
O jornal britânico Financial Times repercutiu na quinta-feira (20) a luta do Partido dos Trabalhadores (PT) por apoio no cenário político do país para derrotar o atual governo, liderado por Jair Bolsonaro (sem partido). Na matéria “Brazil’s once-mighty Workers’ party struggles for support” (“O outrora poderoso partido dos trabalhadores do Brasil luta por apoio”, em tradução literal), o diário aponta que o partido enfrentará um teste nas eleições municipais a serem realizadas em novembro.
De acordo com a reportagem, depois de ser “considerado um dos movimentos políticos de esquerda mais bem-sucedidos da América Latina por sua base ideologicamente carregada e suas conquistas”, a sigla vem enfrentando dificuldades após a sua reputação ser prejudicada pelos escândalos de corrupção e o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
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O FT afirma que mesmo após a libertação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o partido vem encontrando desafios para se realocar politicamente, depois de perder setores do eleitorado “com uma guinada para a esquerda radical e foco em ressuscitar a popularidade de Lula da Silva”.
“Quando Lula saiu da prisão, as pessoas pensaram que ele poderia ressuscitar o PT, mas definitivamente não foi o caso”, disse Mario Marconini, diretor-presidente da Teneo Strategy no Brasil. “O PT está sofrendo de uma doença: não podem mandar Lula se mudar ou simplesmente esquecer Lula. Eles deveriam estar pensando em algo novo. Eles precisam de uma transformação”.

Fernando Bizzarro, cientista político do Centro David Rockefeller de Estudos Latino-Americanos, disse: “O partido deixou de ser maior do que sua liderança. Tornou-se a festa de Lula”.
“Esquerda radical”
“A questão é que o partido agora é muito mais radical do que o eleitor médio brasileiro e nem está tentando se conectar com eles”, disse Eduardo Mello, professor de política da Fundação Getúlio Vargas. “Trata-se de preocupações de grupos específicos. E isso não inspira Bolsonaro a mudar de rumo.”
Para o jornal, o partido reforçou o direcionamento à esquerda no mês passado, ao sediar um evento com os líderes de Cuba, Venezuela e Nicarágua e destacou que “os desdobramentos são importantes para a trajetória política do Brasil em razão da estrutura das eleições presidenciais”.
O jornal relata que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o partido usaria as disputas municipais para explicar “o que o partido fez pelo Brasil, principalmente na área de desenvolvimento econômico e social, e para se mostrar como um governo alternativo”.
“Embora a base de eleitores leais do PT torne provável que seu candidato preferencial chegue ao segundo turno no sistema de dois turnos, o partido parece não ter o apoio de que precisa para derrotar Bolsonaro”, diz o diário britânico.
O Financial Times expôs ainda as projeções para o país a partir de dados de uma pesquisa realizada pela revista Veja, mostrando que Bolsonaro derrotaria facilmente Lula da Silva.
“Uma pesquisa de opinião, em maio, mostrou que o PT tinha o apoio de quase 14% dos entrevistados, em comparação com 4% do PSL, de extrema direita, o segundo maior. Embora a pesquisa reflita o apoio duradouro do PT entre uma faixa da sociedade, ela também fala muito sobre as fraquezas do sistema partidário. Com exceção do PT, os partidos brasileiros têm servido como veículos para vencer as eleições ao invés de propor ideologias”.