
Um dos mais destacados militares brasileiros, comandante das tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Congo e Haiti, o general Santos Cruz é uma das principais referências nas Forças Armadas nas últimas décadas. Órfão dos pais pobres antes dos oito anos, foi criado por parentes até entrar nas escolas infantis do Exército e chegar ao topo da carreira como 4 estrelas.
Santos Cruz acorda cedo. Ao ler na segunda-feira (18) na mídia as declarações do presidente Bolsonaro de que “quem decide se um povo vai viver em uma democracia ou em uma ditadura são suas Forças Armadas”, o velho combatente e estrategista não teve dúvidas e desabafou: “é uma idiotice”.
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Depois do café, o general declarou ao site Congresso em Foco: “Isso aí é um devaneio completo. Falta de responsabilidade total, não tem cabimento querer envolver Forças Armadas em aventura política pessoal”. E completou: “Isso não é estratégia nenhuma, idiotice não é estratégia. Você não pode classificar como estratégia um negócio sem pé nem cabeça”.

Palavra de quem conhece bem Bolsonaro
O general conhece bem de quem fala. Foi secretário Nacional de Segurança Pública e ministro-chefe da Secretaria de Governo de janeiro a junho de 2019. Só suportou um semestre como ministro de Bolsonaro. Saiu indignado e é general da reserva porque não concordou com o financiamento de blogs e sites bolsonaristas pelo setor de comunicação do governo para a difusão de fake news.
Sobre as insinuações do presidente considerando que as Forças Armadas fazem uma concessão ao respeitar a democracia brasileira, Santos Cruz declarou:
“Só posso dizer que isso é covardia com a população e com as Forças Armadas, que trabalham e se dedicam às suas atividades, à defesa do Brasil e em auxílio à população em todos os momentos de necessidade, sempre dentro da lei”, disse, ressaltando que fala apenas em seu próprio nome.
Para Santos Cruz, com essa afirmação a seus apoiadores, Bolsonaro procura novamente forçar a politização indevida dos militares: “Isso é mais uma tentativa de enganar a população e arrastar as Forças Armadas para o centro de discussões políticas. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar”.
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Da forma como trata a pandemia do coronavírus e qualquer outra situação política ou administrativa, Santos Cruz duvida da saúde mental do presidente.