
Enfrentando a seca em um período de fartura de chuvas, o Pantanal passa por uma das estiagens mais severas já vistas. Segundo cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden), o bioma vive atualmente a pior seca dos últimos 60 anos.
Os pesquisadores alertam também que a seca ainda deverá durar mais alguns anos e ter graves consequências para a fauna, a flora e as comunidades, a exemplo do aumento de grandes incêndios.
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E mesmo com o esforço das entidades ambientais, as causas da atual seca ainda não estão claras. Podem estar associadas tanto às mudanças climáticas como ao desmatamento da bacia amazônica — menos floresta por lá, significa menos formação de nuvens e, portanto, menos chuva. Um ciclo natural também não está descartado: entre 1968 e 1973, o Pantanal também passou por uma seca extrema. Provavelmente, é um misto dos três fatores.
Teme-se agora que a catástrofe de 2020 se repita neste ano. Entre agosto e outubro de 2020, grandes incêndios devastaram cerca de um quarto do bioma. Por mais contraditório que possa parecer: foram os piores incêndios na história da maior zona úmida da Terra.
Inferno em 2020
“Este ano é muito mais seco que 2020”, diz Alessandro Amorim, guarda-florestal da maior reserva natural privada do Brasil, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
A RPPN foi fundada em 1997 pelo Sesc e é considerada uma das reservas naturais mais bem administradas do Brasil. Com quase 110 mil km², ela abriga uma imensa variedade de animais, entre eles a arara-azul, o lobo-do-rio, o tamanduá-bandeira, a onça pintada, o lobo-guará, a ema e a anta. Alessandro Amorim se diz feliz em trabalhar na reserva e ajudar a proteger a flora e fauna. Nascido no Pantanal e filho de um pequeno agricultor, ele atualmente gerencia, junto com outros dois colegas, um dos seis postos de guarda-florestal da RPPN.
No ano passado, quando os incêndios queimaram quase 95% da reserva do Sesc, Amorim lutou durante 50 dias e noites contra as chamas. Investigações apontam que o fogo foi desencadeado por um pecuarista e por indígenas de uma aldeia de fora da reserva. Já em outras partes do Pantanal, segundo a Delegacia de Meio Ambiente (Dema), os responsáveis foram coletores de mel, acidentes automobilísticos, incêndios e pecuaristas criminosos.
A vegetação ressecada transformou o fogo num inferno, com chamas avançando por mais de 50 quilômetros, queimando até mesmo debaixo da terra. “Nunca vi nada igual”, disse Amorim. “O calor, a fumaça, o vento quente, as paredes de fogo. Os animais vinham correndo da floresta, carbonizados.”
De acordo com um estudo da ONG Instituto Centro de Vida (ICV), mais de 2,1 milhões de hectares de Pantanal foram atingidos pelas chamadas neste ano. Juntando-se áreas da Amazônia e do cerrado presentes em Mato Grosso, o total queimado chegou a 8,5 milhões de hectares, uma área mais de 50 vezes maior que a cidade de São Paulo.
Receio pelo que vem
Agora, ele e seus colegas se preparam para os próximos incêndios. Com a ajuda de tratores, eles traçam mais corredores ao redor da reserva para parar o avanço de possíveis incêndios. Além disso, o Sesc também busca conscientizar a população dos entornos da reserva sobre o perigo das tradicionais queimadas de campos.
Com informações do DW Brasil