
A Polícia Federal já está atuando para conter a onda de fake news, a influência das milícias e facções criminosas e transações financeiras suspeitas que deve se intensificar durante a campanha eleitoral deste ano. Um grupo de agentes com grande experiência em crimes online, muitos praticados por aliados de Jair Bolsonaro (PL), foi escalado para monitorar redes sociais, movimentações suspeitas e grupos de apoiadores políticos para combater crimes eleitorais.
Matéria do jornal O Globo mostra como a corporação se preparou para lidar com o submundo cibernético que promete aflorar na campanha.
Para isso, softwares próprios e agentes Divisão de Crimes Eleitorais (DRCE) já trabalham para coibir a prática de crimes que possam influenciar as eleições.
“As demandas eleitorais passam agora a ser a prioridade absoluta da Polícia Federal”, afirmou ao O Globo o delegado Cleo Mazzotti, chefe da Coordenadoria-Geral de Repressão a Crimes Fazendários. Ele é quem comanda a divisão de crimes eleitorais e cibernéticos.
Para o trabalho, cooperação com duas diretorias mais importantes da corporação, a Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor) e a Diretoria de Inteligência Policial (Dip).
Grupos do Telegram e WhatsApp, além de páginas no Twitter, Facebook e Instagram serão monitoradas em busca de robôs e campanhas patrocinadas.
Bem como o rastreamento de deepfakes, que são vídeos e áudios com inteligência artificial capazes de inserir em fotos e vídeos rosto e voz falsos em situações que nunca ocorreram, mas que se assemelham muito à realidade. De acordo com O Globo, há no Brasil quatro sites oferecendo a simulação da fala de políticos.
Somado a isso, os agentes também estarão de olho na dark web, onde criminosos planejam e executam crimes em sites e fóruns que não são localizados por buscadores como o Google.
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Experiência com milícias digitais bolsonaristas
De acordo com a reportagem, os agentes que fazem parte da equipe chegam nas eleições deste ano com a experiência acumulada nas operações da PF feitas no âmbito do inquérito das milícias digitais, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante as investigações, a PF descobriu a existência de uma associação criminosa de blogueiros bolsonaristas para a disseminação de fake news por meio de um mecanismo coordenado para atacar as instituições democráticas do país.
Os agentes já estão analisando os Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre indícios de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e caixa dois por parte dos candidatos.
As declarações dos candidatos entregues pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também serão olhadas com lupa pelos agentes.
Violência política
Mortes por motivos políticos também estão na radar da corporação.
“Não vou dizer que está aumentando, mas sempre existiu e hoje existe em uma escala preocupante”, afirmou o delegado Mazzotti.
Dos 3.924 inquéritos policiais em andamento relacionados ao processo eleitoral na PF, 985 foram instaurados só neste ano. Número que deve bastante aumentar nos próximos meses por ser a primeira eleição em que fake news será considerado uma infração eleitoral.
Pela lei que passou a valer em 2021, “divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período da campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado” pode pegar entre dois meses e um ano de prisão, além da cassação de mandato.
“Será a primeira eleição sob a égide desse crime. Em 2020, não era crime”, afirmou ao Globo o delegado da PF Alexandre de Andrade.