
Do “acabou, Bolsonaro” do haitiano repercutido pela manhã ao “Fora Bolsonaro” nas janelas do Brasil, à noite, foram poucas horas. Nessa terça-feira (17), Bolsonaro teve seu dia de “Dilma”, numa espécie de déjà-vu da história recente de política brasileira.
O avanço de novos casos de coronavírus, que já chega a 350 casos de infectados e 2 mortes no país, de acordo com dados das Secretarias de Saúde dos Estados, e a insistência de Bolsonaro em minimizar a crise, foram os ingredientes para o crescimento da insatisfação que geraram protestos.
Ainda nessa terça, Bolsonaro pediu ao Congresso que decrete estado de calamidade pública no país, em virtude da pandemia que até poucas horas atrás ele chamou de “histeria”. Com isso, ele poderá descumprir a meta fiscal, tendo em vista que a crise requer mais gastos.
Ex-líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) deu o tom da crítica que tem sido reverberada nos bastidores de Brasília.
“O Brasil está sem comandante quando mais precisa! Faremos a nossa parte pelo Brasil, apesar do Presidente da República, pela saúde de todos!”, comentou.
O “apesar do Presidente da República” proferido pelo líder do PSB foi percebido, ontem, entre os assessores mais próximos de Bolsonaro como um sinal de alerta.
Alerta entre generais
Generais de quatro estrelas avaliam nos bastidores como totalmente errática e amadora a atuação de Bolsonaro na condução da crise, permitindo que seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, receba elogios públicos pela condução do navio.
Como política não permite espaços vazios, junto a Mandetta assumiram a dianteira os líderes do Congresso, os democratas Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.
Nesta quarta há um novo chamamento para panelaços contra Bolsonaro. A depender do volume, acredita-se que seja maior, o presidente terá mais um motivo para preocupar-se.
É fato que os Poderes da República precisam de articulação no enfrentamento do coronavírus. O Ministério da Saúde, o Congresso e mesmo o STF largaram na frente em buscas de soluções.
Atrasado, Bolsonaro só começou ontem a deixar o discurso ideológico de lado e propor soluções articuladas. A saber se, apesar de Bolsonaro, haverá tempo para evitar um colapso maior na saúde pública do país.