Casas de leilão ao redor do mundo estão cada vez mais interessadas em arte em NFT (token não-substituível, em tradução livre) após obras ou conteúdos digitais de maneira geral terem alcançados valores de vendas nunca antes imaginados.
Em março deste ano, o primeiro tweet publicado pelo CEO do Twitter, Jack Dorsey, em 2006, foi arrematado por 2,9 milhões de dólares, cerca de R$ 15,9 milhões, graças ao registro digital que garante a origem e a propriedade do item comprado.
Quadro feito especialmente para o leilão
O artista de Salvador, na Bahia, Bel Borba produziu um quadro especialmente para o leilão aqui no Brasil. A obra Fronteira Físico/Digital levou 32 dias para ser pintada e foi criada para ser leiloada em NFT.
“Sempre que alguém me chama para um novo projeto, faço questão de fazer uma nova obra, e nessa eu me inspirei no atual momento de transição que estamos vivendo.”
Bel Borba
Quem fizer o lance mais alto e conseguir arrematar a criação de Borba levará também fragmentos físicos da obra. O artista plástico dividiu a criação em 100 pedaços para que o comprador leve mais do que o certificado digital de propriedade.
O que são as NFT?
NFT é uma espécie de certificado que garante ao dono de uma obra de arte digital (imagem, foto, vídeo, música, memes, entre outros) a sua autoria e originalidade. Para os criadores é uma forma de comercializar suas obras e mídias digitais, uma vez que o mesmo pode garantir aos compradores que sua obra é única e exclusiva.
Além disso, como estes certificados digitais contém todas as informações de registro (como a autoria e data da criação), os criadores contém uma ferramenta poderosa contra plágios e falsificações.
Para os colecionadores e compradores, os NFTs são uma forma de proteger os seus ativos, já que uma obra criada em NFT é o que garante ao comprador que o item é único e exclusivo. Além disso, existe uma tendência mundial em torno dos NFTs, sendo assim, muitos investidores estão adquirindo obras e mídias digitais, montando carteiras de obras que poderão sofrer grandes valorizações no futuro.
Como funciona?
De forma simplificada, NFTs são tokens gerados a partir de uma blockchain, da mesma forma que bitcoins, os NFTs são criados virtualmente e protegidos pela dinâmica de funcionamento da blockchain, sendo assim o registro não pode ser modificado, porque esse consenso inerente à blockchain garante a integridade e a exclusividade dos tokens gerados.
Isso significa que “copiar e colar” uma arte digital, não significa que a pessoa será a proprietária da mesma, uma vez que a obra já possui um registro único.
Contexto cada vez mais digital
Bel entende que por ter sempre focado em obras físicas ao longo de sua carreira, está agora tendo de se adaptar a um contexto cada vez mais digital.
“Eu sou de uma era física, mas o universo está se transformando em digital. Então é um momento de muita reflexão para mim, porque estou vendo pela janela o mundo mudando e de repente ouço falar sobre novos conceitos como NFT e criptomoeda.”
Bel Borba
Evento 100% brasileiro
Caroline Nunes, CEO da InspireIP, empresa organizadora do evento em parceria com a Nordeste Leilões, conta que a ideia de fazer o primeiro leilão de NFT 100% brasileiro teve como inspiração um evento fora do país. Em abril deste ano, a famosa casa de leilão Sotheby’s conseguiu arrecadar cerca de 10 milhões de dólares, aproximadamente R$ 52 milhões, em conversão direta, em obras de arte em NFT em apenas 15 minutos.
“É a primeira vez que a gente trabalha em leilões digitais em NFT. Mas nossa empresa já faz registros de arquivos no formato de Blockchain, protegendo a propriedade intelectual de marketplaces de NFT através desta tecnologia.”
Caroline Nunes
Caroline acredita que a inclusão desta tecnologia de certificação digital nas transações que envolvem obras de arte vai valorizar cada vez mais os artistas, isso porque eles vão poder afirmar que elas são únicas e, a partir disso, comercializá-las por valores cada vez maiores. “O NFT é bastante flexível. A gente ainda não viu nem 10% do que esta tecnologia é capaz de proporcionar”, afirma.
O leilão em NFT 100% brasileiro é uma iniciativa da empresa InspireIP Collectibles em parceria com a Nordeste Leilões. O valor inicial de venda é de R$ 3.200 e os lances podem ser feitos pela internet do dia 5 de junho até o dia 12 de junho.
Arte imaginária
Após o sucesso da arte digital em NFTs, uma nova tendência pode estar chegando ao mundo artístico, a arte imaginária. O primeiro adepto dessa nova escola é o artista italiano Salvatore Garau, que levou a leilão e vendeu pela a arte por 15 mil euros (R$ 92,30 mil) uma escultura imaterial feita por ele. Porém, a obra é imaterial, ou seja, existe apenas na cabeça de seu autor.
O leilão foi realizado pela galeria Art-Rite, localizada na cidade italiana de Milão. Segundo Garau, o fato de leiloar uma obra que não existe no mundo real aconteceu por conta de uma natureza diferente de tudo que tem sido feito por artistas desde o início do século passado.
“O conceito das minhas esculturas é completamente diferente das provocações de Marcel Duchamp no início do século XX ou da arte conceitual dos anos 1960”, disse o escultor ao Instituto Cultural Italiano de Nova York. “A ausência de matéria é, para mim, um ato de amor para com o desconhecido e o mistério com que quase toda a humanidade está comprometida”.
Não existir é existir
Segundo Garau, o fato de sua escultura não ter uma manifestação física é o que faz dela especial, já que a obra é como quem a vê quiser e pode estar onde essa pessoa quiser.
“No momento em que decidi ‘expor’ uma escultura imaterial num determinado espaço, esse espaço ganhará uma quantidade e densidade de pensamentos num ponto preciso, criando uma escultura que, apenas pelo meu título, assume múltiplas formas.”
Salvator Garau
Salvatore Garau completou dizendo que sua escultura é uma marca dos tempos atuais, em que a fisicalidade é, segundo ele, cada vez mais dispensável, podendo ser substituída pela imagem virtual, como a persona que assumimos nas redes sociais, textos ou a voz, todas essas manifestações que também são imateriais. “A carne e o sangue do nosso ser tem que contar com a ausência, que é por estes dias, a única verdadeira presença”.
Para ter a comprovação de que é o dono da obra imaterial, o comprador, que não teve seu nome divulgado, recebeu um certificado emitido pela galeria, que foi assinado e autenticado pelo autor da obra de arte imaginária.
Com informações do R7 e Olhar Digital