Com previsão de temperaturas perto de zero grau e ondas de frio, inclusive, em estados da Amazônia, a principal consequência dos eventos climáticos extremos, como a seca ou geada, é o impacto nos preços dos alimentos. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, afirma que o consumidor vai sentir primeiro o aumento nas hortaliças e frutas.
Segundo o pesquisador, só será possível voltar ao equilíbrio já na próxima safra, uma vez que a retomada do setor de serviços ainda deve se refletir na inflação. “O cenário do segundo semestre é de aumento de preços, justamente no momento em que o país terá a população vacinada e um retorno mais intenso do consumo”, explicou o especialista.
A inflação desse grupo de produtos vinha perdendo força este ano, depois de ter respondido por boa parte da inflação de 2020. As expectativas eram que os preços dos alimentos se estabilizassem. No entanto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15, a prévia da inflação) segue alto, em 8,59% no acumulado em 12 meses até julho.
O mercado espera que a inflação oficial recue a 6,56% até o fim do ano. Há um mês, a projeção era de 5,97%. Há 16 semanas, os analistas vêm subindo gradativamente as projeções de inflação. A alimentação deu uma trégua, a ponto de a taxa acumulada ter caído de 18,04% para 15,27% em 12 meses.
Nos últimos meses, os vilões da inflação foram energia elétrica e combustíveis, pressões que devem se manter nos próximos meses, juntando-se à esperada alta nos preços dos serviços, com avanço da vacinação e o fim das restrições de funcionamento. “Por causa do aumento da bandeira tarifária, a energia já subiu 8,5% em julho e deve subir mais 4% em agosto. O que fará o preço dos serviços subirem. E agora esperamos alta nos alimentos também”, diz o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz.
Ele diz que nesse trimestre, hortaliças e carnes (que subiram 35,15% em 12 meses) devem ficar ainda mais caras. Em Minas Gerais, que registrou neste mês a maior geada dos últimos 20 anos, pelo menos 30% das lavouras de café foram atingidas. Algumas fazendas perderam até 80% dos cultivos, e estimativas apontam para uma redução de pelo menos 7 milhões de sacas até agora.
Esta semana, a previsão de nova geada levou produtores de São Paulo, Minas Gerais e Paraná a anteciparem a colheita. No caso dos frutos, eles chegarão ao consumidor menores.
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Frio dificulta cultivo
Pablo Nitsche, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, explica que, além da seca e da geada, em outros períodos do ano, as temperaturas estão cada vez mais altas. Em outubro passado, o Paraná bateu todos os recordes de temperatura, e a estiagem atrasou o plantio de soja. “No Norte do estado, as temperaturas chegaram a 38,5°C na sombra. No campo, no solo exposto, passa de 50°C, 60°C”, diz Nitsche.
Segundo Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, geadas não são comum em São Paulo.
Marin explica que tanto o calor quanto o frio intenso afetam a fisiologia das plantas, que passam a ter ciclos mais curtos e menos produtividade. Nesse caso, até mesmo a cana, considerada mais resistente e que representa a maior extensão de área plantada no estado (perde só para a criação de animais), pode morrer com o frio.
Abaixo de 12ºC, a cana entra em dormência, deixando de fazer fotossíntese e acumular açúcar, mas retoma quando a temperatura volta a subir. Com menos de 5°C, a fotossíntese é interrompida e não retoma —o pé sofre lesões, com a morte de folhas. Com termômetros entre 1°C e 2°C, ela morre e precisa ser cortada.
Inflação em julho sobe 0,78%
A inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acelerou a 0,78% em julho em relação aos 0,60% de junho, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). A taxa ficou abaixo da média das expectativas apuradas pelo Valor Data, de 0,89%, para o período. Mas ficou dentro do intervalo das estimativas, de 0,39% a 1,14%.
No ano, o indicador acumula alta de 15,98% e, em 12 meses, alta de 33,83%. Em julho de 2020, o índice havia subido 2,23% e acumulava alta de 9,27% em 12 meses. Em julho, três itens puxaram a alta do IGP-M: minério de ferro (-3,04% para 2,70%), adubos ou fertilizantes (5,70% para 14,28%) e leite in natura (6,20% para 5,74%).
Com informações de O Globo e Valor Investe