
As demissões dos três ministros comandantes das Forças Armadas, nesta terça-feira (30), gerou diversas reações de lideranças e parlamentares. É a primeira vez na história que todos os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica deixam o cargo simultaneamente.
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Nas redes sociais, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, reafirmou a importância das Forças Armadas para a defesa da população, declarando que “são instituições de Estado para defender a Pátria, garantir poderes constitucionais, a lei e a ordem”.
A Constituição é clara. As Forças Armadas são instituições de Estado para defender a Pátria, garantir poderes constitucionais, a lei e a ordem no Estado Democrático de Direito. Como já disse o vice Hamilton Mourão: política nos quartéis acaba com disciplina e hierarquia.
— Carlos Siqueira (@csiqueirapsb) March 30, 2021
“Acuado pelo desastre de seu governo, Bolsonaro substitui ministros para tentar garantir apoio no Congresso”, alegou o líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).
O socialista afirma, contudo, que a articulação do chefe do Executivo “não será suficiente”.
“Nenhum partido quer afundar junto com um péssimo presidente. Virá outra troca e também não funcionará. O problema é o presidente”, finalizou.
Já o deputado federal Aliel Machado (PSB-PR) reiterou que “é a segunda vez que Bolsonaro tenta “implodir” as Forças Armadas”. “Na primeira, foi expulso sob acusação de ataque terrorista. E agora é derrotado politicamente pela irresponsabilidade e pelo crime de tentar impor suas maluquices nas instituições de Estado”, escreveu.
“É algo inédito e grave”, descreveu a deputada socialista Lídice da Mata (PSB-BA).
O presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli, anuncia que “agora vamos saber se as forças [políticas] que se auto definem como de centro são democráticas ou irresponsavelmente golpistas”.
“O Centrão está no centro das decisões para a mais profunda crise institucional, política e militar dos últimos 30 anos no Brasil. Agora vamos saber se as forças [políticas] que se auto definem como de centro são democráticas ou irresponsavelmente golpistas. Se os seus interesses fisiológicos superam um mínimo de compromisso democrático ou se vão assistir passivamente Bolsonaro tentar politizar as Forças Armadas, sublevar as Polícias Militares e milicianizar o país”, argumentou.
O líder do PSB na Câmara, deputado Danilo Cabral (PSB-PE), expôs que “Brasil vive escalada de movimentos que inquietam nossa Democracia”. De acordo com o parlamentar socialista, as recentes “debandadas” é um sinal de alerta.
Brasil vive escalada de movimentos que inquietam nossa Democracia.
— Danilo Cabral??? (@danilocabral__) March 30, 2021
Mudanças no Min. da Defesa com entrega coletiva dos comandos,por supostas ingerências políticas,devem reforçar em todos nós a vigilância cívica sobre os atos do Presidente da República.
Para o ex-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), “temos um presidente genocida e golpista. A Câmara tem que abrir o impeachment imediatamente para salvar vidas e a democracia!”
Comandantes das Forças Armadas renunciaram afirmando que não aceitarão aventuras golpistas. Temos um presidente genocida e golpista. A Câmara tem que abrir o impeachment imediatamente para salvar vidas e a democracia!
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) March 30, 2021
A ex-candidata à vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), afirmou que “pela primeira vez na história da política brasileira, os três comandantes das Forças Armadas, Marinha, Aeronáutica e Exército, pediram renúncia ao mesmo tempo por discordar do presidente e suas atitudes golpistas. Bolsonaro no poder é um risco para a democracia”.
?Pela primeira vez na história da política brasileira, os três comandantes das Forças Armadas, Marinha, Aeronáutica e Exército, pediram renúncia ao mesmo tempo por discordar do presidente e suas atitudes golpistas. Bolsonaro no poder é um risco para a democracia.
— Manuela (@ManuelaDavila) March 30, 2021
Forças Armadas e a saída do governo Bolsonaro
O desembarque histórico de todo o comando das Forças Armadas acompanha a saída do general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa. Ele foi demitido pelo presidente Bolsonaro nesta segunda-feira (29) depois de ter recusado várias vezes apoio político ao governo federal.
Azevedo e Silva vinha se desentendendo com Bolsonaro. O presidente reclamava que as Forças Armadas deveriam dar demonstrações públicas de que apoiavam o seu governo, coisa que o ministro se recusou a fazer.
Outro mal-estar entre os dois tinha a ver também com a pressão de Bolsonaro sobre ele para que demitisse o comandante do Exército, general Pujol, o que Azevedo e Silva também não acatou.
O limite da relação entre o ex-ministro da Defesa e Bolsonaro chegou ao ápice na última semana. Bolsonaro voltou a insinuar que queria o apoio do Exército para aplicar medidas de exceção como o estado de defesa em unidades da Federação que aplicam lockdowns contra a pandemia da Covid-19 e não obteve apoio de Azevedo.
Troca-troca na Esplanada
Depois de anunciada a queda do embaixador Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores e da demissão de Azevedo e Silva, Bolsonaro anunciou mudanças em mais quatro ministérios de seu governo na última segunda-feira (29).
As mudanças foram confirmadas em uma nota da Secretaria de Comunicação Social, vinculada ao Ministério das Comunicações. Confira abaixo:
➤ Casa Civil da Presidência da República: Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria de Governo;
➤ Ministério da Justiça e Segurança Pública: delegado da Polícia Federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
➤ Ministério da Defesa: general Walter Souza Braga Netto, atual chefe da Casa Civil;
➤ Ministério das Relações Exteriores: embaixador Carlos Alberto Franco França, diplomata de carreira que estava na assessoria especial da Presidência da República;
➤ Secretaria de Governo da Presidência da República: deputada federal Flávia Arruda (PL-DF);
➤ Advocacia-Geral da União: André Mendonça, que já chefiou a AGU no início do governo e está atualmente no Ministério da Justiça.
Com as mudanças, deixam de ser ministros os atuais titulares Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e José Levi (AGU). Os outros três ministros envolvidos nas mudanças – Ramos, Braga Netto e Mendonça – foram apenas remanejados para novos postos ministeriais.
“Propósito de Bolsonaro de ter o Exército na mão”
O ex-ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta terça-feira (30) que a saída de Azevedo e Silva da Defesa e Pujol do comando do Exército mostra o interesse de Bolsonaro de ter a instituição “na mão”.
“A saída já concretizada do general Fernando, que pode estar ligada a uma saída quase certa de general Pujol, mostra um propósito muito determinado de ter um Exército na mão. Não talvez para dar um golpe, mas talvez para não impedir ações”, afirmou Amorim.