
Em depoimento à CPI da Pandemia no Senado, William Santana, técnico que faz a consultoria de importação no Ministério da Saúde, afirmou que detectou erros na invoice (nota fiscal internacional) que podem ter barrado – ou, ao menos, retardado – o esquema de corrupção na compra da vacina Covaxin pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Entre os erros, estava a previsão de pagamento adiantado, o que não era determinado no contrato.
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“No mesmo dia encaminhei o pedido de correção para a empresa, tendo a empresa informado que ia corrigir. Também solicitei alteração de pagamento que estava na condição antecipado. Telefonei e pedi a correção. Na segunda vez não foi corrigido e mandei por escrito […]Isso foi na segunda invoice. Ela sempre se prontificou a fazer as correções que pedíamos. A primeira vez liguei e apontei que descrevia pagamento antecipado”, disse Santana aos senadores nesta sexta-feira (9).
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), comentou a revelação do depoentes.
“Dinheiro para paraíso fiscal”
Além da questão do pagamento, Santana diz ter identificado erros no número de doses e que a invoice vinha no nome de uma empresa em Singapura, Madison, e não no da Barath Biotech, laboratório que produz a vacina.
“É o dinheiro que ia parar em um paraíso fiscal”, completou a senadora Simone Tebet (MDB-MS), em referência à empresa sediada em Singapura.
Nas redes sociais, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que “um golpe de 45 milhões de dólares foi impedido por um servidor público e por um consultor técnico”, em referência a Santana e ao servidor Luís Claudio Miranda, irmão do deputado Luís Miranda (DEM-DF), que denunciou o esquema.
“É isso que estamos tomando conhecimento em tudo que já ouvimos aqui na CPI e o que estamos ouvindo hoje do servidor do MS William Amorim”, tuitou Rodrigues.
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CPI segue a trilha do Caso Covaxin
Willian Santana é técnico da divisão de importação do ministério e o nome dele foi citado na CPI pela fiscal de contratos da pasta Regina Célia Oliveira na terça-feira (6). Na ocasião, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), ao descobrir que teria sido Willian o responsável por avisar à Precisa que as invoices (espécie de faturas para negociações internacionais) estavam com irregularidades, também defendeu a convocação do servidor.
A testemunha a ser ouvida nesta sexta-feira é subordinada a Luis Ricardo Miranda, que já depôs à comissão e disse que sofreu “pressão atípica” de seus superiores hierárquicos para aprovação rápida da negociação com a Bharat.
Luis Ricardo Miranda contou também aos senadores que na análise das invoices foram encontradas informações diferentes daquelas do texto original do contrato. Algumas dessas divergências: a forma de pagamento, a quantidade de doses e a indicação de uma empresa intermediária, a Madison Biotech, com sede em Cingapura. Por isso, foi solicitada a correção dessas discrepâncias.
CPI adia reunião reservada com Wilson Witzel
A previsão inicial da comissão para sexta-feira era enviar alguns senadores ao Rio de Janeiro para ouvirem, em reunião reservada, o ex-governador Wilson Witzel. Em depoimento à comissão, no dia 16 de junho, ele disse aos senadores ter “fatos graves” a relatar e garantiu que a corrupção na área da saúde do estado continuou após seu impeachment. Mas, depois da oitiva de Regina Célia, o comando da comissão decidiu priorizar esta semana linha de investigação sobre a compra da Covaxin.
Com informações da Agência Senado