
O anúncio da compra do Twitter, por Elon Musk, a extrema-direita dentro e fora do Brasil ficaram em polvorosa. O motivo é que o controverso empresário já deixou claro que é um defensor da “liberdade de expressão sem limites”, na mesma linha do alegado pelo bolsonarismo para propagar ódio e desinformação nas redes. E, ao que tudo indica, pode ter efeitos nefastos para o Brasil.
Raquel Recuero, diretora do Laboratório de Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais (Labmídia), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), avalia que se Musk resgatar contas banidas, como ele deu a entender que fará e que pode ocorrer até a eleição brasileira, os impactos serão sentidos nas eleições de outubro.
Por isso, ela afirma em entrevista ao Estadão, que entende a celebração Bolsonaro e seus aliados, como o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), já tiveram conteúdos removidos com a compra da plataforma por Musk. O empresário, que já falou que se avaliasse necessário, apoiaria golpes de Estado, sugeriu, que o Twitter tem ‘viés de esquerda’.
Para a pesquisadora, se o cenário se confirmar, a tendência é de aumento da onda de desinformação.
“Hoje, uma das estratégias de desinformação é justamente circular algo com uma opinião, para contornar o algoritmo do Twitter, que já vem coibindo certos tipos de conteúdo. Podemos ter um aumento, sim, da circulação de desinformação que pode ter um impacto negativo na eleição. A desinformação transborda, não fica em um único canal, e vai circulando em outros”, alerta Recuero.
Pouco tempo, grande estrago
Embora ela não acredite que haja tempo viável para implementar o que Musk pretende até as eleições de outubro, o resgate de contas banidas tende a ser liberado. O que poderia ser, especialmente, problemático no caso de contas de políticos e influenciadores excluídos da plataforma.
“Se essas contas voltarem, os motivos pelas quais elas foram banidas não são mais ilegais. Isso pode acabar por ampliar muito a quantidade de desinformação na plataforma. Outra coisa é discursos intolerantes e de ódio serem ampliados”, analisa.
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A pesquisadora também acredita que o clima beligerante das eleições de 2018 também dominou o processo eleitoral deste ano. Ataques à democracia e legitimação de discurso de ódio foram normalizados pelo bolsonarismo
“Nem começou a campanha e já temos uma radicalização das opiniões, já há ameaças veladas e ameaças explícitas e a gente normaliza a ameaça à democracia. É uma normalização perigosa. As autoridades, tanto os tribunais quanto a própria Polícia Federal, precisam ficar atentas a esse tipo de comportamento, porque ele pode, sim, indicar algum outro tipo de ação como vimos nos EUA”, pontua a pesquisadora.