
Não foi desta vez que o prêmio Nobel da Paz chegou ao Brasil. Apesar dos esforços para que o cacique kayapó Raoni Metuktire, 90 anos, fosse reconhecido pela luta em prol dos indígenas e das floresta, o Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), que combate a fome no mundo, foi anunciado como o ganhador da honraria na manhã desta sexta-feira (9).
A campanha em favor de Raoni ganhou reforço nas últimas semanas com uma mobilização internacional. Uma petição, aberta na plataforma Change.org pela Fundação Darcy Ribeiro, reuniu assinaturas em quatro países: Brasil, França, Alemanha e Estados Unidos. Cerca de 70 mil pessoas se juntaram ao abaixo-assinado em apoio ao nome do líder indígena. Esta é a segunda vez seguida que Raoni é indicado ao prêmio.
Segundo a Academia Sueca, o programa se tornou vencedor “pelos seus esforços para combater a fome, pela sua contribuição para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito”.
A organização atua em situações de emergência e em países afetados por conflitos, onde há mais risco de desnutrição. O porta-voz do Programa Mundial de Alimentos, Tomson Phiri, disse que o prêmio para a agência “é um momento de orgulho”. Ele participava de um encontro semanal na sede das Nações Unidas em Genebra quando foi surpreendido com o anúncio do Nobel.
No anúncio feito pelo comitê norueguês do Nobel, os organizadores afirmaram que o programa já seria um merecedor do prêmio sem a pandemia, mas com a Covid-19 os motivos ficaram mais evidentes: a comida está menos disponível. Nesse cenário, “o programa da ONU demonstrou uma habilidade impressionante de intensificar seus esforços”, afirmou o comitê.
O diretor do escritório brasileiro do programa, Daniel Balaban, disse que o anúncio foi “uma surpresa completa” e defendeu o trabalho contínuo desta agência das Nações Unidas. Ele reforçou a importância do combate à fome para a redução dos conflitos. “A desigualdade leva à desesperança”, disse Balaban. “O WFP é fundamental. E se ele parasse agora, muito gente morreria de fome.”
Milhões de pessoas em 88 países
O órgão ligado à ONU tem sede em Roma e é a maior entidade que combate os problemas de fome e promove segurança alimentar no mundo – a cada ano, o Programa de Alimentos deu auxílio a cerca de 97 milhões de pessoas, em 88 países, de acordo com sua página na internet.
A projeção feita pelo Programa é que em um ano pode haver até 265 milhões de pessoas ameaçadas pela falta de comida, disse Reiss-Andersen. “Isso [a premiação] também é um apelo à comunidade internacional para não deixar o Programa Mundial de Alimentos sem fundos”, afirmou ela.
“Agradecemos ao comitê do prêmio por honrar o Programa Mundial de Alimentos com o Nobel da Paz 2020. Esse é um lembrete poderoso para o mundo de que a paz e o combate à fome caminham lado a lado”, afirmou o Programa em sua conta em uma rede social.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu, celebrou o prêmio para o programa. Em uma rede social, Dongyu agradeceu a comunidade internacional pelo reconhecimento da importância da segurança alimentar.
“Temos muito orgulho de ter trabalhado com o Programa, fundado em 1961 como uma subsidiária da FAO para a assistência alimentar, e vem trabalhando há décadas para acabar com a fome”, escreveu Dongyu.
O vencedor do Nobel é decidido por um comitê eleito pelo parlamento da Noruega.
Vencedores do Nobel de outros anos
Outras 134 pessoas ou instituições já receberam esse prêmio no passado. Em 2019, o vencedor foi Abiy Ahmed, o primeiro-ministro da Etiópia. No ano anterior, Denis Mukwege, um congolês, e Nadia Murad, uma iraquiana ganharam o Nobel da Paz (os dois são militantes que combatem o fim da violência sexual em guerras e conflitos armados).
Juan Manuel Santos, o ex-presidente da Colômbia, foi o último latino-americano que levou o prêmio.
Com informações do G1