
Duas leis sancionadas pelo prefeito de Recife, João Campos (PSB), colocam a capital de Pernambuco como a primeira do país a adotar políticas públicas contra a gordofobia, o preconceito contra pessoas gordas.
A Lei 18.832/2021 assegura às pessoas gordas carteiras escolares adequadas aos seus biotipos corporais nas instituições de ensino básico e superior do Recife, seja de instituições públicas ou privadas, além de garantir o ensino livre de discriminação ou práticas gordofóbicas.
Já a Lei 18.831/2021 cria o Dia Municipal de Luta contra a Gordofobia. O dia escolhido é o dia 10 de setembro, data já conhecida, informalmente, como dia do gordo.
Ambas as leis foram sancionadas por João Campos no último dia 13.
A autoria das leis é da vereadora Cida Pedrosa e fazem do Recife a primeira capital do país a adotar políticas públicas legislativas contra a gordofobia, promovendo a conscientização e combate ao preconceito, além de promover a inclusão de pessoas acima do peso.
26% da população é obesa e 61,7% está acima do peso
O debate é necessário e inclusivo. Dados da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o percentual de pessoas obesas em idade adulta no país mais do que dobrou em 17 anos, indo de 12,2%, entre 2002 e 2003, para 26,8%, em 2019.
No mesmo período, a proporção da população adulta com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%, representando quase dois terços dos brasileiros.
A obesidade entre pessoas com 20 anos ou mais passou de 12,2% para 26,8% entre 2002/2003 e 2019. 61,7% da população adulta brasileira estava com excesso de peso. Entre 2002 e 2003, esse percentual era 43,3%.
Entre as pessoas com 18 anos ou mais, 25,9% estavam obesas, totalizando 41,2 milhões. Um em cada cinco adolescentes com idades entre 15 e 17 anos estava com excesso de peso.
E, cerca de um terço das pessoas de 18 a 24 anos estavam com excesso de peso. Entre as pessoas de 40 a 59 anos, a proporção chegava a 70,3%.
Gordofobia por toda parte
Esse tipo de discriminação ainda é reforçado pela sociedade por meio de peças publicitárias, piadas preconceituosas e por padrões de beleza rígidos e inalcançáveis impostos sobre os corpos. O efeito da gordofobia é bastante expressivo e negativo, inclusive sobre crianças e adolescentes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, nesse grupo os efeitos do estigma social também são preocupantes.
Estudos apontam que crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade vítimas de bullying são significativamente mais propensos a sofrer com ansiedade, baixa autoestima, estresse, isolamento, compulsão alimentar e depressão se comparado com adolescentes magros”.
Entre adultos o preconceito também prejudica a saúde mental e afeta relacionamentos, oportunidades de trabalho ou o simples ato de usufruir da cidade.
No Brasil, uma pesquisa realizada pela Skol Diálogos em 2017 observou que a gordofobia é uma forma de preconceito que está presente no dia a dia de 92% dos brasileiros.
Planejamento urbano
Além dos impactos sobre a saúde mental, a gordofobia enquanto um preconceito difundido na sociedade afeta também o planejamento urbano e o acesso da pessoa gorda à cidade.
Os padrões utilizados na construção de banheiros, transportes coletivos e até mesmo na mobília dos espaços públicos e privados são reflexo da discriminação e exclusão de pessoas gordas.
As novas leis contaram com a contribuição do projeto ‘Mundo Plus em Movimento’ e coletivos como ‘Bonita de Corpo’ e ‘Gorda Sim’.
Para Aline Sales, idealizadora do ‘Bonita de Corpo’ – coletivo dedicado à afirmação de corpos gordos, atuante no combate a gordofobia em Pernambuco desde 2018, a conquista é resultado de força coletiva.
“É uma grande conquista para entendermos que precisamos discutir a pauta com a devida seriedade. Colocaram tanto na cabeça das pessoas que falar sobre corpos gordos é falar sobre beleza e saúde que eu acredito que foi construído uma limitação quando se refere ao tema. Beleza é, para nós, uma pauta ultrapassada, nossa autoestima já está muito bem estabelecida e agora a gente precisa de políticas públicas que garantam o direito de uma digna existência social”, disse em entrevista ao Alma Preta Jornalismo.
Com informações da Folha de Pernambuco