
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que fará uma ministerial na próxima semana. Envolto em denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a covid-19 e vendo sua popularidade despencar em todas as pesquisas, ele cedeu novamente ao centrão. O general Luiz Eduardo Ramos será substituído na Casa Civil pelo presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Bolsonaro precisa garantir o apoio do centrão e evitar uma debandada do PP de Nogueira do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Com a mudança, o general Luiz Eduardo Ramos, que passa à Secretaria-Geral, ocupada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Já Onyx, pelos planos atuais, ocupará o Ministério do Trabalho e Emprego, que será recriado com a divisão do Ministério da Economia, de Paulo Guedes. A expectativa é a de que as mudanças se concretizem até sexta (23), com a publicação da medida provisória que recriará a pasta do Trabalho.
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O ‘toma lá da cá’ de Bolsonaro
A aliança de Bolsonaro com o centrão, buscada pelo presidente no ano passado diante de uma série de pedidos de impeachment que já se acumulavam na Câmara, enterrou de vez o discurso bolsonarista, explorado à exaustão durante a campanha de 2018, de que o presidente não se renderia ao que chamava de a velha política do “toma lá, dá cá”.
Para atender o centrão, o governo faz promessas de liberação de bilhões em emendas parlamentares e agora prepara até a recriação de ministérios, contrariando outro discurso da campanha, o do enxugamento da máquina pública.
Hoje o governo Bolsonaro tem 22 ministérios, 7 a mais do que os 15 prometidos na campanha eleitoral — sob a gestão de Michel Temer (MDB), seu antecessor, eram 29 ministérios. A administração atual chegou a ter 23 ministérios, mas o Banco Central perdeu este status com a aprovação de sua autonomia.
Bolsonaro busca visibilidade
Um dos objetivos da troca é organizar a base do governo e dar mais visibilidade a ações de Bolsonaro que serão tomadas daqui em diante, como a reformulação do Bolsa Família, consideradas peça-chave para a campanha à reeleição do mandatário em 2022.
Além disso, o presidente pretende se aproximar ainda mais do centrão. O senador Ciro Nogueira é presidente nacional do PP e um dos principais líderes do bloco de partidos que sustenta a base de apoio a Bolsonaro no Congresso.
“Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan de Itapetininga, também transmitida por suas redes sociais.
Insatisfação com Ramos
A possível troca na Casa Civil também contempla a insatisfação no Congresso com o atual ministro, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.
Amigo de Bolsonaro que ganhou força ao coordenar a última dança das cadeiras no governo, em março, Ramos vinha sendo alvo de queixas de parlamentares, inclusive do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), correligionário e muito próximo a Ciro Nogueira.
Bolsonaro sabe que precisa melhorar sua articulação política, especialmente no Senado, onde a CPI da Pandemia avança sobre o governo e onde duas significativas indicações do Palácio do Planalto — a do atual advogado-geral da União, André Mendonça, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) e a da recondução de Augusto Aras ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Planalto teme distanciamento de Nogueira
Além disso, há no Planalto o temor de que Ciro Nogueira se distancie do governo.
Ele já vem aparecendo cada vez menos em defesa de Bolsonaro na CPI da Covid e, na semana passada, não escondia sua insatisfação com a liberação de recursos para o governo do Piauí. O governador Wellington Dias (PT) é seu adversário político.
Impopularidade de Bolsonaro
O presidente e seu governo vêm assistindo a uma escalada de impopularidade. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje seu principal adversário, ampliou vantagem nas intenções de voto para 2022 e cravou 58% a 31% no 2º turno, segundo pesquisa mais recente do Datafolha.
Diante deste cenário, a pressão sobre Bolsonaro cresceu no Congresso. Em entrevista à Folha, o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), disse que as ameaças de Bolsonaro sobre a não realização das eleições de 2022 são um “claro crime de responsabilidade”.
Ele afirmou que estuda a possibilidade de acatar um pedido de impeachment no exercício provisório da presidência. Recentemente, ele pediu para ter acesso aos pedidos protocolados na Câmara.
Com informações da Folha de S. Paulo e Brasil 247