Em reportagem especial para o Jornal do Comercio RS, Higino Barros mostra o novo cenário das artes visuais no Rio Grande do Sul – “Eu já estou com o pé nessa estrada/ Qualquer dia a gente se vê/ Sei que nada será como antes amanhã”. Os versos da música Nada será como antes, de Milton Nascimento e Fernando Brant, soam como previsão e certeza em um dos setores culturais mais atingidos pelos efeitos da crise do novo coronavírus: o das artes visuais.

Dependente de exposições e, acima de tudo, de público formado por compradores e consumidores de arte, o cenário das artes visuais terá que se reinventar sem a aglomeração de pessoas.
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O segmento no Rio Grande do Sul dá sustento a artistas, curadores, gestores de espaços culturais e um grande número de prestadores de serviços. Para esta reportagem, o JC entrevistou 32 artistas e oito curadores e gestores de espaços culturais, nomes consagrados ou emergentes no mundo das artes. A crença em mudanças é unânime e a expectativa é que a recuperação vai demorar – ninguém se atreve a prever quando ocorrerá a volta à normalidade, dependerá de vacina contra a Covid-19.
Enquanto isso, espaços públicos e privados de artes visuais ficaram fechados no Rio Grande do Sul – muitos seguem assim. Esse cenário está completando sete meses e agora vê os primeiros sinais de reabertura.
Depois de meio ano fechada, a Fundação Iberê reabriu as portas no dia 19 de setembro para uma mostra com presença de público controlada, 15 pessoas por grupo. A instituição adotou protocolos sanitários, reorganizou horários de visita, limitou o acesso e passou a cobrar ingresso do público, menos para profissionais da área de saúde.
A reabertura parcial do museu, com a exposição inédita O fio de Ariadne foi bem-sucedida. Com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, a mostra engloba 37 tapeçarias e sete cerâmicas criadas por Iberê Camargo. As obras são de grandes dimensões, não expostas há 40 anos, e estão espalhadas em coleções públicas e particulares de Lisboa, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
A combinação de exposição virtual e presencial, com controle de público, ao longo dos últimos seis meses, tem sido a alternativa para algumas galerias da Capital, como Bublitz, Bolsa de Arte e Gravura.
Cenário das artes
A Bublitz Galeria de Artes foi a primeira de grande porte que voltou com público presencial, no início de setembro. O proprietário, Nicholas Bublitz, considera a experiência desafiadora.
“Sabíamos que o mundo seria cada vez mais virtual, o futuro foi antecipado com a pandemia e precisamos nos reinventar.”
Ele vê desvantagens no novo cenário.
“Somente no ano passado, fizemos 35 eventos, exposições, palestras e leilões de arte presencial em várias cidades do Rio Grande do Sul, e nas cidades de Florianópolis e São Paulo. Vantagens, não há nenhuma”, exclama.
Nicholas projeta um novo mundo no pós-pandemia: “O mercado será mais e mais virtual, por esta razão lançamos a primeira galeria virtual em 3D com realidade aumentada do Brasil.” Segundo ele, há procura no virtual, “mas o presencial continua muito importante na hora do fechamento da venda”.
A galeria Bolsa de Arte foi outra a reabrir portas para exposição presencial, com controle de acesso do público. Em 3 de outubro, o artista Gelson Radaelli, com curadoria de Eduardo Veras, inaugurou a mostra de pinturas No espelho não sou eu. A mostra vai até 24 de novembro.
Já a Gravura Galeria levou para o espaço do Hotel Radisson a exposição coletiva Check-in com Arte, que fica no local até fevereiro de 2021. A galeria mantém essa exposição de forma virtual também.
Nessa transição, em formato híbrido, artistas veteranos e novos convivem com a nova realidade do mundo virtual nas artes. Em meio a dúvidas sobre o futuro, essa é uma das poucas certezas: exibições artísticas virtuais vieram para ficar. E já foram integradas ao cotidiano tanto de nomes consagrados, como Zoravia Bettiol e Britto Velho, quanto da geração sem tanta visibilidade.
Os jovens artistas têm visão otimista: acreditam que o isolamento social fez as pessoas recorrerem mais à arte como forma de preencher o tempo, necessidades de comunicação, expressão e outras carências da quarentena. Tendência ou não, o certo é que nada será como antes no cenário das artes visuais tanto no Rio Grande do Sul quando mundo afora.
Leia a íntegra Jornal do Comercio