De acordo com levantamento do Repórter Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu empréstimos para fazendeiros que foram flagrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desmatando a Amazônia. Os financiamentos foram operados pelo banco John Deere, que é o braço financeiro da fabricante de máquinas que o controla e que vendeu os tratores.
Dessa maneira, o BNDES e o John Deere financiaram R$ 28,6 milhões em maquinários para cinco produtores com embargos em seu nome emitidos pelo Ibama por desmatamento.
Uma resolução do Banco Central do Brasil veda a concessão de crédito rural para propriedades na Amazônia sobre as quais recaem embargos, mas não coloca restrições para que os donos dessas áreas obtenham empréstimos para outras fazendas.
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Ainda de acordo com o levantamento do Repórter Brasil, entre os casos levantados há empréstimos destinados a locais onde o produtor possui apenas uma apenas propriedade e que está embargada. Além disso, há financiamentos para produtores que deram calote no Ibama.
Onze fazendeiros que compraram as máquinas John Deere acumulam um total de R$ 31,4 milhões em multas ambientais que nunca foram pagas. O montante dos empréstimos feitos pelo BNDES (R$ 39,7 mi) daria para quitar as dívidas com sobra.
O BNDES afirmou que exige dos tomadores de crédito “declarações em que se ateste a inexistência na modalidade indireta automática, como é o caso” e que a responsabilidade de verificar as exigências é do banco parceiro, neste caso, do John Deere.
Falta transparência
O Repórter Brasil tentou levantar a legalidade dos empréstimos a fazendeiros desmatadores concedidos pelo BNDES e operados pelo banco John Deere, mas não obteve sucesso, pois, o banco não quis fornecer o número do Cadastro Ambiental Rural (CAR), dispositivo utilizado para solicitar financiamento. Sem ele não é possível confirmar se a resolução do Banco Central foi ou não respeitada.
Os beneficiados são: Alexandra Aparecida Perinoto. Total financiado: R$ 11.363.500. Destino do financiamento: Cláudia/MT e Marcelândia/MT. Embargos: Cláudia/MT e Marcelândia/MT.
Antonio Domingos Debastianne. Total financiado: R$ 10.943. Destino dos financiamentos: Felizx Natal/MT. Embargos: Feliz Natal/MT
Antonino Ori Toqueto. Total financiado: R$ 1.349.424. Destino dos financiamentos: Lucas do Rio Verde/MT. Embargos: Terra Nova do Norte/MT.
Milton Casari. Total financiado: R$ 4.718.875. Destino dos Financiamentos: Alta Floresta/MT e Paranaíta/MT. Embargos: Paranaíta/MT.
Rosalino Gallo. Total financiado: Total financiado: R$ 235.450. Novo Horizonte do Oeste/RO. Embargo: Alta Floresta D’Oeste/RO.
John Deere e o mercado brasileiro
A política de crédito agrário brasileira e a importância do agronegócio no Brasil (em 2020, o setor respondeu por 26,6% do PIB) fez do país o segundo mercado mais importante para John Deere, líder mundial em equipamentos agrícolas.
A empresa americana tem entre seus investidores o fundador da Microsoft Bill Gates, que possui 9,3% das ações da companhia.
A Black Rock, gestora de investimentos, que em 2020 anunciou que se afastaria de investimentos danosos ao meio ambiente, também possui participação na John Deere.
Com Marcelo Hailer