
Extremistas alemães estão buscando no Paraguai o refúgio para disseminar suas teorias da conspiração e discursos de ódio. Munidos de fakes news e de uma agenda que vai da anti-vacina ao antissemitismo, muitos imigrantes também se posicionam contra a migração. Evidentemente, são contra a chegada de estrangeiros apenas em seu país de origem.
A Alemanha se tornou o terceiro país com maior população expatriada no Paraguai durante a pandemia. Fica atrás apenas do Brasil e da Argentina.
De acordo com o El País, foram mais de 1,6 mil alemães concluíram os trâmites legais para fincar raízes no país latino-americano, em 2021. Oficialmente, são 7,7 mil alemães em território paraguaio.
Número que pode ser bem maior. A embaixada alemã no país estima que sejam entre 22 mil e 30 mil expatriados no Paraguai. Em artigo publicado no jornal ABC Color, do país vizinho, o cônsul alemão Frank Gauls afirmou que dos 7 milhões de habitantes do país, até 300 mil são de origem alemã.
Para ele, muitos resolver migrar porque “não concordam com a política da pandemia na Alemanha ou na Europa e acham que no Paraguai é mais fácil, talvez sem tantas restrições”.
Um documentário do canal alemão Y-Kollektiv mostrou que Angelo desembarcou com esposa, filhos e sogra sem nunca terem pisado na América Latina.
Estavam “cansados da mentalidade quadrada” dos seus conterrâneos. Somado a isso, temem a violência em seu país. Mais que isso, querem distância dos refugiados.
No documentário, relataram que, em 2018, um refugiado com problemas psiquiátricos foi apontado como autor de um crime na cidade natal da família.
No entanto, dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de homicídios no Paraguai é 24 vezes maior do que na Alemanha. São 6,7 mortes a cada 10.000 habitantes, contra 0,8 no caso dos germânicos, segundo os dados de 2020.
Em 21 de março, 17 alemães sem vacina contra a covid-19 – sendo 12 menores de idade -, foram detidos ao desembarcarem em solo paraguaio.
Desde 12 janeiro, o país só permite a entrada de estrangeiros imunizados contra a doença. O caso causou comoção nas redes sociais tanto por quem pedia a permanência da família como os que pediam o cumprimento das regras. 12 horas depois de chegar, a família teve de deixar o país.
Ao El País, a mulher do motorista que aguardava a família contou que o objetivo deles era comprar um terreno no interior do país.
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‘Deus falou’
À Deutsche Welle, Witali Fuchs contou que chegou ao país para morar na colônia alemã Hohenau, na região sul do Paraguai, em 2016.
“Procurei o Paraguai no mapa e Deus falou: chegará a hora e você estará lá. Tive a revelação de que esses tempos chegariam”, disse Fuchs, que fundou sua própria igreja.
A migração alemã também está tornando impraticável que os próprios paraguaios consigam comprar imóveis.
Um dos destinos em que os preços inflaram é justamente Hohenau, além de Villa Rica, Obligado, Bella Vista ou Colonia Independencia.
Nesses locais, os alemães chegaram há mais de 100 anos e conseguiram fazer com que sua língua predominasse ante o espanhol e o guarani, as línguas oficiais do país.
Histórico da extrema-direita no Paraguai
O Paraguai é governado há décadas pela direita ultraconservadora. O presidente atual é da Asociación Nacional Republicana, mais conhecida como Partido Colorado, um partido político paraguaio de tendência conservadora e nacionalista.
Salvo pelo período de 1904 a 1946 e desde a sua fundação até 2008, foi o partido do governo no Paraguai. Entre 1947 e 1963, foi o único partido legal e, portanto, única organização que podia apresentar candidatos em qualquer processo eleitoral.
Antes disso, o alemão Bernhard Förster, marido de Elisabeth Friedrich, irmã do filósofo Friedrich, fundou a aldeia Nueva Germania no Paraguai, em 1886.
O objetivo era transformar o local em uma espécie de refúgio da “raça ariana”. Ante o fracasso do empreendimento, Förster se suicidou três anos depois.
Com informações da Veja, O Globo e DW