
O Supremo Tribunal Federal (STF) quer que o ministro da Justiça, André Mendonça, explique a “ajuda” de integrantes da Polícia Federal a procuradores da Operação Lava Jato. O pedido surge como um desdobramento da revelação de que a delegada Érika Marena forjou e assinou depoimentos que jamais ocorreram para colaborar com a força-tarefa, tudo isso com a anuência dos procuradores de Curitiba.
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Os novos diálogos foram enviados à Corte pela defesa do ex-presidente Lula na segunda-feira (22). De acordo com informações obtidas pela colunista Mônica Bergamo, divulgadas nesta terça-feira (23), o ministro, ao qual a PF é subordinada, afirmou que averiguaria os fatos.
Diálogos de Dallagnol
As mensagens entre procuradores foram apreendidas no curso de investigação contra hackers que invadiram celulares de autoridades. No diálogo mantido entre os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior, em janeiro de 2016, ambos relatam o que contou uma delegada da Polícia Federal chamada Érika — provavelmente a delegada Érika Marena, que era a responsável pelos casos da Operação.
“Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… Dá no mínimo uma falsidade… DPFs são facilmente expostos a problemas administrativos”, disse Deltan.
Orlando Martello Júnior mostrou preocupação com a possibilidade de esses problemas administrativos levarem ao descrédito da força-tarefa de Curitiba. Diz que “se deixarmos barato, vai banalizar”. Então, propõe uma saída: “combinar com ela de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito”.
Depoimentos forjados
A sequência do diálogo, segundo a defesa de Lula, mostra que o uso de depoimentos forjados era algo reiterado pelo grupo de procuradores de Curitiba. O diálogo segue na mensagem de Martello Júnior a Deltan Dallagnol: “O mesmo ocorreu com padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos. Confiamos nos advs e nos colaboradores. Erramos mesmo!”, diz.
A preocupação é, também, com a eficiência das colaborações premiadas que a força-tarefa fez uso. “Se os colaboradores virem uma reação imediata, vão recuar. O Moura quer ficar bem com JD e demais, ao mesmo tempo em q se da de bobo e nada acontece com ele. À prova, igualmente, fica prejudicada”, complementa Martello Júnior.
“Concordo, mas se o colaborador e a defesa revelarem como foi o procedimento, a Erika pode sair muito queimada nessa… pode dar falsidade contra ela… isso que me preocupa”, responde Deltan.
Marena e outros escândalos
Ao STF, a defesa de Lula destaca que ao Ministério Público cabe fazer o controle externo da atividade policial, conforme determinação da Constituição Federal. Em vez disso, o uso de termos de depoimentos forjados no intuito de atender aos interesses da Lava Jato era algo contumaz, admitido e tolerado por seus membros
Erika Marena já esteve envolvida em outro escândalo, quando atuou como delegada responsável pela operação que perseguiu reitores em Santa Catarina, prendendo ilegalmente Luiz Carlos Cancellier, então reitor da UFSC, que se suicidou depois de uma humilhação pública com acusações de corrupção na universidade. Em 2018, ela foi convidada por Sérgio Moro para integrar a equipe dele no Ministério da Justiça. Depois da saída dele, acabou exonerada.
Com informações da Folha de S.Paulo e Conjur