
Tecnologia social é o conceito que descreve as experiências tecnológicas realizadas em interação com a comunidade e que visam, principalmente, buscar soluções para os problemas sociais, bem como o desenvolvimento e a inclusão social.
Tecnologia é um termo amplo e, geralmente, associado aos processos e às ferramentas mais recentes do mercado. Mas você já imaginou que a tecnologia também pode ser uma aliada na transformação da sociedade quando empregada para este fim?
O que é a Tecnologia social?
Tecnologia social compreende técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social.
É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. Está baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, dentre outras.
Ferramentas necessárias para problemas sociais
O Instituto de Tecnologia Social Brasil (ITS), com o Fórum Brasileiro de Tecnologia Social e Inovação, além de desenvolver ações voltadas para a inclusão social, tem se preocupado com o uso das tecnologias como ferramentas necessárias para solucionar problemas sociais.
“Conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida.”
ITS BRASIL. Caderno de Debate – Tecnologia Social no Brasil
O diálogo entre os saberes populares e acadêmicos se tornam imprescindíveis. As dimensões humana e social estão em primeiro plano. O conhecimento existente na comunidade necessita ser valorizado.
“Tecnologia Social é a ferramenta que agrega informação e conhecimento para mudar a realidade. Por isso dizemos que ela é a ponte entre as necessidades, os problemas e as soluções que a gente encontra”, explica Irma Passoni, uma das fundadoras do Instituto.
As quatro dimensões da Tecnologia social
- Conhecimento, ciência, tecnologia TS tem como ponto de partida os problemas sociais; TS é feita com organização e sistematização; TS introduz ou gera inovação nas comunidades.
- Participação, cidadania e democracia TS enfatiza a cidadania e a participação democrática; TS adota a metodologia participativa nos processos de trabalho; TS impulsiona sua disseminação e reaplicação.
- Educação TS realiza um processo pedagógico por inteiro; TS se desenvolve num diálogo entre saberes populares e científicos; TS é apropriada pelas comunidades, que ganham autonomia.
- Relevância social TS é eficaz na solução de problemas sociais; TS tem sustentabilidade ambiental; TS provoca a transformação social. Até 2015, as tecnologias sociais contribuíram, de forma participativa e democrática, com os Objetivos do Milênio (ODM) da Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, com Agenda 2030 da ONU e seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), as tecnologias sociais são importantes instrumentos para a construção de um mundo mais justo, resiliente e sustentável.
Tecnologia social promove educação, cidadania e inclusão
A TS promove educação, cidadania, inclusão, acessibilidade, sustentabilidade, participação e cultura. Pode e deve ser utilizada nas mais variadas localidades do país, desde que adaptada e assumida pela comunidade.
A Tecnologia Social não é um modelo pronto. É uma metodologia em transformação, onde as pessoas que precisam das soluções são parte delas, assumindo o processo da mudança.”
Irma Passoni
Ainda segundo Passoni, “o fundamental é a inclusão”; por isso, o ITS BRASIL nunca oferece “pacotes” de Tecnologia Social. Constrói soluções com as comunidades. As pessoas se apropriam das soluções, se empoderam, introjetam esse conhecimento e replicam onde existe a realidade a ser transformada.
Tecnologia e fé
O mercado de aplicativos para dispositivos móveis teve bons resultados em 2020. Impulsionado pela pandemia de Covid-19, esse segmento da economia digital movimentou US$ 112 bilhões (R$ 590 bilhões) no ano passado, de acordo com estimativa da empresa de análise de dados Adjust. Embora a companhia aponte os setores de serviços financeiros, jogos e e-commerce como os de maior crescimento, há um nicho de alta retenção de usuários, mas que tem passado despercebido pelos analistas: o das plataformas religiosas.
Com as restrições impostas pela crise sanitária, templos, igrejas e outros espaços religiosos tiveram de fechar suas portas, evitando a reunião de seus adeptos. A solução para continuar a transmissão dos ensinamentos e louvores, muitas vezes, foi recorrer às redes sociais e às plataformas digitais. “Por conta da pandemia, a digitalização da fé foi algo impulsionado pela necessidade”, afirma o mestre em ciências da religião pela PUC-SP, Renan Carletti.
“Houve uma conquista do espaço digital para algumas religiões, principalmente em termos de produção de conteúdo.”
Renan Carletti
Plataformas ligam líderes religiosos a fiéis
As transmissões ao vivo e a publicação de textos, imagens e vídeos, por exemplo, foram alguns dos recursos utilizados por líderes religiosos para se conectarem aos seus públicos. “As redes sociais trazem um ‘gostinho’ da experiência coletiva antes presente em espaços religiosos”, diz Carletti.
O especialista afirma que, apesar da pandemia ter intensificado a adoção da internet para experiências religiosas, ela também reforçou a importância do espaço físico para essas práticas. “O ritual religioso tem um elemento muito forte que necessita de uma presença física e coletiva.”
A impossibilidade de ir às missas, cultos e outras celebrações religiosas foi um dos motivos que impulsionou a adoção do aplicativo Glorify pelos cristãos no Brasil. Criada em 2019, a plataforma foi lançada em janeiro deste ano no país e conseguiu atrair 600 mil usuários brasileiros em menos de um semestre.
“Por conta da pandemia, as pessoas passaram mais tempo em casa e na internet, e muitas delas procuraram uma forma de exercitar sua fé online”, afirma o cofundador da plataforma Edward Beccle, em entrevista.
O empreendedor inglês conta que o aplicativo decolou no país impulsionado pelo boca a boca e também pelo apoio de embaixadores e influenciadores cristãos.
“Temos um crescimento de usuários insano no Brasil”, diz Beccle. “Os brasileiros apresentaram um engajamento incrível com o nosso aplicativo, muito maior do que nos Estados Unidos e no Reino Unido.” Segundo o Glorify, por aqui, a plataforma já teve mais de 12 milhões de sessões e soma mais de 40 milhões de minutos de conteúdo escutados.
Com informações do ITS Brasil e Forbes