
A conservação da Mata Atlântica em um contexto de ataques ao meio ambiente é tema de questionamento do deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP). O socialista, coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional , manifestou, em razão do Dia da Mata Atlântica, comemorado na quarta-feira (27), imensa preocupação com a atual situação e as perspectivas sobre o bioma.
Segundo Agostinho, a preservação do bioma é um grande desafio nos dias de hoje. A disposição atual da Mata Atlântica é extremamente fragmentada, e o seu bioma como um todo sofre com essa divisão, impedindo trocas importantes para as espécies. Além disso, o desmatamento da floresta vem crescendo, apesar da urgente necessidade de conservação, auxiliado por políticas governamentais.
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Mata Atlântica tem bioma único
A Mata Atlântica abrange cerca de 15% do território nacional em 17 estados. No entanto, hoje restam apenas 12,4% da floresta originária. Estudo feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que o desmatamento cresceu em 10 estados dos 17 que contam com áreas da Mata Atlântica em seu território.
Agostinho alerta para a importância do bioma, que mantém 5% das espécies vivas da Terra. No Brasil, 50% das espécies estão na Mata Atlântica, onde se encontra, também, 70% da população brasileira. Além disso, uma lista de espécies ameaçadas feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mesmo que desatualizada, aponta que, de 1.173 espécies em ameaça no Brasil, 573 delas estão na Mata Atlântica.
“Esse é um dia de reflexão. É um dia para a gente repensar. É um dia para a gente começar na ideia da década da restauração. E pensar de forma inteligente. Precisamos começar a copiar mais a natureza, que ela tem lições muito sábias para ensinar pra gente.”
Rodrigo Agostinho
Ameaça à Mata Atlântica
A Mata Atlântica atualmente é a segunda floresta do mundo em riqueza, perdendo apenas para a Ilha de Madagascar, na África. Ao mesmo tempo, conta com o maior grau de ameaça à sua conservação, criando um cenário de perdas irreparáveis.
Apesar de todo o esforço de restauração de matas nativas feito no Brasil inteiro por ambientalistas, algumas regiões apontam aumento do desmatamento na área da Mata Atlântica, como os estados de Minas Gerais (MG), Bahia (BA) e Paraná (PR), conforme a pesquisa do Inpe. De acordo com Agostinho, ainda ocorre a derrubada de áreas muito sensíveis. “São áreas com espécies únicas. Estamos perdendo agora, nesse exato momento”, alertou.
Em 4 estados dos 9 que a Mata Atlântica contempla, o aumento do desmatamento em 2019 e 2020 foi de mais de 100% em relação ao período anterior (2018–2019), sendo que em São Paulo e no Espírito Santo chegou a ultrapassar 400%. No caso de São Paulo e Minas Gerais, ambos tratam-se de estados que já estiveram muito próximos de zerar o desflorestamento, e agora voltam a mostrar aumentos expressivos.
Política ambiental de Bolsonaro piora situação
O alinhamento político e ideológico do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com ruralistas tem contribuído para que a devastação do bioma persista e aumente. O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, tentou, em abril de 2020, cancelar multas de produtores rurais que desmataram a Mata Atlântica, através de despacho.
O texto desobrigava que as terras desmatadas fossem repostas no bioma e retirava a autonomia de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto Chico Mendes – responsáveis por gerir e fiscalizar ações de proteção ao Meio Ambiente. A ideia era fazer com que os órgãos ambientais deixassem de tomar providências e de exercer poder de polícia na proteção das áreas afetadas pelo despacho, que acabou sendo revogado, por pressão, ainda em 2020.
Não fosse a revogação, Salles iria realizar um desejo do presidente ao “tirar o Estado do cangote do produtor”. A atitude de Salles em relação a Mata Atlântica é apenas parte de um complexo sistema de políticas governamentais, de favorecimento a ruralistas em detrimento do meio ambiente, que mexem em órgãos de proteção ambiental, tentam modificar o formato das fiscalizações e abrandam medidas que tem por objetivo diminuir o desmatamento no Brasil.
Unidades de conservação
Para o deputado Agostinho, um desafio importante para preservar a Mata Atlântica, é voltar a criar Unidades de Conservação. O que dificulta muito nesse sentido é a paralisação do país. Os entes federativos, nas três esferas, pararam de criar unidades de conservação, quando a necessidade real é de ampliação e retificação de unidades.
A grande dificuldade que os ambientalistas têm enfrentado quando o assunto é conservação é que, ao invés de mover esforços para viabilizar a ampliação de políticas ambientais que hoje já são insuficientes, precisam voltar seus esforços constantemente para estratégias de defesa, na tentativa de garantir que o cenário não piore ainda mais, o que tem acontecido em uma velocidade preocupante no atual governo.
Com informações de G1 e PSB na Câmara