A China tem posicionado de maneira cada vez mais contundente em relação aos Estados Unidos. Após o presidente norte-americano, Joe Biden, proibir a compra de petróleo da Rússia, o gigante asiático acusou os EUA de manter laboratórios biológicos com “vírus perigosos” na Ucrânia e chama a atenção para as intervenções promovidas pelo governo norte-americano ao redor do mundo.
De acordo com o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian, foram 69 episódios desde a Segunda Guerra Mundial. Ele publicou uma lista no final de fevereiro em que Brasil aparece duas vezes: em 1964, ano do golpe militar que instaurou a ditadura que duraria 21 anos; e 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu o impeachment.
Agora, o porta-voz cobra os EUA para que divulgue informações sobre os laboratórios que mantém não apenas na Ucrânia para serem usados como arma de guerra.
“Os Estados Unidos, que mais conhecem os laboratórios, devem divulgar as informações específicas relevantes o mais rápido possível, incluindo quais vírus são armazenados e a pesquisa que vem sendo realizada”, disse Zhao.
Para o o governo chinês, essas atividades bio-militares são apenas “a ponta do iceberg” e acusou o Departamento de Defesa estadunidense de controlar 336 laboratórios biológicos em 30 países.
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A China lembrou ainda que apenas os Estados Unidos bloquearam por 20 anos a criação do protocolo de verificação da Convenção sobre Armas Biológicas e se recusaram a aceitar inspeções de laboratórios dentro e fora de suas fronteiras.
Ele também criticou com veemência a guerra econômica que se soma à invasão da Ucrânia.
Pelo Twitter, afirmou que as sanções unilaterais não trarão paz ou segurança, mas prejudicar a economia e subsistência das pessoas.
‘Nova Guerra Fria’
Em 2020, a tensão entre EUA e China voltou a subir. Para muitos, a nova edição da guerra fria com um diferencial: a extinta União Soviética não tinha o poder econômico que a China conquistou. Mais que isso, os mercados dos dois países têm fortes conexões. O que não freia a disputa que inclui acusações de espionagem, fechamento de consulados, vetos de viagens, ameaças e sanções de ambas as partes.
“Para mim, isso significa que essa guerra vai durar pelo menos tanto como aquela ou até mais. Sei que não é uma perspectiva muito bonita, mas é a que vejo”, disse ao El País, ainda em 2020, Gary Hufbauer, especialista do Instituto Peterson de Economia Internacional e um veterano da primeira linha de fogo com Moscou.
Muito além de Rússia X Ucrânia
Os tentáculos dos EUA se estendem ao redor do planeta. Outro país que continua a sofrer com a interferência norte-americana é o Afeganistão.
Depois de retirar as tropas do país, em agosto do ano passado após 20 anos de ocupação, o governo de Joe Biden anunciou, em 11 de fevereiro, que pretende dividir os ativos do banco central do Afeganistão entre vítimas dos atentados de 11 de setembro e em “benefício do povo afegão”, sem dizer quais benefícios seriam esses.
De acordo com o The Intercept, os ativos, que estavam inicialmente congelados quando o Talibã assumiu o controle do país em agosto, são essenciais para a liquidez e funcionalidade básica da sua economia.
Na prática, a atividade econômica do país foi paralisada. O dinheiro mantido nos bancos pela população não pode ser acessado enquanto servidores do governo e professores não recebem salários.
Importadores e exportadores não conseguem manter seus negócios operando por falta de acesso aos recursos e a queda da moeda do país, o afegani, teve uma grande desvalorização, o que aumentou a inflação no país. De acordo com o The Intercept, o aumento dos preços é maior do que no resto do mundo.
“Todas as reservas cambiais que estão nos Estados Unidos e na Europa pertencem ao povo afegão. A decisão de liberar apenas parte dos fundos continuará a prejudicar milhões de crianças, mulheres e famílias afegãs, que estão sofrendo uma das piores crises humanitárias e econômicas do mundo”, diz Shah Mehrabi, professor de economia do Montgomery College, que atua no conselho superior do banco central.
Organizações internacionais denunciam que quase 10 milhões de pessoas no país estão em insegurança alimentar ou passando fome. Seca e inverso severos ajudam a dificultar ainda mais a situação dos afegãos.
Relatos afirmam que pessoas precisam queimar seus próprios móveis para aguentar o frio ou vendendo o que restou em busca de comida.
Golpe de Estado após treinamento dos EUA
O tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, apresentado no final de janeiro como o novo líder de Burkina Faso, na África Ocidental, participou de treinamentos dos norte-americanos.
Os militares tomaram o poder no país e derrubaram o presidente eleito do país, Roch Marc Christian Kaboré. O anúncio do golpe foi feito por uma televisão estatal de Burkina Faso.
A informação de que Damiba foi treinado pelos EUA é confirmada pelo próprio o Comando Africano dos EUA, ou Africom.
Mais de U$ 1 bilhão já foram enviados pelos EUA a título de assistência de segurança para o que classificam de ‘estabilidade’ da região.
Foram, ao menos, oito golpes de estado bem-sucedidos em nove tentativas, desde 2008, incluindo Burkina Faso (três vezes), Guiné, Mali (três vezes), Mauritânia e Gâmbia.
Com informações da Fórum e El País