
O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou na segunda-feira (04) que o advogado Mariano González substituirá Dimitri Senmache no cargo de ministro do Interior do país, após a aprovação de uma moção de censura contra seu antecessor.
Senmache foi afastado do cargo antes de cumprir seis semanas de mandato, e González será o sexto ministro do Interior a tomar posse em quase um ano de governo Castillo.
Entre as tarefas de González, está a missão de trazer à justiça fugitivos como o antigo ministro dos Transportes e Comunicações Juan Silva, o antigo secretário presidencial Bruno Pacheco, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e um dos sobrinhos de Castillo, Fray Vásquez Castillo, envolvido em um esquema de corrupção criado por seu irmão, Gian Marco Castillo.
Gian Marco Castillo e Fray Vásquez Castillo, sobrinhos do presidente peruano, são investigados no caso Ponte Tarata III, no qual recebem acusações de corrupção, ao lado de Silva e Pacheco, que também estão envolvidos no processo.
González, ao tomar posse, falou sobre o caso de Juan Silva, e assegurou, de acordo com o jornal El Comercio, que reforçará as equipes encarregadas do trabalho de captura do ex-titular de Transportes e Comunicações.
Silva, assim como Pacheco, está foragido há mais de um mês. Junto de outros antigos funcionários do governo sob investigação por corrupção no caso Ponte Tarata III, ele aparece na lista de um programa de “procurados” do Ministério do Interior, que oferece recompensas a cidadãos que tenham informações que permitem à Polícia Nacional do Peru “identificar e capturar membros de organizações criminosas ou requisitantes”.
Em comunicado, o Ministério do Interior disse que González “iria trabalhar para reforçar o quadro institucional da polícia peruana e dos organismos adstritos ao Ministério”, acrescentando que ele afirmou que irá reforçar as políticas de segurança dos cidadãos.
González foi membro do Parlamento Andino de 2016 até 2021, chefiou o Gabinete de Conselheiros do Ministério do Interior e da Defesa em 2012 e 2011 e foi Ministro da Defesa no governo neoliberal de Pedro Pablo Kuczynski em 2016.
Pedro Castillo deixa partido
Na quinta-feira (30), Pedro Castillo anunciou sua renúncia irrevogável ao partido Peru Livre, pelo qual foi eleito no ano passado. “Respeito o partido e as bases construídas na campanha. Reafirmo meu compromisso de seguir trabalhando e promovendo as mudanças contidas no programa Bicentenário em um país democrático e junto de todos os peruanos”, publicou o chefe de Estado.
O desligamento atende a um pedido da comissão política da legenda, que acusou Castillo de romper com a unidade partidária em comunicado publicado na terça-feira (28). Segundo Vladimir Cerrón, presidente do Peru Livre, o mandatário peruano estaria promovendo outras desfiliações para fraturar o partido.
O partido de esquerda Perú Libre também anunciou na quinta-feira (30) que passará para a oposição. O líder da sigla no Congresso, Waldemar Cerrón, disse que a legenda fará uma “oposição propositiva”.
“Uma oposição não se dá por oposição ou por capricho. Uma oposição se dá por argumentos, ações e fatos que repercutem no país”, declarou.
Segundo Cerrón, o presidente peruano “não cumpriu com a ideologia” do partido e, por isso, deveria deixar a sigla. “Foi pedida a saída do cidadão e militante Pedro Castilho não como presidente, mas como militante do partido”.
“Também destacamos que as políticas empreendidas pelo seu governo não têm consequência com o que foi prometido durante a campanha eleitoral e menos ainda com o programa partidário, implementando um programa neoliberal que saiu perdedor”, afirmam em comunicado.
A deputada Margot Palacios declarou a meios locais que o presidente lhe havia oferecido cargos em ministérios em troca da desfiliação. Peru Livre possui a maior bancada do Congresso com 37 parlamentares.
Pedro Castillo se filiou ao partido Peru Livre em setembro de 2020, depois de ganhar visibilidade nacional ao liderar uma greve nacional de professores.
Em um ano de gestão, o presidente peruano alterou seu gabinete ministerial em cinco ocasiões. Em cada uma das reformas, os partidários do Peru Livre e outras legendas de esquerda que apoiaram a sua candidatura, como Novo Peru, foram perdendo espaço no governo.
