
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) é parte da tropa de choque bolsonarista no Congresso. Atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, é ela uma das peças-chave para o avanço das pautas de costumes. Além de assinar o PL 3262 que descriminaliza o abandono intelectual, ela é autora do famigerado projeto do “Escola Sem Partido”. Outra pauta defendida por ela é a do voto impresso, que considera o sistema eleitoral brasileiro inseguro e sujeito a fraudes.
A parlamentar é uma das mais fiéis aos interesses do governo Bolsonaro, votando alinhada ao Executivo em 97% das votações nominais, segundo o levantamento do Radar do Congresso.
A deputada usa a sua máquina de fake news para deslegitimar a educação pública brasileira, incitar estudantes contra professores, espalhar mentiras contra LGBTs e financiar teorias da conspiração. “Quem disse que as crianças e jovens não aprendem nada na escola? São PhD em sacanagem. E viva Paulo Freire!”, tuitou a parlamentar em 2020.
Kicis foi ainda uma das principais articuladoras de um movimento que pedia aos alunos para filmar os seus professores em sala de aula, com o objetivo de “provar” o ensino do “marxismo cultural” na educação pública. À época, vários professores foram agredidos e uma avalanche de ataques a servidores foi registrada.
“O professor era do PÇOL?”, escreveu ao retuitar a seguinte postagem: “Em escola pública de Brasília, professor de filosofia do 1º ano do Ensino Médio planeja fazer debate sobre ‘Legalização da Maconha’ (detalhe: é proibido o uso de aparelhos eletrônicos)”.
Bia é investigada em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a disseminação de informações falsas. Em um segundo inquérito que apura a realização de atos antidemocráticos, apesar de não ser investigada, a parlamentar foi convocada a prestar depoimento.
A parlamentar também é considerada uma “negacionista” da pandemia de covid-19. Alinhada ao discurso de Bolsonaro, Bia Kicis é contra medidas como o isolamento social e o uso de máscaras. A deputada foi inclusive citada pelo site de fact checking Aos Fatos como uma disseminadora de desinformação na crise sanitária. O caso ganhou repercussão jurídica.
Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ela é a terceira colocada entre os sete políticos, que são ou eram da base governista, que mais moveram ações contra a imprensa. Bia processou o site, pedindo a retirada do conteúdo e uma indenização. A ação foi julgada como improcedente.
Relembre as principais fake news disseminadas por Bia Kicis:
1. Defendeu o fim das medidas de isolamento social em Manaus
No final de dezembro, a parlamentar foi às redes sociais e elogiou o fim do lockdown decretado pelo governador Amazonense. Em janeiro, Manaus alcançou um novo pico de mortes pelo coronavírus, entrando num verdadeiro colapso por falta de insumos e equipamentos hospitalares como oxigênio.
2. Em vídeo, a parlamentar confessa truque para burlar o uso de máscaras
O vídeo foi divulgado pela página no Twitter chamada Brazil Covidfest, que tem o objetivo de denunciar eventos e pessoas que não respeitam as recomendações sanitárias feitas pela Organização Munidal da Saúde (OMS) durante a pandemia.
3. Defendeu que houve fraude nas eleições presidenciais dos Estados Unidos
Sem apresentar provas, assim como Bolsonaro, a deputada chegou a defender a suspeita de fraude levantada pelo ex-presidente Donald Trump, quando perdeu as eleições ano passado para Joe Biden. Na ocasião, ela argumentou em favor da sua proposta de voto impresso.
4. Questionamentos sobre vacinas
A deputada apresentou um projeto de lei sobre vacinação contra a covid-19 alinhado às falas do presidente Jair Bolsonaro, que se posiciona contra a obrigatoriedade e coloca em dúvida a comprovação da vacina. Na proposta, a parlamentar suprimiu do texto a menção de vacinação compulsória e defendeu que a vacina contra a covid-19 só terá comprovação científica confirmada em “aproximadamente dez anos”.
5. Acusação de racismo
A parlamentar chegou a ser acusada de racismo e foi denunciada pelo Facebook após divulgar um meme com uma montagem de fotos dos ex-ministros Sergio Moro e Luiz Mandetta pintados de preto, afirmando que os dois teriam mudado o visual para conseguir emprego por cota racial na Magazine Luiza.
6. Divulgação de informações falsas contra membro morto do Psol
Após a morte por covid-19 de Marcelo Biar, membro da direção do Psol no Rio de Janeiro, Bia Kicis se uniu a outros parlamentares bolsonaristas afirmando que o diretor teria desejado a morte de Bolsonaro quando o presidente foi diagosticado com covid-19. No entanto, membros do partido alegaram que Marcelo não realizou postagens neste sentido.
7. Xingou ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Após se tornar alvo no inquérito das Fake News, a parlamentar gravou um vídeo chamando o ministro Celso de Mello de “juiz de merda”, afirmando que utilizava da sua imunidade parlamentar para criticar o decano.
8. Informação falsa sobre decisão da Procuradoria-Geral da República
A deputada postou nas suas redes sociais que o PGR, Augusto Aras, tinha recomendado o arquivamento da notícia-crime do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) contra o presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, a própria PGR publicou uma nota afirmando que “não houve manifestação do órgão”.
Bia Kicis está prestes a perder a CCJ
Uma recente reportagem do jornal O Globo afirmou que bia Kicis está sob o forte risco de perder a cadeira da CCJ da Câmara, a mais importante da Casa e a partir da qual o bolsonarismo tem travado batalhas ideológicas polêmicas. O comando do colegiado sairá das mãos de Bia Kicis (PSL-DF), uma das fiéis apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro, e deverá ficar com um parlamentar da nova bancada do União Brasil, resultado da fusão de DEM com PSL.
O presidente da nova legenda, deputado Luciano Bivar (PE), espera que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dê a chancela à união até fevereiro, quando as atividades parlamentares serão retomadas. O processo está sob a relatoria do ministro Edson Fachin e já conta com parecer favorável do Ministério Público.
O mandado de Bia Kicis à frente da comissão tem duração de um ano. Uma vez oficializado, o União Brasil teria a maior a maior bancada da Câmara e, por isso, seria o primeiro a escolher a comissão que deseja presidir em 2022. Como a CCJ é a mais importante, a nova bancada deve lutar para ocupá-la. Além de analisar a constitucionalidade de cada projeto, o colegiado tem a prerrogativa de aprovar propostas importantes em “caráter terminativo”, quando não há necessidade de votação em plenário. Em 2021, por exemplo, aliados do governo aprovaram 114 propostas dessa forma, algumas delas importantes, como a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia.
Com informações do jornal O Globo, Congresso em Foco e Carta Capital