
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, neste domingo (12) o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admitiu que a postura do presidente Jair Bolsonaro de contrariar as orientações de isolamento para deter a contaminação pelo coronavírus tem deixado a população confusa. ‘Brasileiro não sabe se escuta o ministro ou o presidente’, disse o chefe da pasta, após quase ter deixado o cargo, na semana passada.
Sem citar os boicotes feitos pelo presidente, Mandetta afirmou que a contrariedade de Bolsonaro em seguir as recomendações ‘preocupa’ e que o país ainda viverá “dias duros” entre maio e junho.
Depois do Brasil ultrapassar os mais de mil mortos pela doença durante o feriado da Páscoa, o ministro confessou que os números seguem subestimados, mas que sabia que o país alcançaria a primeira quinzena de abril com esses números.
“A gente imagina que os meses de maio e junho serão os sessenta dias mais duros para as cidades. A gente tem diferentes realidades. Nós somos o próprio continente. Sabemos que serão dias duros. Seja conosco ou qualquer outra pessoa. Maio, junho, em algumas regiões julho, nós teremos dias muito duros”, comentou.
Críticas
Discreto, ele também disse esperar críticas ao seu trabalho quando a crise passar. “Serão dois a três meses de muito, muito questionamento das práticas de todos. E obviamente que o Ministério da Saúde vai ser o ministério mais questionado”.
Sobre o possível colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), Mandetta afirmou que já espera questionamentos sobre os impactos da pandemia e que não teme o que chamou de “engenheiros de obras prontas”.
“Nós seremos taxados de ‘olha, vocês não fizeram o que tinham que fazer, por isso o sistema está entrando em colapso. Olha, vocês deveriam ter sido mais duros, menos duros, porque a economia está assim, está assado’. Sempre haverá engenheiros de obra pronta. Pessoas que depois que você trabalha, que faz o possível e o impossível para enfrentar a situação, que depois da situação passada fala ‘ah não, mas isso deveria ter sido feito assim ou assado’, apontou.
Comportamento da população
À Globo, o chefe da Saúde voltou a reiterar que o comportamento da sociedade determinará o saldo final que o Brasil terá de enfrentar com o fim do surto e afirmou que não descarta regras mais rígidas para a população. “Não existe absolutamente nada que influencie mais essa resposta do que como que a sociedade brasileira vai se comportar no próximo mês e dias”.
“Nós não experimentamos no Brasil até agora o lockdown, o fechamento total. Nós estamos com diminuição social, importante, chegamos a ter uma diminuição expressiva, relaxamos, estamos em torno de 50%, 55%. Chegamos a ter 70%”.
Fake news
Ele ainda citou a interferência das fake news no comportamento das pessoas e o aumento do percentual de pessoas que voltaram a circular pelas ruas nos últimos dias.
“Tem muita gente que gosta da internet, que vê na internet alguma fake news dizendo que isso é uma invenção de países para ganharem vantagem econômica. Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada”.
Controle da Covid-19
Mandetta afirmou que embora o país não tenha capacidade para testes em massa em toda a população, o ministério decidiu priorizar a checagem dos profissionais que atuam na linha de frente.
“Com esses exames que nós fazemos, a gente tem modelos estatísticos, modelos matemáticos que nos permitem dimensionar, qual é o ritmo, para onde está indo, em que bairro está, em que cidade está, se está se deslocando, para qual faixa etária, se está internando quem, qual é a capacidade instalada.