A guerra entre a Rússia e Ucrânia, que começou há exatamente um ano e sem previsão de acabar, já matou milhares, reduziu cidades inteiras a escombros, fez milhões de refugiados e alimentou temores de uma nova guerra mundial envolvendo armas nucleares do país de Vladimir Putin e dos Estados Unidos.
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A invasão, que começou com bombardeios constantes e rápido avanço de tropas russas, passou por um período de estagnação, uma contraofensiva das tropas da Ucrânia e ataques a infraestrutura energética.
Com informações da BBC Brasil, CNN e G1, entenda os acontecimentos que marcaram o período do conflito e as perspectivas sobre o que ainda pode acontecer entre os países asiáticos:
Ucrânia antes e depois de 1 ano de guerra
Antes da invasão no ano passado, separatistas apoiados pela Rússia já controlavam territórios ucranianos na região de Donbas, a leste, ocupados desde 2014. Em 21 de fevereiro de 2022, Putin anunciou que a Rússia reconheceria, a partir daquele momento, a independência de duas regiões separatistas, a autoproclamada República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk, ambas na área de Donbas.
A medida foi condenada pela Ucrânia, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e diversos países — mais tarde, isso permitiu que Putin transferisse tropas para essas regiões. A Rússia já havia anexado a Crimeia em 2014, embora a maioria dos países ainda reconheça a península como parte da Ucrânia.
Um ano após a invasão, a Rússia não controla nem de longe tanto território quanto nos estágios iniciais da guerra, quando suas forças avançaram rumo a Kiev. Entretanto o país ainda ocupa áreas significativas no leste e no sul da Ucrânia.
Após o avanço fracassado em direção à capital ucraniana, as forças russas concentraram sua atenção em unir o território que controlavam no leste, em torno de Luhansk e Donetsk, com áreas próximas à Crimeia.
Em maio, os russos tiveram sucesso quando a Ucrânia evacuou suas tropas remanescentes da siderúrgica Azovstal em Mariupol, após um cerco longo e sangrento. Isso deu à Rússia uma importante ponte terrestre conectando as áreas que controlava no sul e no leste, bem como o controle da costa sudeste da Ucrânia e do Mar de Azov.
Desde então, a maioria das principais vitórias na guerra foi da Ucrânia.
Em um contra-ataque, que começou em setembro, as forças ucranianas retomaram grande parte do nordeste da região de Kharkiv, mais tarde reconquistando a cidade de Lyman e outras áreas nos arredores de Donetsk e Luhansk.
Em novembro, o avanço ao sul de Kiev forçou as tropas russas a se retirarem da cidade de Kherson para o lado leste do rio Dnipro, embora Moscou ainda controle o território na margem oeste.
Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia
Com o avanço da guerra, a agência para refugiados da ONU (Acnur) registrou o movimento de cerca de 7,7 milhões de refugiados da Ucrânia para vários países da Europa, incluindo a Rússia, de uma população de cerca de 44 milhões, com quase 7 milhões de ucranianos deslocados internamente — isto é, de uma região a outra, dentro da própria Ucrânia.
Depois da Rússia, a maioria dos refugiados fugiu para Polônia, Alemanha e República Tcheca.
A Organização das Nações Unidas (ONU) descreveu a situação como “o deslocamento populacional forçado mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial“.
Embora muitas pessoas tenham retornado a cidades como Kiev após a contraofensiva ucraniana, o governo do país tem pedido desde então aos refugiados que não voltem para casa até a primavera. O governo espera que o clima mais quente coloque menos pressão sobre a rede elétrica, que foi duramente atingida por ataques com drones e mísseis.
Muitos refugiados ucranianos, principalmente mulheres e crianças, foram calorosamente recebidos em países da Europa, mas, à medida que a guerra avança e a crise global do custo de vida aumenta, autoridades na Alemanha e em outros países questionam por quanto tempo poderão acolhê-los.
Martina Schweinsburg, uma conselheira distrital da Turíngia, no centro-leste da Alemanha, disse que, no início do conflito, seu Estado dependia da iniciativa privada para abrigar os ucranianos e que ultimamente há cada vez mais relutância por parte desse setor.
O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, pediu aos líderes da União Europeia em fevereiro de 2023 que “reafirmem a solidariedade e o apoio a todos os refugiados”.
Quando a guerra entre a Ucrânia e a Rússia vai acabar?
A seguinte notícia: “Região ucraniana pró-Rússia é alvo de disputa entre Kiev e Moscou. Putin autorizou ação militar; Ocidente pede recuo e impõe sanções” parece ser de fevereiro de 2022, não é? Mas na verdade o texto é parte de uma reportagem publicada em 2014 no G1, quase 10 anos antes da atual invasão, quando a Rússia anexou a região da Crimeia.
Em 2014, o estopim para a crise foi o presidente ucraniano na época, Viktor Yanukovich, desistir de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações comerciais com a Rússia. Isso gerou revolta dentro da Ucrânia, onde grande parte da população queria se aproximar do Ocidente. A maior consequência dessa crise foi a separação da região da Crimeia, que tinha forte ligação com a Rússia.
Após a adesão da Crimeia ao governo de Moscou, outras áreas do leste da Ucrânia, de maioria russa, também começaram a sofrer com tensões separatistas. Grupos separatistas das regiões de Donetsk e de Luhansk lutaram contra as tropas ucranianas. A Rússia apoiou esses grupos. Mais de 14 mil pessoas morreram e em 2015 foi assinado um acordo de paz.
Essa disputa tem um fundo histórico, pois a Ucrânia, assim como a Rússia, fez parte da União Soviética, mas também tem muito interesse comercial.
Quando o atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, começou a se aproximar do ocidente, Putin mobilizou seu exército para a invasão, no que ele chama até hoje de “operação especial” com o objetivo de “desnazificar e desmilitarizar” a Ucrânia.
Putin também declarou preocupação com o avanço da fronteira dos países ocidentais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que está cada vez mais próxima da Rússia. Se é realmente uma preocupação militar ou uma decisão mais econômica, fica difícil saber. Assim como não é possível afirmar quando a guerra vai acabar.
Especialistas ouvidos pela BBC dizem que podemos esperar que o conflito continue ao longe de 2023. Como o inverno é intenso, eles acreditam que as tropas estejam se guardando para as investidas da primavera, que tem início em março. O que acontecer nesse período será fundamental para decidir o futuro da guerra.
Outra possibilidade é um acordo de paz ou cessar-fogo. Pode parecer improvável, já que os dois países disseram que pretendem continuar lutando. No entanto, o custo da guerra é alto e isso pode pesar para o lado russo do conflito, considerando que os países ocidentais continuam demonstrando interesse em seguir com apoio militar à Ucrânia.