
Por Carolina Fortes
Em carta, um grupo de 63 congressistas estadunidenses pede que o presidente Joe Biden reveja a oferta para que o Brasil se torne um parceiro global da Organização Tratado Atlântico Norte (Otan) e revogue a condição de aliado extra-Otan concedida ao país ainda no governo de Donald Trump.
Segundo informação da correspondente da BBC Brasil, Mariana Sanches, uma das preocupações é que o país esteja fortalecendo um Exército que poderá ser usado para um eventual golpe de Estado, já que o status como aliado militar preferencial facilita a compra de tecnologia militar e armamentos dos EUA, garante a participação das Forças Armadas brasileiras em treinamentos promovidos pelo Pentágono, além de outros benefícios.
“Bolsonaro já demonstrou que está organizando as condições para um golpe militar. É um cenário alarmante para o Brasil e nosso país não pode contribuir com isso”, afirma o congressista Hank Johnson, autor do ofício enviado à Casa Branca. Para os parlamentares estadunidenses, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz “ameaças à jovem democracia do Brasil”.
Eles citam, também, os constantes ataques à urna eletrônica e as falas de que Bolsonaro só aceitaria o resultado das próximas eleições se o voto fosse impresso – o que foi derrotado pelo Congresso brasileiro.
“Achamos isso particularmente preocupante porque Bolsonaro trouxe mais oficiais militares para sua administração do que qualquer outro presidente desde que a democracia no Brasil foi restabelecida, criando conflitos entre instituições governamentais e as Forças Armadas”, dizem os 63 congressistas na carta a Biden.
Os parlamentares se referem, por exemplo, ao duro recado que o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, mandou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reforçando a conspiração de Jair Bolsonaro em relação ao voto impresso.
Segundo reportagem de Andreza Matais e Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, por meio de um interlocutor, Braga Netto “pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável”.
Para os congressistas democratas, seria um contrassenso do governo Biden patrocinar avanços militares a um governo que poderia usar as forças para desestabilizar a democracia no maior país da América Latina.
Bolsonaro autoriza entrada de forças militares dos EUA
Em decreto publicado nesta quinta-feira (14) no Diário Oficial da União (DOU), Bolsonaro abre mão do que restava da soberania e autoriza a entrada de “forças militares dos Estados Unidos da América no território nacional”.
“Ficam autorizados o ingresso e a permanência temporária de forças militares dos Estados Unidos da América no território nacional para participar do exercício de adestramento combinado CORE 21 no período de 28 de novembro a 18 de dezembro de 2021”, diz o decreto 10.834 assinado por Bolsonaro e pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.
A entrada tem como pretexto a participação no CORE 21, sigla de Combined Operations and Rotation Exercises, um exercício conjunto em que as forças dos EUA fazem a doutrinação militar das tropas brasileiros.
O decreto diz que as forças estadunidenses “compreendem o contingente de duzentos e quarenta militares estadunidenses, armamentos, acessórios, munições, optônicos, dispositivos ópticos e sensores e equipamentos de comando, controle e comunicação”.
“O exercício de adestramento combinado de que trata este Decreto ocorrerá na região do Vale do Paraíba, entre o Município de Resende, Estado do Rio de Janeiro, e o Município de Lorena, Estado de São Paulo, entre o Exército Brasileiro e o Exército dos Estados Unidos da América”, diz o texto.