Pessoas que vão trabalhar como mesários nas eleições deste ano relatam que o clima armamentista e de ataque ao sistema eleitoral do país promovido por Jair Bolsonaro (PL) têm feito com que sintam medo de exercer a função que ajuda a garantir o direito ao voto.
Matéria da Folha mostrou que muitos mesários têm sentido medo de trabalhar nestas eleições, especialmente, após a morte do guarda municipal e tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, assassinado em sua festa de aniversário, em Foz do Iguaçu (PR) pelo agente penitenciário e apoiador Bolsonaro, Jorge José da Rocha Guaranho.
Somado a eles, observadores que pedem ações de prevenção ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) medidas que garantam a segurança nas eleições. Cerca de 2 milhões de mesários voluntários e convocados atuarão nestas eleições, de acordo com a Justiça Eleitoral.
“Estou inclinado a não trabalhar como mesário, pois nada me tira da cabeça que bolsonaristas invadirão as seções eleitorais e abrirão fogo contra os mesários”, escreveu o antropólogo Verlan Valle Neto, 43, em carta publicada no Painel do Leitor, da Folha, no mês passado.
Ao jornal, ele afirma que torce para estar enganado, mas acredita que casos de violência devem acontecer, mesmo que não seja generalizada.
“Não vislumbro eleitores de quaisquer outros candidatos, tanto à direita quanto à esquerda, como uma possível ameaça ao trabalho dos mesários. Só vejo isso no caso dos extremistas de direita, cujo vínculo com Bolsonaro, todos sabemos, é profundo”, disse.
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Afronta à Lei
Se em 2018 foram inúmeros os relatos e fotos de eleitores que foram armados votar, com os constantes ataques ao sistema eleitoral e a disseminação de mentiras sobre as urnas eletrônicas, o clima este ano está muito mais pesado.
Em mais uma afronta à Lei, Bolsonaro teve o disparate de incentivar seus eleitores a filmarem as urnas e as cabines de votação, o que é proibido.
Também à Folha, o analista de marketing Erick Lima, 28, disse ter medo do “fanatismo político” dos bolsonarista.
“Querendo ou não, já aconteceu um caso de assassinato político, e é isso o que vem me assustando”, diz ao lembrar do assassinato de Marcelo Arruda.
Pesquisa do Instituto Ideia, publicada em maio, confirma o temor de trabalhar nas eleições. Um em cada três entrevistados relatou medo de sofrer ataques e 70% disseram que o TSE deve intensificar a segurança.
O levantamento ouviu 651 mesários, entre os dias 28 de abril e 5 de maio. A margem de erro da pesquisa é de 2,85 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Integridade física
A Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral endossou ao TSE a preocupação com a segurança de quem vai trabalhar nas eleições e pediu tribunal “efetivo planejamento” para garantir a integridade física de servidores e mesários.
No documento, a entidade destaca os “discursos de ódio proferidos pelo presidente da República e seus seguidores” e a “flexibilização sem precedentes na concessão de registros de armamentos” levam a “um contexto altamente preocupante”.
Por isso, querem a suspenção do porte de armas e o fechamento de clubes de tiro nos dias próximos às eleições.