“Não é possível mudar o mundo sem corrigir erros”, diz Leonelli em lançamento de novo livro

Livro Domingos Leonelli — (Foto: Reprodução)

A história da redemocratização brasileira e a trajetória percorrida pelos partidos políticos que se manifestaram a favor deste momento da história nacional foram os motes que desencadearam a narrativa do livro ‘O sentido perdido da revolução – uma autocrítica não autorizada da esquerda brasileira’, escrito por Domingos Leonelli, lançado na noite desta quinta-feira (24).

O evento online, transmitido em uma edição especial do jornal da Revista Fórum, reuniu o autor da publicação, o ex-deputado federal e presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli; o líder do PSB na Câmara, deputado federal Alessandro Molon (RJ); o ex-deputado federal Jean Wyllys; e os jornalistas Renato Rovai e Cynara Menezes, moderadora do diálogo.

“O livro deriva de uma certa ‘anamnese’, que fiz com o Dante [deputado federal Dante de Oliveira, então filiado ao PMDB-MT, proponente da Emenda à Constituição nº 5 de 1983, que restabeleceu o voto direto para a Presidência e a Vice-presidência da República] sobre o período. Quando começamos a fazer a pesquisa, descobrimos muitas coisas que nós vivemos, mas não sabíamos”, contou Leonelli.

Detalhando sua obra, ele também citou fatores sociopolíticos da realidade brasileira — como o crescimento da força da direita e de ideologias antiquadas —, que o direcionaram para a necessidade de realizar uma análise a formulação de uma autocrítica sobre os espectros da esquerda nacional.

“O livro é uma manifestação, uma tentativa de retomar o sentido da revolução que foi lamentavelmente perdido, não só no governo PT [Partido dos Trabalhadores], mas nos governos de esquerda do mundo, que propiciaram o ressurgimento desta atual extrema direita. Um movimento que é contra revolucionário. É preciso que nós todos reconheçamos os erros para direcionarmos a trajetória da esquerda no país”, detalhou.

Responsável pelo prefácio, o jornalista e hoje exilado deputado federal Jean Wyllys, narrou a experiência diante do texto. “Foi muito interessante prefaciar este livro, recobrar o espírito do socialismo descrito pelo Leonelli, o espectro que ronda essa corrente e que ronda este livro, no melhor sentido, do sentimento da solidariedade”, disse o professor e jornalista.

Para Wyllys, é preciso que o Brasil abandone a falsa ideia de que vive sob uma realidade democrática atualmente para conseguir repensar soluções viáveis para o país. Em sua fala, o ex-deputado ressaltou a dificuldade da esquerda nacional de estabelecer união e diálogo, mesmo diante de um cenário fragilizado e instável da política nacional. “As esquerdas do Brasil precisam, rapidamente, de atenção e um sentido de urgência”, destacou.

Manifesto da História

Com o olhar de outra perspectiva, o jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum, afirmou que o livro de Leonelli é um manifesto da história brasileira. “Em geral, as pessoas ficam bravas quando definem um livro como panfleto. Mas o Leonelli foi no sentido contrário. Mesmo assim, eu digo que não se trata de um livro panfletário. É uma forma de enxergar a política com este sentido de revolução, como um processo, com o cumprimento de etapas, como uma coisa que se constrói a partir de muitas revoluções”, declarou.

Em resposta, Leonelli reiterou que “as revoluções são processos de transformação e é o que a esquerda brasileira, com o tempo, esqueceu da sua necessidade”. Segundo o autor, “não é possível mudar o mundo sem corrigir os erros que cometemos”.

Enfrentar erros para conduzir o futuro

Ainda durante a transmissão, Alessando Molon também levantou outras linhas de pensamentos sobre a atuação do governo de Jair Bolsonaro e a sua busca por “naturalizar” seus ataques contra o funcionalismo político e a democracia. Além disso, o congressista buscou identificar as falhas estruturais da esquerda que “auxiliaram”, mesmo indiretamente, para que o Brasil chegasse ao cenário atual.

“Hoje estou mais preocupado do que estava há quatro meses. Estou preocupado com a normalização dos atos do presidente e do que isso representa, incluindo o risco que a reeleição pode representar. Ou a gente tem coragem de encarar onde foi que nós erramos ou não vai ser possível enfrentarmos este momento na história do país. Isso [o surgimento da extrema direita] não aconteceu em todos os países do mundo e nem na maioria deles. Há erros próprios, comportamentos próprios que fizeram com que essa política se sobressaísse no país”, analisou.