
O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), criticou o atual governador do estado João Dória (PSDB). O motivo é o desmembramento Centro de Contingência do Coronavírus, anunciado esta semana por Dória. Além disso, o tucano também fez uma manobra para garantir a contratação de Tomás Covas, filho do ex-prefeito da capital paulista, Bruno Covas. Tomás se filiou esta semana ao PSDB.
O médico infectologista Marcos Boulos disse hoje, em entrevista ao UOL News, que o governo de São Paulo estava “ignorando” a opinião médica dos membros do Centro de Contingência do Coronavírus.
Comitê ‘incomodava’ Dória
Ex-membro do comitê, Boulos declarou que o centro estava “incomodando o governador” por indicar ações contrárias às flexibilizações anunciadas pelo político para o estado.
Criado em março de 2020, o comitê era formado por 21 médicos e agora deverá ficar com nove membros. O grupo de médicos auxilia na gestão das decisões sobre o combate à pandemia.
“Nós estamos em um momento em que com a liberação acontecendo, com as práticas, inclusive, dos lobbies de tentar fazer a parte econômica retornar em um momento ainda muito ruim fez com que o governo visse menos o Centro de Contingência. Isso estava causando uma relação desconfortável”, disse.
Marcos Boulos explicou que com a reabertura das atividades econômicas na cidade anunciada pelo governador recentemente, muitas decisões estavam sendo tomadas sem passar pela análise do comitê, do qual o infectologista fazia parte.
O ex-membro do comitê declarou que o centro estava “incomodando o governador” por indicar ações contrárias às flexibilizações anunciadas pelo político. O médico disse acreditar que Doria deve estar cercado, neste momento, por pessoas que vão ao encontro de suas últimas decisões de reabertura no estado.
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Doria confirma influência
O governador confirmou esta semana que ajudou a montar a nova configuração do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo. Inicialmente, na segunda-feira (16), a Secretaria de Saúde havia afirmado que a escolha dos membros cabia aos participantes, mas ex-integrantes já vinham sinalizando ao UOL que havia influência do governo. Em coletiva, Doria confirmou ter dado sugestões, por falta de consenso no comitê.
“Dei a opção a eles de escolherem, até pra que ficasse bem claro que não houvesse preferência do estado de SP por este ou por aquele, por esta ou por aquela. Eles preferiram delegar de volta ao governo de SP para que se tomasse a decisão”, justificou Doria, que sempre destacou o tom independente do grupo. Obviamente, no vácuo a gente não fica; em cima do muro, também não. Sendo assim, fizemos a indicação dos nomes com a ajuda do Paulo Menezes e do João Gabbardo.”João Doria, governador de São Paulo.
Agora, o grupo deverá ser chamado de Comitê Científico e será formado por João Gabbardo, Paulo Menezes, David Uip, José Medina, Geraldo Reple, Carlos Carvalho e Luiz Carlos Pereira, Eloísa Bonfá e Esper Kallás, que já compunham o Centro de Contingência. Menezes e Gabbardo seguem na coordenação.
Jeitinho para contratar filho de Covas
Com admissões suspensas por decreto desde janeiro, o jovem trabalhará junto ao Palácio dos Bandeirantes por meio da parceria com uma ONG (organização não governamental). Datas e tarefas ainda não estão claras.
Porém, de acordo com um decreto elaborado pelo próprio Doria, em janeiro, a contratação de estagiários está suspensa até dezembro. E, apesar de o governador ter indicado o início no programa no último dia 10, o nome do jovem não aparece na Imprensa Oficial. A ONG Comunitas confirmou negociação, mas não especificou início.
Márcio França criticou o ‘truque’ de Covas para garantir a contratação de Tomás.
Tomás Covas foi anunciado por Doria como estagiário do governo de São Paulo no último dia 9, quando completou 16 anos. “O João me chamou para fazer um estágio aqui no estado, com ele. Acho que vai ser bem bacana”, disse o jovem, abraçado ao governador, em vídeo publicado nas redes sociais.
“Aqui, Tomás começa amanhã [10] o programa de estágio do governo de São Paulo, em várias áreas, para que ele possa, também, ter a sensibilidade ampliada pelo conhecimento”, completou Doria, sem especificar as atividades.
O decreto que impede contratações segue vigente, o que impossibilitaria a admissão de Covas pelo governo. O UOL também não encontrou qualquer nomeação ou contratação do jovem na Imprensa Oficial. Procurado, o governo de São Paulo esclareceu, então, que Tomás não trabalhará diretamente para o governo, mas em parceira, e, ao contrário do previsto, o estágio ainda nem começou.
‘Futuro do PSDB’
O anúncio foi feito na mesma semana em que Tomás se filiou ao PSDB, partido do pai, morto em maio, e do bisavô, o ex-governador Mario Covas. Em evento lotado na última quarta (19), o jovem foi recebido por diversas autoridades do partido, de vereadores a senador, com a presença de Doria e do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que também se lançaram pré-candidatos à Presidência e ao governo estadual, respectivamente.
Tomás já apareceu mais de uma vez nas redes sociais de Doria e tem sido envolvido cada vez mais nas atividades do partido. Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB, disse que o levou pessoalmente para tirar o título de eleitor no último final de semana, após completar 16 anos. No evento, entre histórias e homenagens ao seu pai, ele foi saudado pelas lideranças como “o futuro do PSDB”.
Com informações do Uol