
O trabalho em sistema remoto – home office – deve continuar após a pandemia da Covid-19. É o que indicam posicionamentos e pesquisas realizadas por grandes empresas que adotaram ou ampliaram essa modalidade de trabalho. Realidade que já andava a passos largos mesmo antes da crise sanitária. Garantir os direitos aos trabalhadores e a sua permanência no mercado de trabalho é um dos grandes desafios para os próximos anos.
Antes da pandemia, ainda em 2019, a mineradora Vale havia adotado o sistema remoto uma vez por semana. Mas não teve muita adesão dos funcionários. Com a crise do coronavírus, todas as funções administrativas e de suporte operacional passaram para o sistema de teletrabalho em todas as instalações no mundo.
Já no primeiro mês a companhia observou que o volume de transações de atividades não foi reduzido. São 18 mil profissionais em trabalho – entre 24% e 25% dos funcionários da mineradora. Funções operacionais continuam presenciais, mas com protocolos de saúde, como distanciamento e uso de máscaras.
Mas é preciso garantir que os trabalhadores e trabalhadoras de todos os setores do país tenham os direitos garantidos, seja qual for o regime de trabalho. Por isso, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) defende em sua Autorreforma, primeiro, que haja a garantia de uma renda básica universal. Além da crise aprofundada pela Covid-19, os avanços tecnológicos têm excluído cada vez mais trabalhadores do ambiente formal das relações de trabalho e emprego.
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Tragédia da pandemia
O professor Ricardo Antunes lança um olhar lúcido e realista sobre a tragédia de trabalhadores e trabalhadoras antes, durante e depois da pandemia da Covid-19. Em sua nova obra Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado (Boitempo, 2020) o sociólogo do trabalho parte da premissa da impossibilidade de o capitalismo ofertar algo que não contemple a destrutividade.
No livro, Antunes ressalta a letal relação entre crise estrutural do capital, há tempos em curso, e o contexto da atual emergência de saúde pública. Assim, soma-se a crise social à profunda crise política de consequências nefastas. O doutor em Geografia Fábio Coltro, professor colaborador do programa de mestrado em Administração da Universidade Estadual de Londrina (UEL), escreveu sobre a nova obra de Antunes para o Blog da Boitempo.
Precarização do trabalho se soma à Covid-19
Coltro comenta que no novo livro, Antunes salienta que no Brasil convivemos com a vil realidade da precarização do trabalho desde muito antes da pandemia da Covid-19. Ele cita que, em 2019, 40% da classe trabalhadora encontrava-se na informalidade e mais de 5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras experimentavam as condições da chamada uberização do trabalho, proporcionada pelos aplicativos e plataformas digitais. Ainda assim, acreditavam serem privilegiados por essa nova “servidão”.
“Com a chegada da pandemia, que não foi repentina e nem sem ser antes amplamente anunciada, foi se configurando um “desenho societal ainda mais desolador”. Antunes questiona sobre o que esperar: o que esse sistema de metabolismo antissocial do capital tem a oferecer?”
Fábio Coltro
Futuro do trabalho na Autorreforma do PSB
A chamada Quarta Revolução Industrial ou o advento da Indústria 4.0 está a pleno vapor neste início do século 21. Os socialistas reconhecem a gravidade da situação em torno do seu principal valor, o trabalho. Não há nenhuma possibilidade de o capital, ou mercado, resolver de forma satisfatória as contradições inerentes às transformações em curso no mundo do trabalho. Na Autorreforma, os socialistas defendem que somente o Estado e a mobilização da sociedade poderão conduzir estratégias que evitem a barbárie.
Nas teses da Autorreforma, o PSB observa que os processos produtivos e comerciais têm se utilizado de forma crescente de novas tecnologias, graças aos avanços da inteligência artificial. E que as rápidas mudanças vão fazer com que cada vez mais a mão de obra humana seja substituída, especialmente, as repetitivas e as altamente especializadas.
A expectativa é que dois terços dos empregos no mundo serão automatizados. E cerca de 50% das empresas preveem a redução de sua força de trabalho em poucos anos.
“O PSB propõe que o país use, resolutamente, grande parte dos ganhos de produtividade que ela propicia, para estimular, acelerar e generalizar seus processos, retroalimentando-a num ciclo ininterrupto, até que se diminua o contingente de obsoletos ou excluídos”.
Autorreforma do PSB
Mudança no trabalho com inclusão
É preciso levar em consideração que os que perderem os seus empregos nessa transição serão os menos preparados para aproveitar as novas oportunidades. A economia criativa é essencial nesse processo.
“Novas políticas públicas deverão ser concebidas para regular o mundo do trabalho, notadamente para lidar com o excedente de mão de obra resultante da modernização de processos produtivos. Tais políticas deverão propiciar a adaptação dos trabalhadores que perderem seus postos de trabalho, requalificando-os permanentemente e realocando-os em novas funções”.
Autorreforma do PSB
Distribuição dos ganhos
Outro aspecto importante é a redução da jornada de trabalho já que as empresas têm conseguido aumentar sua produtividade. Garantindo, contudo, que os salários não sejam reduzidos em razão dos ganhos de produção resultantes do uso intensivo das inovações tecnológicas.
“É imperiosa e urgente a atualização das pautas sindicais e a realização de estudos sobre as adequadas formas de representação dos novos trabalhadores, das novas formas de trabalho e do novo modo de produção trazido pela economia 4.0.”
Autorreforma do PSB
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Com informações da Agência Brasil