A cada duas horas uma mulher foi assassinada no Brasil, em 2019. A maior parte dos assassinatos são de mulheres negras. É o que revela o Atlas da Violência, publicado nesta terça-feira (31). O estudo foi feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança em parceria com Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea). Ao todo, foram 3.737 vítimas, sendo que 66% delas eram mulheres negras.
Os dados mostram que uma mulher negra tem quase o dobro de chances de ser assassinada do que uma mulher não negra. E seguem o recorte racista dos homicídios no país.
Isso porque o mesmo estudo revelou que nos últimos dez anos, uma pessoa negra teve ao menos duas vezes mais riscos de ser assassinada do que qualquer outra no Brasil. Em 2019, essa diferença foi a segunda maior registrada no período: 2,6 vezes. Naquele ano, negros foram 75,7% das vítimas de homicídios no Brasil e eram 56,8% da população.
Atlas da Violência resultado de um demorado exame dos atestados de óbitos nacionais produzidos pelo sistema de saúde.
Mortes caíram, mas assassinatos de mulheres negras aumentou
Em 11 anos, o índice de letalidade entre mulheres caiu, enquanto que a desigualdade racial dar mostras de ter aumentado.
Se em 2009 a taxa de mortalidade de mulheres negras era 48,5% maior do que não negras, em 2019, esse indicador passa a ser 65%. Nesse mesmo intervalo, homicídios femininos entre não negras teve uma queda de 27%, enquanto que para negras houve um aumento de 2%.
Além disso, se por um lado, houve uma redução de 21,5% nos números de homicídios de mulheres, as mortes violentas por causa indeterminada subiram 21,6% em relação a 2018.
Existem 3.756 casos de mortes violentas envolvendo mulheres por causas desconhecidas. Ou seja, que podem ser resultado de homicídio, de feminicídio, suicídio ou mesmo de um acidente.
Diagnóstico dos assassinatos
Há duas formas de apurar a taxa de homicídios no Brasil, uma delas é pelo sistema de Saúde, por meio dos atestados de óbitos de cada estado e a outra pelo sistema de Segurança Pública, com os boletins de ocorrência.
Pela lente da Saúde, não é possível dizer se uma mulher foi vítima de um latrocínio ou um feminicídio – ou seja, em decorrência da discriminação de gênero, pelo fato de ser mulher. Não há nos atestados de óbitos esse tipo de análise.
Ainda assim, há alguns indicadores de que muitas dessas mortes possam se tratar de feminicídios.
Do total de homicídios femininos, 33% (1.246) deles ocorreram dentro das residências. O mesmo intervalo utilizado como referência, entre 2009 e 2019, mostra que houve um crescimento de assassinatos contra elas dentro de casa.
Com informações de Marie Claire