
A decisão do Reino Unido de extraditar Julian Assange para os Estados Unido se tornou o mais recente capítulo da batalha judicial que o fundador do WikiLeaks enfrenta desde 2010. Na última sexta-feira (17), a ministra do Interior britânica, Priti Patel, avaliou que o envio do jornalista não seria “opressivo, injusto” ou “abusivo”.
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O jornalista é procurado nos EUA por 18 acusações de espionagem depois de divulgar documentos secretos com informações diplomáticas e de atividades militares norte-americanas. Os dados tratam do período conhecido como Guerra ao Terror, campanha militar promovida pelos Estado Unidos em resposta aos ataques de 11 de setembro.
O Clube de Imprensa Suíço realizou uma manifestação na última quarta-feira (24) para lançar o “Chamamento para libertar Julian Assange em nome da liberdade de imprensa“. Editores, repórteres e redatores da Europa e Austrália participarão por videoconferência. O ato pede às autoridades britânicas e estadunidense a liberdade “imediata” do fundador do WikiLeaks.
A advogada e esposa do jornalista, Stella Morris Assange, afirmou que não é apenas seu companheiro que está sendo perseguido, mas tudo o que ele “representa”, pela participação na divulgação de possíveis crimes de guerra dos Estados Unidos em suas invasões no Afeganistão e no Iraque.
“É por essa responsabilização [por crimes de guerra] que ele está sendo punido, por deixar o público conhecer a verdadeira face da guerra, o que está por trás dessas políticas de guerra no Oriente Médio”, destacou Stella. “Se você pode pegar alguém de tão alto perfil por publicações que são, indiscutivelmente, de enorme valor público, incluindo crimes de guerra e o assassinato de dezenas de milhares de pessoas inocentes, se você pode colocá-lo na prisão por isso, então você pode ir atrás de qualquer um”.
Com a chegada de Assange aos EUA, a Justiça estadunidense poderá iniciar o julgamento do jornalista. O australiano corre o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão.
O caso Assange
Julian Assange fundou o site WikiLeaks em 2006. A partir de 2010, o australiano começou a publicar informações confidenciais sobre os Estados Unidos. O governo estadunidense estima que foram 700 mil documentos.
O material, publicado no WikiLeaks e em outros veículos, como The Guardian e New York Times, continha dados sobre guerras do Afeganistão e do Iraque. Também relatava informações sobre o ataque aéreo a Bagdá, de julho de 2007. Parte dos documentos eram sobre abusos cometidos pelas Forças Armadas dos EUA.
Julian Assange foi preso em Londres em 2019 depois de passar sete anos abrigado na embaixada do Equador. Ele tentava evitar ser preso e extraditado para a Suécia, país onde era acusado por dois casos de estupro. O inquérito foi posteriormente arquivado.
Assange permanece na prisão de Belmarsh, em Londres até hoje.
Reação global
A chancelaria chinesa criticou duramente a decisão do Reino Unido de autorizar a extradição para os Estados Unidos de Assange. O porta-voz, Wang Wenbin, afirmou que o caso de Assange “é um espelho”.
“Reflete a hipocrisia dos EUA e do Reino Unido sobre a ‘liberdade de imprensa'”, afirmou.
Wenbin disse ainda que jornalistas são livres para expor outros países, “mas estão sujeitos a punições severas se exporem os EUA”. “Todos os olhos estão voltados para o caso Assange. Esperamos e acreditamos que a justiça prevalecerá, e que a hegemonia e o abuso de poder não durarão para sempre”, declarou o porta-voz.
Em consonância com a China, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, reinterou que o cofundador do WikiLeaks foi tratado “muito injustamente” para a vergonha do mundo inteiro. Obrador também disse que pretende pedir ao presidente dos EUA, Joe Biden, que retire as acusações contra Assange quando eles se encontrarem no próximo mês.
Zuliana Lainez, vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas, também participou do evento e afirmou que Assange está sendo alvo de uma vingança por revelar crimes de guerra.
“Não é uma vingança apenas contra Assange, é também uma vingança contra todos os jornalistas ao redor do mundo. É um ação direta para mandar um recado para jornalistas, eles não devem mostrar o que está escondido”, disse Lainez. “Não é um crime ser jornalista, não é um crime fazer jornalismo”.
Em seu relatório para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, a advogada Irene Khan destacou que o “esforço continuado” dos EUA para processar Assange “pode estabelecer um precedente para punir não apenas os denunciantes, mas também jornalistas, sem considerar se suas reportagens são de interesse público”.
Com informações do Poder360, Brasil de Fato e Carta Capital