
Velho conhecido dos brasileiros, o mercado de desmontagem de veículos transita entre a formalidade e a ilegalidade no país. Os chamados ‘desmanches’, muito presentes nas páginas policiais por envolverem atividades criminosas, dão lugar às startups que atuam no processo de descarte e desmonte de carros.
Focadas em gerar uma maior rentabilidade, essas startups usam sistemas de rastreabilidade de peças e na introdução de práticas ambientais. O processo começa com a separação individual e separação para que tenham o destino adequado, principalmente itens como ar condicionado, airbag e eletrônicos, em geral.
Visionárias, estão de olho no futuro porque quando a frota de carros elétricos for maior o desmanche será uma atividade ainda mais rentável.
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Atualmente, essas startups retiram itens como líquidos, pneus, baterias, estofamentos e catalisadores e enviam o restante para as usinas triturarem. Em seguida, o aço fica na siderúrgica para ser derretido e voltar ao mercado. O que sobra, como plásticos e borrachas são vendidos para as indústrias desses setores. Antes, todo esse material seguia para lixões.
Em matéria publicada no Estadão, o sócio fundador de uma dessas startups, a Green Way for Automotive (GWA), Wladi Freitas, afirma que trata-se de um processo de logística reverso e economia circular em que é possível prensar e triturar quase o carro inteiro. A empresa de Gravataí, no Rio Grande do Sul, ainda opera em fase de testes.
Estimativas das empresas de reciclagem mostram que cerca de 500 mil carros são desmontados por ano no Brasil. O que resulta em um faturamento de aproximadamente R$ 4 bilhões.
Enquanto isso, pelo menos 2 milhões de veículos, entre carros, ônibus, caminhões e motos, são estocados em pátios de órgãos de trânsito, seguradoras ou áreas privadas. A maior parte permanece nesses espaços até passarem por corrosão, oxidação e vazamento de líquidos, causando impactos ambientais.

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Criador da startup Octa, o empresário Arthur Rufino, faz a intermediação entre empresas com frotas de carros inutilizados e recicladoras. Desde setembro do ano passado já intermediou cerca de R$ 2 milhões em transações.
“Se a gente aproveitasse o potencial de reciclagem como fazem Estados Unidos, Japão e países da Europa, esse mercado seria muito maior no Brasil”, afirma.
A Gerdau, por exemplo, empresa brasileira de aço, reciclou entre 2018 e 2021, mais de 40 mil toneladas de sucata de veículos, o que equivale a 50 mil carros.
Até 2030, a GWA tem a estimativa de reciclar cerca de 100 mil toneladas de resíduos automotivos, com um reaproveitamento de 85% das partes e peças dos veículos. Até agora, foram investidos R$ 750 mil no projeto e
As projeções da GWA são de, até 2030, descontaminar e reciclar 100 mil toneladas de resíduos automotivos e reaproveitar até 85% das partes e peças dos veículos.
Reciclagem de aço gera 5 milhões de postos de trabalho
Em 2021, foram recicladas cerca de 11,5 milhões de toneladas de ferro e aço no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional das Empresas de Sucata Ferro e Aço (Inesfa). O processo envolve cerca de 5 milhões de pessoas, de acordo com a entidade.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tenta há mais de 20 anos criar um programa de renovação de frota junto ao governo para subsidiar a troca de veículos velhos por outros mais novos. O objetivo é desenvolver projetos de reciclagem.
Em 1998, as quatro maiores montadoras do período – Fiat, Ford, GM e Volkswagen – montaram uma parceria com a Belgo Mineira, que era um centro de desmontagem de veículos para testar o processo, mas não foi para frente.
Por enquanto, a desmontagem de veículos fica sem solução. Hoje a Anfavea e o Ministério da Economia tem um projeto de renovação de frotas de caminhões.