
A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), braço da Organização das Nações Unidas (ONU), alertou que a pandemia da Covid-19 deve gerar um retrocesso de mais de uma década nas conquistas relacionadas à participação feminina no mercado de trabalho. A análise integra o Relatório Especial Covid-19 nº 9 – A autonomia econômica das mulheres na recuperação sustentável e com igualdade, no qual a entidade analisa os impactos gerados pela pandemia do coronavírus nas ocupações e condições de trabalho das mulheres da América Latina e Caribe.
O documento aponta que 46% das mulheres da região possuíam ocupação remunerada no último ano. Em 2019, a taxa era de 52%. De acordo com a Cepal, a América Latina vinha sendo a região que mais aumentou a porcentagem de mulheres ocupadas nos últimos 30 anos, com crescimento de 11 pontos. Porém, a pandemia provocou um movimento contundente de saída de mulheres de seus empregos para atender demandas domésticas não-remuneradas, incluindo cuidado com os filhos, preparo de refeições e limpeza.
Na coletiva de imprensa de apresentação do relatório, Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal, chamou a atenção para dados sobre mulheres latinas e caribenhas em situação de pobreza. Citando números da Comissão Regional das Nações Unidas, ela afirmou que a entidade estima um total de 118 milhões de mulheres nesta situação, 23 milhões a mais que em 2019.
“Os efeitos econômicos e sociais da pandemia devem ter um impacto significativo na autonomia das mulheres. Tal impacto tem efeitos inclusive sobre a vulnerabilidade delas à violência doméstica”, afirma.
Estratégias para contornar pandemia
Outro ponto de destaque no estudo são as profissionais que realizam trabalhos domésticos remunerados, impossíveis de serem realizados remotamente. Este setor foi mais afetados pela pandemia em razão das medidas de distanciamento. Se, em 2019, 13 milhões de pessoas ocupavam funções desta natureza, a partir de abril de 2020 a queda no setor foi vertiginosa. No Brasil, 24,7% destes trabalhadores perderam o emprego. No Chile, maior percentual da região, foram 46,3%. Na Costa Rica, 45,5% e, na Colômbia, 44,4%.
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Como estratégia para acelerar a saída da crise, Bárcena destacou a importância de estratégias de vacinação que priorizem profissionais de saúde, incluindo trabalhadores dos setores de limpeza, transporte e cuidado. Além disso, defendeu a priorização de trabalhadores da educação e dos serviços domésticos remunerados.
A América Latina e o Caribe devem investir na economia do cuidado e reconhecê-la como um setor dinamizador da recuperação, com efeitos multiplicadores no bem-estar, na redistribuição do tempo e da renda, na participação no trabalho, no crescimento e na arrecadação tributária”, comentou a secretaria-executiva.
Reforçar as políticas de geração de emprego e renda, sem deixar de lado as medidas emergenciais de manutenção do sustento, também é o caminho mais seguro de atenção à população feminina latina e caribenha, segundo o órgão.
É fundamental avançar em um novo pacto fiscal que promova a igualdade de gênero e que evite o aprofundamento dos níveis de pobreza das mulheres, a sobrecarga de trabalho não remunerado e a redução do financiamento de políticas de igualdade”, alertou.