
A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na manhã desta quinta-feira (18), inundou as redes sociais e provocou uma avalanche de críticas ao clã Bolsonaro e foi encarada como o início da derrocada do presidente.
Preso pela Polícia Federal no sítio do advogado da família Bolsonaro, Frederik Wassef, em Atibaia (SP), Queiroz estava foragido há mais de um ano e é um dos investigados, junto com o senador, sobre o esquema de ‘rachadinha’ implantado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando Flavio ainda era deputado estadual.
Líder do PSB na Câmara, o deputado Alessandro Molon recordou as reiteradas versões do filho mais velho do presidente ao ser questionado sobre o paradeiro de seu amigo e ex-funcionário.
“Queiroz, enfim, foi preso! Mas ele não foi encontrado num lugar qualquer; ele estava escondido HÁ UM ANO no sítio do advogado de Jair Bolsonaro, presidente da República. Wassef havia declarado que não sabia de seu paradeiro, assim como Flávio. Gravíssimo! Qual mentira Bolsonaro vai contar dessa vez pra tentar explicar o inexplicável?”, questionou o parlamentar.
Rigor na apuração
Para o companheiro de partido, deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), “as circunstâncias da prisão escancaram suspeitas sobre quem estava protegendo o assessor e amigo dos Bolsonaro”. “Ele estava há um ano em imóvel do advogado de Flávio Bolsonaro. Mais do que nunca é preciso apurar com rigor a participação de todos os envolvidos”, defendeu o pernambucano.
Atibaia
Júlio Delgado (PSB-MG) apontou as coincidências que envolvem a cidade de Atibaia, conhecida como “Terra do Morango”, município onde também está o sítio responsável por uma das condenações do ex-presidente Lula.
“Atibaia, caseiro, parece que tudo se repete ironicamente nessa trágica desventura da história brasileira. Demorou mais que achar o personagem ‘Wally’ dos livros, mas Queiroz, enfim, foi encontrado. Agora é trabalhar rápido para fazê-lo falar sobre os fatos que perturbam o país”, comentou o deputado.
Nervos de Bolsonaro
Representante do PCdoB-SP, o deputado Orlando Silva aproveitou o momento da pandemia para ironizar o sumiço prolongado do ex-assessor. “Finalmente encontraram o Queiroz. E olha que ele nem foi longe: estava só aqui em Atibaia mesmo, cumprindo o mais rigoroso isolamento social já visto, NO SÍTIO DO ADVOGADO DE FLÁVIO BOLSONARO! Grande dia! Recomenda-se umas gotinhas de Maracugina no pão com leite condensado do presidente”, disse, em tom de piada.
Já a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) indagou a razão do temor do presidente. “Segundo a Folha de S. Paulo, Bolsonaro disse que a prisão de Queiroz tem a intenção de criar clima político para tirá-lo do cargo. Também relacionou o fato com o inquérito do STF [Supremo Tribunal Federal] contra seus aliados. Essa reação só reforça o vínculo estreito do presidente com Queiroz. Do que ele tem medo?”.
Fazer valer a lei
Marcelo Calero (Cidadania-RJ) aproveitou a oportunidade para parabenizar a atuação dos Ministérios Públicos do Rio e de São Paulo. “Nossos parabéns ao Ministério Público do Rio e à Polícia Civil do Estado, que demonstraram de forma inequívoca o que são instituições públicas que não aceitam pressão de qualquer natureza, e agem no estrito cumprimento da lei. Que as investigações sejam aprofundadas”, defendeu o parlamentar.
Wassef
Túlio Gadelha (PDT-PE) preferiu comentar a relação da família Bolsonaro com o advogado, dono da casa em que Queiroz foi localizado, e como isto vai impactar o governo. “O advogado Frederick Wassef não é um desconhecido qualquer de Bolsonaro. Wassef é considerado um faz-tudo do presidente. Está frequentemente no Palácio do Planalto, participou ativamente da campanha atraindo empresários. Wassef, inevitavelmente, arrasta Bolsonaro para dentro do caso”, reforçou.
Silêncio do presidente
Líder da Minoria na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) lamentou o silêncio do presidente nesta manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada. “Bolsonaro, sempre tão falante na saída do Alvorada, PERMANECEU EM SILÊNCIO. Dizer o quê para seus asseclas? A casa tá caindo”, disse.
Integridade de Queiroz
Para garantir a vida da principal testemunha das investigações que pesam sobre o presidente, o líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou, em suas redes, uma ação protocolada nesta quinta.
“Acabamos de protocolar os ofícios ao Ministério da Justiça e ao Ministério Público do RJ pedindo medidas urgentes para resguardar a vida, além da incolumidade física e psicológica do Sr. Fabrício Queiroz e de seus familiares”, disse em suas redes. O pedido cita a necessidade de manter a isenção e a maior imparcialidade possível dos órgãos que atuarão na apuração do caso.
Advogado
Antes de preso, Fabrício Queiroz – que estava sem advogado desde dezembro do ano passado, quando Paulo Klein deixou sua defesa – anunciou Paulo Emílio Catta Preta como seu novo defensor.
Catta Preta é o mesmo advogado de Maurício da Nóbrega, miliciano morto em fevereiro deste ano e considerado uma das peças-chave nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco, em 2018.
Queiroz e o advogado conversaram pessoalmente pela primeira vez no início desta tarde.