De Hollywood ao Festival de Cannes, passando pela Bienal de Veneza a Rússia parece ter se tornado um pária da indústria cultural depois que seu presidente, Vladimir Putin, atacou a Ucrânia e deu início à mais grave crise militar na Europa desde a 2ª Guerra Mundial.
Em artigo publicado na Bloomberg, o economista Tyler Cowen, chamou a onda de cancelamentos de “novo macarthismo” – período da história americana no pós guerra em que uma série de artistas, intelectuais e políticos foram perseguidos e censurados caso identificassem uma ligação com o comunismo.
A primeira instituição a cancelar um evento foi a Universidade de Milão, que ministraria um curso gratuito sobre Dostoiévski, mas depois voltou atrás. Dias depois, Cannes cancelou a presença de delegações russas no festival e o teatro de Gênova, na Itália, desmarcou um festival de música e literatura russa que homenagearia o autor de “Crime e Castigo”. De acordo com a agência de notícias Ansa, o movito foi o fato de que o consulado russo na cidade patrocina o evento.
Três dos maiores estúdios de Hollywood – Disney, Sony e Warner – não irão exibir seus recentes lançamentos em território russo até que Putin anuncie o cessar-fogo. Entre os filmes que não serão exibidos estão a releitura de Batman, com Robert Pattison; Morbius, sobre o vampiro anti-herói da Marvel; e Red – Crescer é uma Fera, da Pixar.
Atendendo a petição da Academia de Cinema da Ucrânia pedindo retaliação à Rússia, o festival de Gasgow, que começou no último dia 02, baniu dois filmes russos: No Looking Back e The Execution. Na mesma linha, o festival de Estocolmo, também realizado em março, retirou de sua programação todos os filmes com financiamento estatal russo. O Festival de Cannes declarou que não vai aceitar a presença de delegações oficiais russas ou de qualquer pessoa que tenha relações com o governo de Putin.
Em nota à imprensa, a organização do festival que ocorre em maio não deixou claro se todos os filmes russos serão boicotados. “Saudamos a coragem de todos aqueles que vivem na Rússia e estão correndo risco ao protestar contra a invasão na Ucrânia. Entre eles, há artistas e cineastas que nunca deixaram de lutar contra o regime atual e que não podem ser associados às ações inaceitáveis [de Putin]”.
Apenas o festival de Locarno, previsto para agosto na Suíça, não acatou o pedido da Ucrânia. A Netflix interrompeu a reprodução de produções originais russas e a compra de filmes e séries do País. O Spotify afirmou que fechou seu escritório na Rússia por tempo indeterminado.
Bienal de Veneza
Os boicotes chegaram também à Bienal de Veneza, que embora não tenha proibido a exibição de nenhuma obra específica, os artistas russas Kirill Savchenkov e Alexandra Sukhareva decidiram retirar seus trabalhos do pavilhão russo, alegando que “não há espaço para arte enquanto civis estiveram morrendo sob o fogo de mísseis”. O curador do pavilhão russo, Raimundas Malasauskas, também renunciou sua participação no evento. Com isso a área toda ficará fechada durante o evento.
Artistas ucranianos também se retiraram da mostra e só voltarão a participar se a guerra for encerrada. Em nota a imprensa, os curadores Maria Lanko, Lizaveta German e Borys Filonenko declararam “Não podemos continuar trabalhando no projeto do pavilhão porque nossas vidas estão em risco.”