
Bolsonaristas intensificam a onda de violência contra qualquer pessoa que entendam ser uma ameaça – real ou imaginária – aos planos golpistas de Jair Bolsonaro (PL). Um bolsonarista identificado como Rafael Bianchini agrediu um pesquisador do instituto Datafolha na tarde desta terça-feira (20) em Ariranha (SP). O trabalhador estava em campo, fazendo entrevistas para pesquisa eleitoral, quando foi intimidado, agredido e ameaçado com um facão pelo apoiador de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a Folha de S. Paulo, Bianchini se aproximou do pesquisador quando ele finalizava uma entrevista com outra pessoa aos gritos de “só pega Lula” e “vagabundo”. Ele foi golpeado pelo bolsonarista com chutes e socos e, quando tentou reagir, o filho de Bianchini também passou a agredi-lo.
Vizinhos intercederam para acabar com as agressões e, então, o bolsonarista entrou em sua casa, pegou uma peixeira (facão de cortar peixes) e ameaçou o entrevistador.
O caso foi registrado na delegacia de Ariranha e o delegado Gilberto Cesar Costa afirmou que todas as providências necessárias foram determinadas, como a oitiva dos envolvidos. O pesquisador ficou ferido na cabeça, costas e braços e precisou ser atendido em um pronto-socorro.
“O pesquisador estava desempenhando seu trabalho e foi covardemente agredido fisicamente. Nada justifica qualquer tipo de agressão. Estamos acompanhando um aumento da hostilidade em relação aos pesquisadores e isso é muito preocupante”, disse Luciana Chong, diretora do Datafolha.
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Violência de bolsonaristas contra pesquisadores
O Datafolha informou, na última semana, que pelo menos 10 de seus 470 pesquisadores foram hostilizados de maneira grave apenas na terça-feira (13), enquanto realizam entrevistas para o levantamento que foi divulgado na quinta-feira (15).
Os casos foram registrados em oito estados da federação: São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e em alguns episódios a situação saiu “apenas” da intimidação.
Em Goiânia, um entrevistador foi empurrado por um bolsonarista que ordenou que ele saísse daquela região, enquanto num município do interior do Rio Grande do Sul um membro da equipe do instituto foi abordado por um PM, que teria informado que o conduziria até uma delegacia.
No entanto, no caminho, o policial parou a viatura para interrogá-lo e intimidá-lo, desistindo da ideia de apresentá-lo no distrito, largando o funcionário numa outra área do município.
Diretora geral do Datafolha, Luciana Chong disse à reportagem da Folha de S.Paulo que as ocorrências mais comuns são eleitores que passam xingando e gritando para os pesquisadores, acusando instituto de ser “comunista”, e intimidando as equipes para que saiam do local onde estão trabalhando.
Ela informou ainda que o registro desse tipo de ocorrência aumentou demais após o feriado do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro, que foi sequestrado por Bolsonaro e transformado em ato político com forte discurso de ódio e de incitação à violência.
Há um mês, ainda em agosto, um caso grave já tinha ocorrido em Belo Horizonte (MG). Quatro homens correram atrás de uma pesquisadora, gritando que ela e o Datafolha era comunistas e tentando tomar o tablet usado para computar os dados do levantamento. Na fuga, apavorada, a mulher caiu no chão e acabou se ferindo.
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Bolsonarista tenta agredir vereador do PT com cabeçada durante panfletagem
O policial civil e vereador Leonel Radde (PT-RS), candidato a deputado estadual, denunciou através das redes sociais, nesta quarta-feira (21), que um bolsonarista tentou agredi-lo durante uma panfletagem na região central de Porto Alegre.
À Fórum, Radde disse que entregou um panfleto de sua candidatura ao homem, disse “Lula presidente” e “Edegar governador”, ao que o bolsonarista passou a ofendê-lo. “Mandou eu tomar no c*, disse que eu sou o policialzinho que trocou de lado”, descreveu o petista. Depois, segundo o vereador, o homem tentou atingi-lo com uma cabeçada.
“Fui atrás dele e pedi para ele se identificar, entrou a turma do ‘deixa disso’ e ele fugiu”, narrou Radde, que ainda tenta identificar o homem para tomar as providências cabíveis.
Segundo o vereador, o mesmo bolsonarista, pouco tempo antes, havia tentado agredir mulheres que faziam campanha para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) em outro espaço na região central da capital gaúcha.
Confira a denúncia
Bolsonarista divulga vídeo atirando em alvo com imagem de Lula
Um empresário bolsonarista de Santa Catarina postou um vídeo em seu perfil no Instagram atirando com um fuzil num alvo em que aparece a imagem do ex-presidente Lula (PT). Luiz Henrique Crestani divulgou o arquivo, sob o título “Quem é o ladrão”, no qual aparece ao lado da esposa, perguntado de forma irônica “Qual que é o ladrão? Estou na dúvida. Vamos ver onde a arma pega”, momento em que ri, antes de disparar com a carabina automática.
O perfil de papelão usado como alvo tem a silhueta de duas pessoas, com uma legenda “Atire no ladrão” acima. No rosto do personagem que seria o criminoso, Crestani colocou uma imagem de Lula. “Agora não sei qual que é o ladrão aqui. Pegou tiro em tudo que é lado. O ladrão é o de lá ou de cá? Bota aí nos comentários”, diz novamente, fazendo troça e estimulando os internautas a interagirem com a publicação de ódio.
Crestani tirou o vídeo do ar momentos depois de publicá-los, possivelmente prevendo que teria problemas legais por estimular um comportamento ilegal e condenável, mas internautas já tinha capturado as imagens, que acabaram se tornando o mais novo episódio de violência política por parte dos seguidores fanáticos de Jair Bolsonaro.
Com 18 mil seguidores no Instagram, Crestani diz em sua descrição na rede que é “empreendedor anormal, patriota e dono do Luke Group”, uma empresa de logística e engenharia, mas que também atua no ramo de restaurantes e clubes de tiro. Ele também se assume abertamente bolsonarista e publica críticas muito agressivas contra o PT.
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Questionado pela reportagem do jornal carioca O Globo, o seguidor de Bolsonaro “não é favor da violência e nem de agressões a quem quer que seja e que tirou o vídeo do ar para que não gere repercussão para além do que foi concebido”. Sobre o alvo com a imagem de Lula, ele se defendeu dizendo que “está restrito às atividades internas e não deve ser entendido com qualquer outra conotação, sendo apenas usado em caráter recreativo, sem cunho político”, seja lá o que isso signifique.