
FOTO: Raissa Azeredo
Emprego fixo, estabilidade, prazos, fins de semanas ocupados e uma rotina estressante faziam parte da vida de Rachel Bessa Rodrigues, a Rachel Potira. A brasiliense de 39 anos foi professora de Literatura durante cinco anos. Para garantir um salário melhor chegou a dar aula em três instituições diferentes, uma de manhã, uma a tarde e outra à noite. Descanso aos sábados e domingos? Nem pensar, esses eram dias dedicados ao trabalho também, como a correção de provas. O ritmo frenético, como ela mesma nomeia, unido à insegurança em relação aos dias futuros deram espaço para que a professora deixasse as salas, o giz e o quadro negro e se dedicasse à sua paixão de criança: o artesanato.
Segundo Potira, seu trabalho canaliza as energias para o empreendedorismo criativo, ou seja, envolve a criação de novos produtos ou até mesmo a reformulação de produtos já conhecidos, dando uma nova consciência. Isso promove a geração de empregos, a sustentabilidade, o equilíbrio e a mobilidade de uma economia local. E ainda gera a oportunidade de trabalhar com prazer, liberdade e motivação, objetivando criar não apenas produtos de consumo, mas sim experiências. Através de cursos livres de bordado, Rachel se inspira e inspira outras mulheres. Tecer conexões entre elas é o principal objetivo de seu trabalho hoje.

Bordado de Rachel. Foto: instagram @lojapotira
Pois sua arte, tão bonita, nasceu do contato com as mulheres, com o feminino: Potira aprendeu a bordar com a avó e com a tia, quando as visitava em Minas Gerais. Na adolescência, foi matriculada em um contra-turno religioso, onde havia aulas de artesanato. Mais tarde, com mais autonomia, quis aprofundar suas técnicas, já no intuito de tornar o trabalho mais atrativo ao comércio e obter resultados melhores, e fez cursos de saboaria, macramê, tricô, bordado… E não parou de se aperfeiçoar. Rachel continua fazendo cursos. “Faço curso de tudo. Acho que toda experiência é válida e abre olhares novos. Gosto disso”, disse.
Outra paixão que vem da infância é a natureza, o meio ambiente, as cachoeiras, a solidão da mata e o barulhos dos pássaros em contraste com as cidades agitadas. Foi criada perto do Lago Paranoá e por essa razão acompanhou o triste processo de poluição da região ao longo dos anos. “Tudo isso me fez querer fazer diferente e levantar bandeira em defesa dos recursos naturais”, afirmou.
A preocupação com as questões ambientais continuou presente no trabalho. Antes de se selecionar o material a ser utilizado, a artesã se preocupa com os impactos que eles podem causar a curto ou longo prazo. “Eu escolhi e escolho trabalhar com os recursos mais naturais, com o biodegradável e com a extração sustentável, e sem sofrimento animal”, enfatiza Rachel.

FOTO: Raissa Azeredo
Potira organiza semanalmente o “Encontro Craft” para mulheres, um espaço gratuito para compartilhar a experiência de realizar o bordado, tricô e crochê, entres outras técnicas e acolher a quem queira aprender. No início acontecia em sua própria casa, mas o projeto se expandiu e o apartamento não comportava mais tantas pessoas. Foi aí que surgiu a ideia de se reunirem em um café. Agora, o encontro ocorre todas as quartas, das 16h às 20h, no Ernesto Café.
Há também o Happy Hour do Crochê, que acontece uma vez por mês, sempre na primeira terça-feira. “Lá também temos a troca de saberes e principalmente a confraternização. Várias parcerias nascem dos nossos encontros. É lindo ver essa mulherada reunida, se acolhendo, se divertindo. Dá para ver o quanto nossa natureza é de fato coletiva. Não somos seres solitários. Mulher tem que andar em bando mesmo”, conta Rachel.
As filhas da artesã seguem alguns dos passos da mãe. “Eu ensino minhas filhas. Elas cresceram dentro de um ateliê, é impossível elas não se sentirem atraídas por algo aqui dentro. Então eu deixo a iniciativa vir delas. A Beatriz tem 16 anos. Ela já crocheta, borda, mas acho que foi a paixão pela Literatura o que ela aprendeu mais. Já a Gabi, de 4 anos, gosta de bordar, tecer no tear de pente liço e principalmente de pintar”, relatou
O próximo passo já está bem estabelecido: ter um espaço maior para trabalhar. O ateliê funciona dentro do apartamento e Rachel quer um espaço próprio para receber as pessoas para cursos. Não é fácil ter uma renda estável dedicando-se exclusivamente aos produtos, aos cursos e às feiras. Por essa razão, para Potira, o trabalho artesanal é ainda uma renda extra. É o trabalho fixo da artesã como funcionária pública que permite dar a maioria de suas aulas e seus cursos de forma gratuita.
Sobre não estar mais nas salas de aula, ela não se arrepende. “Eu sinto falta dos alunos, de estudar Literatura. Eu realmente amava isso. Mas não sinto falta da loucura de ser professora, ainda mais na rede privada. É insano. Você se mata de trabalhar e é mal remunerado. Fica sem tempo para viver. O artesanato não me dá a estabilidade financeira que eu tinha, mas me trouxe a leveza de ensinar o que sei por paixão ao que faço, sem a cobranças das instituições privadas. Ganhei autonomia e tempo de qualidade”, concluiu.
Para conhecer melhor o trabalho de Rachel, siga @lojapotira no instagram.