As eleições municipais de 2020 foram marcadas pela diversidade e pelo avanço de pautas identitárias. Segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2016 oito pessoas trans foram eleitas para Câmaras Municipais no Brasil. Já este ano, esse número chegou a 30, o que representa um aumento de 275%.
Em Aracaju (SE), por exemplo, Linda Brasil (PSOL) foi eleita a primeira vereadora após anos de ativismo. Sua trajetória começou ainda em 2013, quando lutou por uma portaria obrigando o nome social nas salas da Universidade Federal de Sergipe (UFS), segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
Apesar das conquistas, Linda ressalta, porém, que a visibilidade originada pelo número de pessoas trans eleitas no Brasil, que quase quadriplicou, também significou maior espaço para os ataques.
Na campanha, as agressões em redes sociais eram pontuais, segundo ela, mas, desde que foi confirmada a mais votada da capital sergipana, subiram de tom. As agressões foram tantas que se transformaram em um dossiê para uma denúncia na delegacia de crimes cibernéticos.
Mesmo tendo que reagir a quem não se conforma com a ocupação de mais esse espaço de poder por grupos minoritários, Linda avalia que não haverá volta nos números conquistados pelas trans nesse pleito.
“A gente não vai voltar para as esquinas, como eu fui empurrada para a prostituição e como acontece com 90% das mulheres trans e travestis do Brasil.”
Linda também destaca que deve haver uma preocupação das trans eleitas em virarem referências para outras integrantes do grupo.
“Vou trabalhar para que outras meninas possam sonhar e que os sonhos sejam realizados, já que, por vários anos, deixei de sonhar porque achava que por ser mulher trans não podia ocupar certos espaços na sociedade.”
Representatividade sem causa
Um dos exemplos de contraste de integrantes de grupos minoritários com as pautas da campanha saiu de Londrina (PR), onde a vereadora eleita Jessicão (PP), que é lésbica, disse que não terá ações em prol da causa, pois defende as pautas do presidente Jair Bolsonaro.
A nova vereadora de Aracaju chamou a atenção para a importância de inclusão de pautas pró-grupos LGBTQIA+ nos mandatos dos eleitos para além do aumento de representatividade. “Não basta ser do grupo e reproduzir as mesmas práticas políticas construídas com base na opressão”, afirmou Linda.
Com informações da Folha de S. Paulo