Por Domingos Leonelli*
Como o desejo ainda é de graça, registro também o meu: que a esquerda brasileira consiga se reinventar a partir de novos sonhos, propostas e ações em sintonia com o século XXI.
Que os partidos de esquerda compreendam bem seus papeis e não tentem, nem na forma e nem no conteúdo, substituir os partidos do centro e da direita democrática. Até porque não conseguiríamos. E as tentativas neste sentido já deram errado.
Claro que há um terreno comum no qual podemos e devemos nos movimentar que é o da defesa da democracia representativa e do combate ao neo-fascismo representado hoje pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Podemos e devemos, sem abrir mão de nossas posições ideológicas, articular e participar de articulações de movimentos no Congresso Nacional e na sociedade, contra o fascismo, o entreguismo, o racismo, a homofobia e a misoginia. Aliás, podemos provar que há mais de meio século somos os mais firmes defensores da democracia. As vacilações passadas e presentes de eventuais aliados devem ser entendidas a partir dos interesses de classe e compromissos com os velhos hábitos políticos, não devem, entretanto, impedir os movimentos em defesa da democracia.
Mais do que nunca a democracia, no século XXI, é um valor universal. É com o seu aprofundamento que avançaremos para reduzir a desigualdade e até alcançar um novo regime econômico e social diferente do capitalismo que já ameaça a sobrevivência do planeta.
Todos os partidos de esquerda deveriam estar repensando seus objetivos, seus programas e realizando suas autocríticas. Afinal não chegamos a Bolsonaro por obra do acaso.
Nós do PSB já estamos fazendo isso.
Entendemos que, para melhor atuarmos em frentes, precisamos explicitar nossos objetivos de longo e curto prazos.
Para isso, iniciamos no final de novembro de 2019 o processo de discussão de uma Autorreforma que inclui desde uma sincera autocrítica política até uma contribuição para um Projeto Nacional de Desenvolvimento baseado na Inovação e na Economia Criativa, no potencial de uma Amazônia 4.0 e no renascimento criativo de nosso parque industrial.
O documento-base da Autorreforma socialista sugere ainda medidas radicais contra a desigualdade, dentre as quais o ensino fundamental totalmente público para todas as crianças brasileiras. Defende abertamente uma taxa para financiamento do SUS.
Coloca em debate a forma de governo. Defende o parlamentarismo não apenas como forma de solucionar crises, mas, também, como caminho para aprofundar a democracia e valorizar os partidos e os programas governo. Disputa de ideias ao invés de pais da pátria em competição de egos.
Finalmente, define-se claramente pelo Socialismo Democrático como objetivo de longo prazo. Um socialismo de novo tipo, convivendo com a iniciativa privada como na China e com ampla liberdade política, como na Suécia.
Um socialismo criativo e profundamente brasileiro.
* Coordenador do site Socialismo Criativo, presidente do Instituto Pensar, integrante da Executiva Nacional do PSB e deputado federal constituinte