios. Eles exigem também o controle de preços dos produtos agrícolas.
Com informações do O Globo e Opera Mundi