
Socialistas reagiram ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à nação nesta quarta-feira (2). A cúpula da CPI da Pandemia do Senado também divulgou uma nota com críticas à fala do chefe do Executivo. Brasil afora foram realizados panelaços durante a fala do mandatário.
A principal novidade do discurso foi o fato de o presidente iniciar a inserção dizendo que sente “profundamente cada vida perdida em nosso país”, mas não mencionou que estas já passaram de 460 mil. Logo após essa declaração, exaltou o próprio governo: “Hoje alcançamos a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios”.
Socialistas criticaram fala de Bolsonaro
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), comentou sobre o trecho do discurso no qual Bolsonaro diz lamentar cada vida perdida no país. “Se realmente se preocupasse com a vida das pessoas não teria ignorado as ofertas de vacinas”, escreveu.
Molon ainda destacou que o presidente mentiu durante o pronunciamento à nação para “tentar esconder as realidades que os brasileiros enfrentam em seu desgoverno: o luto, a fome e o desemprego”, criticou.
O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) comentou que na fala do presidente ficou confirmada a necropolítica do governo. “Foi contra as medidas de enfrentamento à covid-19, cancelou as políticas públicas no momento mais grave da pandemia”, apontou.
O deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) foi outro socialista a reagir às mentiras do presidente. “As únicas verdades desse pronunciamento foram o panelaço no Brasil inteiro e dizer que a Caixa é lucrativa”, escreveu.
O presidente do PSB Nacional, Carlos Siqueira, observou que a fala de Bolsonaro não tem olhos nem ouvidos para o país. “O pronunciamento do presidente mostra que ele não se importa com o Brasil real, ávido por proteção, vacina, emprego, comida, dinheiro para pagar gás, luz, combustível”, criticou.
Pronunciamento com atraso de 432 dias
Sete dos 11 integrantes efetivos da CPI da Pandemia no Senado e dois suplentes divulgaram nota na noite desta quarta na qual atribuem à “pressão da sociedade” e ao “trabalho desta CPI” o teor do pronunciamento do presidente Bolsonaro em rede nacional de TV.
No pronunciamento, Bolsonaro prometeu vacinas para todos os brasileiros “que assim o desejarem” até o fim do ano — durante a fala do presidente, houve panelaços em todo o país.
No último sábado (29), milhares saíram às ruas em todo o país em manifestações de protesto que reivindicaram vacinas, auxílio emergencial e o impeachment de Bolsonaro. A cúpula da comissão parlamentar de inquérito diz já ter comprovado que o governo recusou vacinas e montou um “gabinete paralelo” que dava orientações discrepantes em relação às dos especialistas em saúde.
Bolsonaro prometeu que todos os brasileiros que quiserem serão vacinados até o fim do ano contra a Covid-19. Até agora, passado cerca de um ano e meio do início da pandemia, o ritmo de vacinação é lento no Brasil. Até esta terça-feira, 10,6% dos brasileiros (22,6 milhões de pessoas) tinham recebido duas doses de vacina, necessárias para assegurar a imunização.
De acordo com os senadores, a “inflexão” de Bolsonaro veio com um atraso de 432 dias, desde 24 de março do ano passado, quando o presidente classificou a Covid como “gripezinha”, também em um pronunciamento em rede nacional de TV.
Para os parlamentares que assinam o documento, o atraso de 432 dias é “desumano” e “indefensável”.
Eles também afirmam que o governo não se empenhou na compra de 130 milhões de doses da CoronaVac e da Pfizer em 2020, o que seria suficiente para imunizar cerca de metade da população vacinável do Brasil.
NOTA PÚBLICA
A inflexão do Presidente da República celebrando vacinas contra a Covid-19 vem com um atraso fatal e doloroso. O Brasil esperava esse tom em 24 de março de 2020, quando inaugurou-se o negacionismo minimizando a doença, qualificando-a de ‘gripezinha’.
Um atraso de 432 dias e a morte de quase 470 mil brasileiros, desumano e indefensável. A fala deveria ser materializada na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano passado, quando o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes para metade da população brasileira. Optou-se por desqualificar vacinas, sabotar a ciência, estimular aglomerações, conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos ineficazes para a Covid-19.
A reação é consequência do trabalho desta CPI e da pressão da sociedade brasileira que ocupou as ruas contra o obscurantismo. Embora sinalize com recuo no negacionismo, esse reposicionamento vem tarde demais. A CPI volta a lamentar a perda de tantas vidas e dores que poderiam ter sido evitadas.
Omar Aziz- Presidente CPI
Randolfe Rodrigues – Vice Presidente CPI
Renan Calheiros – Relator
Em apoio
membros efetivos:
Tasso Jereissati
Otto Alencar
Humberto Costa
Eduardo Braga
Suplentes:
Alessandro Vieira
Rogério Carvalho
Pronunciamento com fake news
Durante seu discurso, Bolsonaro tentou fazer uma retrospectiva positiva de seu governo, que está pressionado pelas ruas e pela CPI da Pandemia. Ele exaltou a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas pelo Brasil, falou da produção de IFA que se iniciará em breve no país, voltou a dizer que o governo federal não obrigou ninguém a ficar em casa – mas também não ajudou nas medidas de combate à pandemia – exaltou o auxilio emergencial – que em 2021 tem um valor pífio – e disse esperar um crescimento acima de 4% da economia brasileira neste ano.
