
As terapias psicodélicas receberam esta semana um sinal verde vindo direto da costa-oeste estadunidense. Mais exatamente de Oregon, estado ao norte da Califórnia. Após um plebiscito realizado na terça-feira (3), junto com a eleição presidencial, o estado se tornou o primeiro a legalizar a fabricação e o uso terapêutico da psilocibina, princípio ativo dos chamados cogumelos mágicos, ou psicodélicos.
Embora a decisão seja local, especialistas acreditam que estudos com a substância sejam impactados em outros países. Por exemplo, no Brasil.
Vale chamar a atenção que das urnas em Oregon veio ainda uma pancada na política proibicionista conhecida como “War on Drugs” (guerra às drogas) campanha lançada na década de 1970, ainda no governo de Richard Nixon. Substâncias como cocaína, heroína e metanfetamina foram descriminalizadas. Outros estados também reduzirem as restrições às drogas recreativas.
Reação tupiniquim
Por aqui, no meio científico, a notícia provocou reações diversas entre pesquisadores e especialistas ouvidos pela reportagem de Ecoa. O psicólogo Fernando Beserra, cofundador da Associação Psicodélica do Brasil, vê com otimismo o referendo americano.
Segundo ele, deve acelerar internacionalmente as pesquisas com psilocibina e as expectativas com a criação de centros de psicoterapia aliada ao uso da substância. “Embora ainda seja uma política isolada, internacionalmente, indica cada vez mais alguns caminhos que devem ser ampliados no futuro breve.”
“Os usos, no Oregon, ocorrerão em um centro [terapêutico] com profissionais que atuarão como facilitadores durante as sessões”, explica o psicólogo. “Não foi legalizado o uso social de psilocibina, mas se criou uma política híbrida, que não é simplesmente saúde, mas também não se confunde com o uso recreativo mais amplo dos cogumelos. É animador poder ver o que ocorrerá por lá.”
Da ala mais cautelosa, o neurocientista Eduardo Schenberg, diretor do Instituto Phaneros, mostrou-se ainda um pouco cético. “Não entendo como o uso terapêutico [de um psicodélico] é decidido por voto.”
Pesquisa
O pesquisador ressaltou que o caminho deve ser por meio de pesquisas científicas e no caso dos Estados Unidos com a autorização do FDA (agência reguladora de medicamentos).
“Tampouco entendo porque estão chamando isso de legalização dos cogumelos”, indaga o neurocientista, responsável pelo primeiro estudo no Brasil com MDMA (ecstasy) para TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).
O aparente ceticismo em relação a Oregon não se aplica ao potencial terapêutico dos cogumelos psicodélicos. O pesquisador confirmou que pretende em breve iniciar uma pesquisa com psilocibina para tratamento de depressão. Há alguns anos ele obteve autorização para importar a substância e iniciar os estudos. Mas faltam ainda os recursos financeiros.
Com informações do UOL