
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioria contra ação judicial que pretendia impedir que veículos de comunicação divulguem acontecimentos do passado. Por 9 votos a 1, na noite desta quinta-feira (11), os ministros entenderam que a criação do instituto jurídico poderia colocar em risco a liberdade de expressão no país.
Os ministros Dias Toffoli, Kassio Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Luiz Fux votaram contra o direito ao esquecimento, enquanto o ministro Edson Fachin se posicionou favoravelmente. Luís Roberto Barroso se declarou impedido para analisar o tema e não votou.
O caso chegou ao STF após a família de Aida Cúri, jovem assassinada após tentativa de estupro, no Rio de Janeiro, em 1958, ir à justiça solicitar indenização por danos morais após o caso ser reconstituído no programa Linha Direta, da TV Globo, no ano de 2004. Segundo eles, a família não autorizou que a história fosse divulgada na TV após tantos anos, o que gerou sofrimento aos parentes. Durante as alegações o advogado da acusação, Roberto Algranti Filho, citou que rever o caso significa uma “pena perpétua” para a família, que revive o crime 50 anos depois de ocorrido.
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O advogado da TV Globo, Gustavo Binenbojm, afirmou que o programa contou a história de acordo com os fatos ocorridos e de forma respeitosa, principalmente com a imagem da vítima. Ele alegou, também, que o programa cumpria apenas seu papel social de informar, alertar e provocar o debate sobre a violância contra a mulher.
Liberdade de imprensa
O relator do caso, ministro Dias Toffoli, apresentou um histório das ações relacionadas ao tema, suas jurisprudências e citou casos semelhantes ocorridos no Brasil e em outros países. Toffoli destacou que, apesar do caso envolver um programa veiculado na televisão, a decisão afetaria todas as plataformas de comunicação.
Diversas entidades e empresas interessadas no assunto estiveram presentes na seção como, o Instituto de Direito Partidário e Político; a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); o Instituto de tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-RJ); a Google Brasil; o Instituto Palavra Aberta; o instituto Vladmir Herzog; o Instituto Brasileiro de Direito Civil (IBDC) e o Yahoo! Brasil;
Todas elas defenderam o direito de liberdade de imprensa, à memória e, à história, como ferramenta fundamental da democracia para impedir erros passados e fundamentar a adoção de políticas públicas.
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Também esteve presente o vice-procurador-geral, Humberto Jacques de Medeiros. Em sua fala, destacou os conceitos de liberdade, privacidade, história, intimidade e direito à informação. Também trouxe ao debate a superexposição das pessoas nas redes sociais. Porém, em sua conclusão, se posicionou contra o “direito ao esquecimento”.
“O direito de impor o silêncio sobre o já ocorrido é extremamente violento e de difícil controle”, afirmou
Com informações do STF e Folha de S.Paulo