
A chacina do Jacarezinho ganhou atenção da Suprema Corte. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin encaminhou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Luciano Oliveira Mattos de Souza, um vídeo que mostra a possível execução de uma pessoa.
A operação realizada na quinta-feira (6) terminou com 28 mortos, sendo 27 civis e um policial. A polícia disse que as vítimas eram traficantes. Moradores da região e testemunhas da ação, no entanto, afirmam que houve abusos da polícia, que teria matado inclusive pessoas desarmadas.
Inicialmente, o número de vítimas fatais informadas pela polícia era de 25, mas, nesta sexta-feira (7), a corporação afirmou que 28 pessoas tinham morrido.
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Vídeo de execução circula nas redes sociais
O vídeo, que circula nas redes sociais, diz que a ação teria sido filmada durante a operação da Polícia Civil na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. O objetivo é que seja feita uma apuração sobre o que ocorreu. Não há informações sobre a autenticidade das imagens.
Segundo Fachin, dois vídeos foram enviados a seu gabinete por e-mail pelo Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Luiza Mahin da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Um mostra a execução, e outro, corpos em macas.
Fachin é o relator de uma ação que questiona a política de segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Foi nesse processo que, no ano passado, o ministro determinou que as ações policiais nas favelas fossem suspensas durante a pandemia e só ocorressem em casos excepcionais, devendo ser informadas e acompanhadas pelo Ministério Público.
O Núcleo de Assessoria Jurídica da UFRJ argumentou que a decisão dele vem sendo deliberadamente descumprida e pediu a garantia de que as polícias do Rio respeitem a determinação. Além de ter enviado os ofícios à PGR e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Fachin também vai analisar essa petição.
Governo Cláudio Castro tem ações letais a cada 5 dias
Operações policiais com alta letalidade continuam sendo corriqueiras no Rio desde que Claudio Castro (PSC-RJ) assumiu o governo, no fim de agosto de 2020. Desde então, há uma média de uma ação com três ou mais mortos civis a cada cinco dias na região metropolitana. Para especialistas, trata-se de um sintoma grave de descontrole sobre as forças policiais do Rio.
Nem mesmo a decisão do STF de restringir as operações reduziu ações desse tipo, segundo levantamento feito pelo Uol com base em dados do Instituto Fogo Cruzado.
Sob a gestão de Castro —seja como interino ou como governador em definitivo após o impeachment de Wilson Witzel (PSC-RJ)—, ocorreram 45 operações com três ou mais mortos em um intervalo de 110 dias —média de um caso a cada cinco dias. Essas ações tiveram um saldo de 210 mortos. Segundo a metodologia do Instituto Fogo Cruzado, elas são classificadas como chacinas policiais.
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MP vai abrir investigação sobre chacina do Jacarezinho
O Ministério Público, por sua vez, informou que vai abrir investigação independente sobre os fatos ocorridos no Jacarezinho, e que está apurando “fundamentos e circunstâncias que envolvem a operação e mortes decorrentes da intervenção policial”.
O vice-presidente Hamilton Mourão justificou a operação na última sexta-feira (7) e disse que os mortos eram “todos bandidos”. A ação causou grande repercussão e recebeu críticas de entidades civis, políticos, ONGs e especialistas em segurança pública.
Com informações do jornal O Globo, DCM, Brasil 247