A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, por dois homens brancos no Carrefour de Porto Alegre (RS) na noite da última quinta-feira (19) chocou parlamentares e trouxe à tona a discussão sobre a extensão do racismo ainda existente no país, exatamente no dia em que o Brasil deveria celebrar o Dia da Consciência Negra.
Violentamente agredido após uma discussão no supermercado, Beto, como era conhecido, foi levado da área de caixas para a entrada da loja e surrado por dois dois suspeitos, um de 24 anos e outro de 30 anos, presos em flagrante após o episódio. Toda a cena foi gravada por uma funcionária da loja, que não intervém.
Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou a vítima, mas ele morreu no local. Em nota, o Carrefour chamou ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com empresa que ‘responde pelos seguranças que cometeram a agressão’.
‘Luta antirracista’
Líder do PSB na Câmara, o deputado federal Alessandro Molon (RJ) pediu o compromisso da nação com a causa antirracista. “O espancamento de João Alberto até a morte expõe o quão profundo é o racismo no Brasil. No país onde pessoas negras são as que mais sofrem violência e são mortas, o Dia da Consciência Negra reforça que só avançaremos como nação se todos tivermos compromisso com a luta antirracista”.
Relator do projeto de lei que institui o dia 20 de novembro como feriado nacional, o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) pediu justiça. “Tragicamente, a história se repete. Pessoa negra espancada e assassinada. Isso foi ontem numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Justiça é o que nós queremos. #VidasNegrasImportam”, escreveu no Twitter.
‘Muito distante da civilização’
Para o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), as cenas divulgadas mostram o quão longe o país está da igualdade social. “A barbárie do racismo no Brasil se revelou em seus sórdidos detalhes na véspera do dia da consciência negra. Seguranças da casa-grande, a multinacional francesa Carrefour, assassinaram com selvageria um homem negro na frente da esposa. Ainda estamos muito distantes da civilização”, afirmou.
‘Brutalidade’
Rodrigo Agostinho (PSB-SP) usou as redes para expressar solidariedade à família da vítima. “Lamento muito esse crime bárbaro. Independente do que tenha ocorrido, nada justifica a agressão que levou à morte de João Alberto. Que os responsáveis sejam punidos, que atos e cenas como essas não se repitam. Que as famílias de todos os envolvidos recebam meu apoio”.
A senadora Leila Barros (PSB-DF) viu na morte de João Alberto um sinal. “Nenhum ato justifica tamanha brutalidade e covardia registradas em um supermercado em Porto Alegre. O respeito pelo próximo deve prevalecer sempre! A morte do João Alberto é mais um triste alerta de que nossa sociedade está doente”, declarou.
Histórico de violência e desrespeito no Carrefour
O caso de violência é apenas mais um a ocorrer na rede Carrefour. Em 2018, a marca esteve no centro de um escândalo quando um cachorro abandonado morreu após ser envenenado e espancado por um funcionário de uma loja da rede em Osasco, na Grande São Paulo.
O Carrefour também esteve envolvido em polêmicas após seguranças serem acusados de agredir um vigia, em 2009, além de ter protagonizado inúmeras denúncias de racismo e ser acusada de violar direitos trabalhistas em mais de uma situação.
Em agosto deste ano, também protagonizou outro escândalo, depois que uma unidade de Recife (PE) escondeu o corpo de um funcionário que morreu enquanto trabalhava para não ter de fechar a loja.
Moisés Santos, 53 anos, promovia produtos alimentícios no local quando sofreu um mal súbito e não resistiu. Para manter o supermercado em funcionamento, empregados da loja bloquearam o acesso visual ao corpo do colaborador com tapumes e guarda-sóis. O corpo dele ficou no local entre 8h e meio-dia, até ser retirado por uma equipe do Instituto Médico Legal (IML).