Há dois anos a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para cultivo de cannabis medicinal para pesquisa. A denúncia sobre a demora foi feita pelo deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ) pelas redes sociais.
Minc rememorou que, em 2019, durante uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) sobre cannabis medicinal, a Fiocruz manifestou intenção em realizar o cultivo da erva para fins de pesquisa.
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Todavia, naquela época, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) barrou o andamento da autorização para pesquisa da Fiocruz pela Anvisa. Terra, que é médico, na ocasião era ministro da Cidadania, cargo que ocupou até fevereiro de 2020.
Em tempos de Covid-19, Minc acredita que o momento é oportuno para retomar a intenção da Fiocruz. “Deverá ser mais difícil se dizer não à ciência”, avalia o socialista.
Regulamentação de cannabis medicinal é de 2019
A Anvisa aprovou no final de 2019 um novo regulamento para produtos medicinais derivados da cannabis sativa. As regras autorizam a venda desses medicamentos no país, mas vetam o cultivo da planta. O texto estabelece os requisitos para a regularização e os parâmetros de qualidade para os produtos da maconha medicinal. As regras passaram a valer em março de 2020.
A cannabis medicinal já é usada em diversos tratamentos, aliviando dores e proporcionando maior qualidade de vida a pacientes com doenças como câncer, dor crônica, epilepsia e glaucoma.
A grande maioria dos medicamentos produzidos a partir da maconha tem como principal substância o canabidiol (CBD), elemento da cannabis com propriedades analgésicas e relaxantes.
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Desde 2020, os remédios passaram a ser vendidos nas farmácias, com prescrição médica, e os produtos com concentração de tetra-hidrocanabidiol (THC), a substância psicotrópica da maconha, acima de 0,2% só poderão ser prescritos para pacientes terminais ou que tenham esgotado outras alternativas de tratamento.
Cannabis no tratamento da Covid-19
Um novo estudo realizado por cientistas ligados à Universidade de Chicago, nos EUA, utilizou o óleo derivado da cannabis e indica que o medicamento pode interromper a disseminação da Covid-19 nas células pulmonares, e até mesmo inibir a contaminação pelo coronavírus.
Com o título ‘Canabidiol inibe a replicação da SARS-Cov-2, causador da Covid-19, e promove a resposta inata imune do hospedeiro’ em tradução livre, o estudo foi publicado no servidor científico bioRxiv, e aponta diversos outros benefícios que o uso da maconha medicinal pode trazer no combate ao vírus.
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A notícia ainda aguarda revisão de pares científicos para comprovação, mas as perspectivas do uso da maconha medicinal no combate à Covid-19 são bastante positivas – com o CBD inibindo a expressão do vírus no pulmão e revertendo muitos efeitos da doença no corpo.
“Nossos resultados sugerem que o CBD é capaz de bloquear a infecção da SARS-CoV-2 em seus estágios iniciais, e que o uso do CBD está associado a um risco menor da infecção entre os seres humanos.”
Estudo da Universidade de Chicago, EUA
Falta confirmação científica para cannabis contra Covid-19
É importante frisar que não há ainda nenhum tratamento preventivo de benefício comprovado da cannabis contra a Covid-19. O uso de medicamentos sem o aval científico pode ser fatal – a pesquisa com o CBD é promissora, mas ainda carece de novos experimentos e testes, sugeridos pela própria publicação.
“Estudos futuros capazes de explorar os efeitos do CBD nos pacientes junto de testes clínicos serão necessários para compreender totalmente o uso do CBD como terapêutico para bloquear a infecção pelo SARS-CoV-2.”
Estudo da Universidade de Chicago, EUA
Com informações da Fiocruz