
Com Lucas Rocha
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes se reuniram no Ministério da Economia na tarde desta sexta-feira (22) para afinar o discurso e garantir a manutenção do titular da pasta. Após nova debandada de assessores e diante de péssimos resultados econômicos, especulou-se que Guedes deixaria o governo. Por isso, ambos fizeram um pronunciamento conjunto cheio de inconsistências e os socialistas criticaram absurdos propagados nesta sexta-feira (22).
O presidente usou o encontro para demonstrar apoio ao ministro e evitar uma queda do principal fiador do governo com o mercado financeiro. A pressão pela demissão de Guedes cresceu após a saída de quatro secretários da Economia.
“Nós entendemos que economia está ajustada, não existe solavanco”, disse Bolsonaro em pronunciamento realizado após o encontro.
O presidente e o ministro reafirmaram as intenções de criar o programa Auxílio Brasil a partir da aprovação da PEC dos Precatórios, que recebeu parecer favorável em comissão na Câmara.
“São 16 milhões que estão no Bolsa Família, cujo ticket médio está em R$ 192. A gente vê esse valor como insuficiente para o mínimo. Assim, com responsabilidade, estudamos há meses essa questão, onde se chegou a um valor. Esse valor tem responsabilidade, não faremos aventura”, disse Bolsonaro. O valor deve ser de R$ 400.
Guedes, no entanto, reforçou que o programa, ao contrário do Bolsa Família, será temporário.
“Ninguém vai questionar esses 400 reais pros mais frágeis: subiu o preço da comida, subiu o preço do gás de cozinha”, disse. O ministro, no entanto, não falou em como frear essa alta de preços.
Em dado momento da coletiva, Guedes afirmou que o Brasil está “bem avaliado” no exterior.
“Fui representar o Brasil lá fora, onde nós estamos muito bem avaliados. Porque o Brasil caiu menos, voltou mais rápido e está crescendo mais que a média dos avançados, da Zona do Euro, da América Latina. O Brasil vacinou 90% da população, a pandemia está sendo abatida. O Brasil vai crescer bem mais do que as projeções no ano que vem”, disse, sem apresentar qualquer dado que comprove essas afirmações. Nem mesmo o percentual da vacinação o ministro acertou: são pouco mais de 70% com uma dose e 50% com duas.
Durante a coletiva, Guedes ainda negou a “licença parra gastar”, que ele mesmo defendeu na quarta-feira (21).
“Estávamos estudando sincronização de despesas, antecipando revisão do teto de 2026. Ou poderíamos pedir um waiver (renúncia), uma licença para gastar com camada temporária de proteção”, disse na quarta sem dar qualquer detalhe e se desdizer dois dias depois.
No pronunciamento, Bolsonaro ainda afirmou que o governo não pretende alterar a política de preços da Petrobras, apesar da disparada dos combustíveis, e prometeu um apoio financeiro aos caminhoneiros.
A teoria do crescimento em “V” voltou a ser mencionada pela dupla que parece viver em um Brasil distinto do que vê a fome atingir níveis graves.
Reação dos socialistas
Para o líder da Minoria, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), o “bem avaliado” de Guedes deve se referir apenas às empresas que o ministro mantém em paraísos fiscais.
O líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSB-RJ), afirmou que “o cinismo de Paulo Guedes é um espetáculo grosseiro” e completou:
A deputada socialista Tabata Amaral (PSB-SP) citou o economista Daniel Couri, da Instituição Fiscal Independente (IFI), instalada no Senado Federal, para dar um resumo da atuação desastrosa do governo Bolsonaro.
Debandada na pasta de Guedes
Na quinta-feira (21), quatro ministros deixaram a pasta: Bruno Funchal, secretário especial de Tesouro e Orçamento; Gildenora Batista Dantas Milhomem, secretária especial adjunta de Tesouro e Orçamento; Jeferson Bittencourt, secretário do Tesouro Nacional; e Rafael Araújo, secretário-adjunto do Tesouro Nacional.
Apesar do motivo real da debandada não ter sido explicitado pela pasta, nos bastidores especula-se que as demissões estejam ligadas à discordância dos secretários com as intenções de Bolsonaro e de Guedes de furarem o teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil, programa do governo que visa substituir o Bolsa Família.
O novo programa, que tem claros objetivos eleitorais, não tem uma fonte de financiamento clara e pode não se sustentar por mais de um ano.