Em pronunciamento, Bolsonaro afirmou que “as estatais, no passado, davam prejuízo de dezenas de bilhões de reais, devido a corrupção sistêmica e generalizada”, e citou a Caixa Econômica Federal como exemplo: “bateu recorde de lucro, mesmo reduzindo juros”.
Em maio, Bolsonaro já havia feito tal alegação, que é falsa. No primeiro ano do governo Lula, em 2003, a Caixa teve o maior lucro de sua história até então.
“Em 2004, o banco voltou a ter lucro: 1,4 bilhão de reais. Em 2005, o lucro da Caixa subiu 46% em relação ao ano anterior e foi de 2,07 bilhões. Em 2006, novo recorde: 2,38 bilhões de lucro. Em 2007, 2,5 bilhões de reais de lucro. No ano de 2008, lucro líquido de 3,9 bilhões de reais, 62,3% superior ao registrado no ano anterior. Em 2009, lucro de 3 bilhões de reais. Em 2010, último ano do governo Lula, o lucro da Caixa subiu 25% em relação a 2009 e fechou o ano em 3,8 bilhões”, relatou o site Socialista Morena à época.
Negacionismo e “imunidade de rebanho”
“O Nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais”, disse o presidente em trecho do pronunciamento, que pareceu uma resposta às investigações da CPI sobre a postura negacionista do governo ao defender a tese da “imunidade de rebanho”.
Durante pronunciamento , nesta quarta-feira (2) panelaços em protesto contra o governo federal foram registrados em diversos bairros em várias cidades do Brasil.
Pronunciamento na íntegra:
“Boa noite,
Sinto profundamente cada vida perdida em nosso país.
Hoje alcançamos a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios.
O Brasil é o quarto país que mais vacina no planeta.
Neste ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados. Vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa.
Ontem, assinamos acordo de transferência de tecnologia para a produção de vacinas no Brasil entre a AstraZeneca e a Fiocruz.
Com isso, passamos a integrar a elite de apenas cinco países que produzem vacina contra a Covid no mundo.
O Nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais.
Sempre disse que tínhamos dois problemas pela frente, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados com a mesma responsabilidade e de forma simultânea.
Destinamos, em 2020, 320 bilhões para o Auxilio Emergencial para atender aos mais humildes.
Esse montante equivale a mais de 10 anos de Bolsa Família. E mais de 190 bilhões para ajudar estados e municípios.
Alguns setores como bares e restaurantes, turismo, entre outros, em grande parte foram socorridos pelo nosso governo por meio do PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio as Microempresas e Empresas de pequeno porte.)
Hoje mesmo sancionamos a nova lei do PRONAMPE, agora permanente, que pode destinar a vários setores até 25 bilhões de reais, onde 20% será destinado ao setor de eventos.
Terminamos 2020 com mais empregos formais que 2019. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, o Brasil criou mais de 900 mil novos empregos.
O PIB projetado para 2021 prevê um crescimento da economia superior a 4%.
Só no 1º trimestre deste ano, a economia mostrou seu vigor, estando entre os países do mundo que mais cresceram.
Com o Congresso Nacional estamos avançando, aprovamos:
– A nova lei do gás;
– O marco legal do saneamento;
– A MP da Liberdade Econômica;
– O Banco Central independente; e
– E o novo marco fiscal.
Realizamos leilões de rodovias, portos e aeroportos.
Levamos internet para mais de 8 milhões de brasileiros em grande parte para as regiões Norte e Nordeste.
Ontem, a Bolsa de Valores bateu recorde histórico, a moeda brasileira se fortalece, e estamos avançando no difícil processo de privatizações.
A CEAGESP sob um comando honesto e responsável apresentou, além de lucro, um ambiente salutar entre os permissionários e funcionários.
Essa Companhia socorreu nossos irmãos de Aparecida e Araraquara, entre outras cidades do interior de São Paulo, doando dezenas de toneladas de alimentos.
As estatais, no passado, davam prejuízo de dezenas de bilhões de reais devido à corrupção sistêmica e generalizada. Hoje são lucrativas.
Nos dois primeiros anos do nosso Governo, a Caixa Econômica Federal bateu recorde de lucro mesmo reduzindo os juros do cheque especial, da casa própria, das micros e pequenas empresas e dos empréstimos às Santas Casas.
Estamos avançando na transposição do Rio São Francisco, levando água para todo o Nordeste.
Na infraestrutura, o nosso Governo tem construído pontes, duplicado rodovias, terminando obras paradas há décadas, como a BR-163 no Pará.
Ainda neste ano, será concluída a Ferrovia Norte-Sul, que ligará o Porto de Itaqui, no Maranhão, ao Porto de Santos, em São Paulo, é a retomada do modal ferroviário no Brasil.
Seguindo o mesmo protocolo da Copa Libertadores e Eliminatórias da Copa do Mundo, aceitamos a realização, no Brasil, da Copa América.
O nosso Governo joga dentro das 4 linhas da constituição, considera o direto de ir e vir, o direito ao trabalho e o livre exercício de cultos religiosos inegociáveis.
Todos os nossos 22 ministros consideram o bem maior de nosso povo a sua liberdade.
Que Deus abençoe o nosso Brasil”.