O anúncio presidencial acontece no mesmo momento em que o país vive uma nova greve de trabalhadores do transporte. Os sindicatos exigem a diminuição do preço dos combustíveis e novas políticas que garantam 80% de subsídio. Há três dias, sindicatos de trabalhadores do transporte bloqueiam rodovias nas regiões de Arequipa, Cusco, Puno e Ica. Somente na capital Lima, há16 mil ônibus estão parados na garagem, segundo a Câmara de Transporte Urbano.
Os caminhoneiros também anunciaram que irão aderir à greve, a partir de julho, exigindo a regulamentação do preço dos pedágios, redução do preço do diesel e restituição do transporte de mercadorias como serviço público. O litro da gasolina custa 4,05 soles (cerca de R$ 5,60), enquanto o diesel está a 3,38 soles o litro (R$ 4,69) – registrando um incremento de cerca de 40% somente em 2022. Segundo o governo, o principal motivo seria o aumento do preço internacional do combustível e os impactos da pandemia.
O Peru já sofria com a alta da inflação, que atingiu os maiores patamares em 26 anos, antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O presidente do partido Peru Livre, Vladimir Cerrón, defende que somente uma nova constituição poderá resolver os problemas dos grevistas. A reforma constitucional era uma das principais propostas de campanha de Castillo. Em abril, a deputada Margot Palacios apresentou um projeto de lei para a convocatória de uma Assembleia Constituinte no Peru. A proposta não foi aprovada pelo Congresso.
A Carta Magna peruana foi aprovada durante o regime de Alberto Fujimori, em 1993, e não possui qualquer mecanismo que preveja sua reforma por meio de consulta popular. Fujimori assumiu o poder em 1990 e permaneceu dez anos no comando do Peru após realizar um autogolpe e, com apoio da cúpula militar, fechar o Congresso do país. O ex-ditador foi condenado a 25 anos de prisão por crimes de lesa humanidade.
Crise atrás de crise
Desde o início do seu governo, Pedro Castillo enfrenta crise atrás de crise e fica sem espaço para, de fato, governar. Depois de Castillo se livrar de dois pedidos de cassação de mandato, em abril deste ano, pessoas ligadas a ele foram alvo de uma operação do Ministério Público do país e da polícia anticorrupção.
Operação atinge pessoas próximas a Castilho
No último dia 29, pessoas ligadas a Castilho foram alvo de uma operação do Ministério Público do país e da polícia anticorrupção.
Três pessoas foram presas e outras ficaram sob a mira da Justiça do país, como dois sobrinhos de Castillo.
A operação foi deflagrada horas da sessão parlamentar que derrubou a segunda tentativa de retirar o atual mandatário do cargo, no último dia 28.
Os empresários Zamir Villaverde, que teve contratos com Castillo, e Víctor Valdivia foram presos, além do ex-secretário George Passapera, supostamente ligado à construtora Termirex.
A construtora teria sido contratada irregularmente para construir uma ponte na região norte da selva peruana e que deu origem à operação deste terça. O contrato foi anulado.
As buscas tiveram como alvo endereços do ex-secretário Geral da Presidência, Bruno Pacheco, bem como de outras sete pessoas sob investigação pelo contrato, entre elas Fray Vásquez Castillo e Gian Marco Castillo, sobrinhos do presidente.
Pacheco e os sobrinhos de Castillo foram impedidos de deixar o país.
Eles foram incluídos no processo por usarem carros e apartamentos cedidos pelos empresários que se beneficiaram do contrato sob investigação.
Castillo acusa setores ‘políticos e da mídia’
Em fevereiro, Castillo afirmou que as tentativas de tirá-lo do poder são uma tentativa de golpe de parte de setores políticos e da mídia
“Esta nova campanha midiática visa promover o impeachment presidencial e expõe as atitudes antidemocráticas de alguns setores que buscam desestabilizar o país”, disse o mandatário na ocasião.
Castillo também rejeitou a hipótese de que sua equipe de confiança teria “interferência” nas tomadas de decisões no Peru, afirmando que, desde o início de sua gestão, o governo tem “respeitado as decisões do ministros de Estado”.
Com informações do Opera Mundi, Brasil de Fato e Poder360