Levantamento mostra que 83% dos profissionais com ocupação nos setores artísticos, culturais e criativos estão aptos a receber o benefício da renda básica emergencial aprovada pelo Congresso Nacional.
A crise do coronavírus acertou em cheio o setor que tinha nos encontros presenciais, celebrações sociais, eventos artísticos e culturais a principal fonte de renda.
O dado é de um levantamento preliminar feito pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC-Bahia) que mediu os “Impactos da covid-19 na Economia Criativa”, a partir das percepções de 195 organizações e 321 profissionais do setor.
Para o resultado apresentado, foram entrevistados 240 profissionais de áreas como educação, produção cultural e artística, música, comunicação e artes cênicas.
Quando o recorte é sobre os rendimentos, 72,7% se enquadram nos critérios para obter o auxílio do governo, que é voltado para trabalhadores informais; os que tenham contrato intermitente inativo; autônomos (conta própria) e microempreendedores individuais (MEI).
Os percentuais mostram o quão afetada foi a Economia Criativa pela pandemia do novo coronavírus.
A perda de receita, para alguns, tem sido devastadora. Muitos dos entrevistados declararam depender de empréstimos bancários ou da solidariedade de amigos, familiares e alunos para se manterem durante a crise.
Para receber a renda básica emergencial, também é necessário ter renda familiar mensal inferior a meio salário mínimo per capita ou três salários mínimos no total, e que não tenha recebido rendimentos tributáveis acima de R$28.559,70, em 2018.
Como alertou o biólogo Átila Iamarino, “o mundo não será como antes”. Mas mesmo sendo o setor que mais mantém os olhos voltados para a vanguarda das novas práticas econômicas, a Econômica Criativa foi surpreendida pelos efeitos do covid-19.
Pensar saídas inovadoras no contexto de restrições e baixa mobilidade econômica desafia os setores da economia a superar, em tempo exíguo, os danos causados pela pandemia.
Estratégias e expectativas
Com o entretenimento e as atividades formativas sofrendo retrações, muitos dos profissionais encontram nas estratégias digitais e saída mais adequada.
A pesquisa mostra que esse tem sido o recurso mais usado tanto por organizações, como por Microempreendedores Individuais, trabalhadores autônomos e informais do setor.
Solução para evitar aglomerações de pessoas, o domínio de ferramentas digitais também floresce como uma necessidade dos novos tempos. Outra necessidade, de acordo com as expectativas do entrevistados, é a ampliação de linhas de crédito e oferta de serviços voltados para trabalhadores remotos.
Por outro lado, as organizações apostam em uma alta em relação a treinamento e contratação de especialistas.
Do limão à limonada
A notícia animadora está na postura assumida por empresas e indivíduos que, segundo o levantamento, investem em tempo e planejamento para desenvolver novos projetos, produtos e serviços, revisando custos e estratégias de atuação.
No estudo, organizações disseram estar abertas em relação a mudanças nas tarefas e formas de trabalho das equipes, além de assumirem a possibilidade de criação de novas formas de receita.
Exemplo disso são a campanhas de crowdfunding e antecipação de venda de ingressos.
Indicando estarem atentos às mudanças, na pesquisa trabalhadores autônomos a informais mencionaram a possibilidade de mudar a ocupação principal como forma de adaptação ao momento.
Temporalidade
Quanto à duração dos impactos na receita, 54% dos indivíduos e 49% das organizações acreditam que podem durar até 4 meses. Um percentual menor, mas significativo, acredita que as receitas serão afetadas para além de 2020: 7,5% dos indivíduos e 18% das organizações.
Confira o gráfico “Tempo estimado sobre a diminuição de receita”
O levantamento é preliminar e sua primeira fase foi realizada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Bahia, este último concentrou 50% de respostas.
Os questionários foram realizados durante o período de 27/03/2020 a 08/04/2020.
O Observatório de Economia Criativa da Bahia (OBEC-BA) foi instituído em 2014. A iniciativa tem a coordenção do Prof. Dr. Messias Bandeira (UFBA) e é voltada para o desenvolvimento de iniciativas de ensino, pesquisa e extensão no campo da cultura e da economia criativa. Sediado no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia (IHAC/UFBA), o OBEC-BA reúne docentes, discentes e técnicos da UFBA, da UFRB, da UNEB, bem como de outras instituições públicas, como a Secult, com experiências multidisciplinares.
Veja abaixo o inteiro teor do estudo: